“Achara um de seus triunfos na vida da cidade, nos primeiros dias de adaptação, o ter conseguido orientar-se sozinho, com os nomes de bairros e números de linhas dos circulares e, alegre, com algum dinheiro para gastar, percorrer muitos trajetos, retornando sempre ao terminal no centro, feito fosse sempre necessário isso—os círculos bem descritos, as referências precisas—para que, aos poucos fosse se apossando do novo território”.
O estranho no corredor, de Chico Lopes, é um livro instigante, narrado por uma consciência atormentada que confere ao texto uma atmosfera densa. A narrativa desperta reflexões profundas sobre o aprisionamento que é de ordem interna.
Conta a história de um homem solitário, cujo desejo é tornar-se um escritor, mantém um estilo de vida discreto, sobrevivendo com precariedade como professor em uma pequena escola de inglês. O protagonista divide parte de seu tempo livre com o diário no qual resgata e anota memórias de infância, parte com um círculo de conhecidos. Eis que com recorrência passa a aparecer-lhe uma figura masculina ameaçadora, que o persegue, ritmando o tempo da narrativa com seus passos, de “uma musicalidade escura”.
O livro ganhou o Prêmio São Paulo de Literatura em 2012, na categoria de Autor estreante. Continue lendo