Arquivo da tag: Viviana Bosi.

matraca

Autorretrato num espelho convexo

5 março, 2015 | Por Isabela Gaglianone

John Ashbery

John Ashbery é conhecido por uma poética do estranhamento, que explora o lirismo das incoerências e descontinuidades do fluxo da vida. A professora Viviana Bosi, no belo estudo John Ashbery – Um módulo para o vento, analisa essa poesia, que movimentando-se entre o padronizado e a impermanente, capta a experiência em sua velocidade e inapreensibilidade. A reflexão de Viviana fundamenta-se sobretudo na sua tradução para o português do longo poema “Autorretrato num Espelho Convexo”, escrito em 1975 e considerado texto emblemático da pós-modernidade.

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Artes Plásticas

Retrospectiva contemporânea: sobre arte e tempo

10 março, 2014 | Por Isabela Gaglianone

Um livro dedicado a realizar uma retrospectiva do trabalho da artista plástica Laura Vinci. Dedicada ao desenvolvimento de instalações desde 1997, a artista tem como um dos fios condutores de seu trabalho reflexões sobre o tempo e a transitoriedade, quer da própria matéria, quer enquanto reflexão histórica e consequente maneira de pensar a contemporaneidade.

Editado pela Coscnaify, o livro apresenta, além das monumentais instalações exibidas em importantes museus e centros culturais, também as mais relevantes intervenções feitas pela artista em espaços públicos. Laura Vinci enfatiza a transitoriedade presente nos trabalhos através de legendas aos registros fotográficos; Continue lendo

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matraca

Lirismo dessacralizante

6 janeiro, 2014 | Por Isabela Gaglianone

A poeta Ana Cristina César teve uma vida breve. Foi, ainda assim, uma das mais importantes representantes da poesia marginal que florescia na década de 1970. Deixou uma obra híbrida de prosa e poesia, equilibrada entre o ficcional e o autobiográfico. Apesar de identificada à poesia marginal, sua lírica é independente, dessacralizante, espontânea: Ana Cristina César reverte os procedimentos comuns ao grupo e critica-os a partir de seu próprio âmago. Seu espaço literário simula o discurso confessional a partir de falsas correspondências e diários, alcança o tom coloquial parodiando textos da tradição literária. Além de poeta, foi também ensaísta e tradutora. Desde a vida universitária, participou ativamente da cena cultural carioca e do movimento da poesia marginal, conviveu com poetas como Cacaso (1944 – 1987) e intelectuais como Heloísa Buarque de Holanda (1939). Colaborou em diversas publicações, com destaque para Beijo, importante periódico de cultura, com sete números impressos, cujo processo ela acompanhou desde a criação. Suicidou-se aos trinta e um anos – atirou-se pela janela do apartamento dos pais, no oitavo andar de um edifício da rua Tonelero, em Copacabana. Sua obra estava há décadas fora de catálogo e, agora adquirida pela Companhia das Letras, volta a ser publicada, num volume único que compila desde os volumes independentes do começo da carreira aos livros póstumos: Poética reúne Cenas de abril, Correspondência completaLuvas de pelicaA teus pésInéditos e dispersosAntigos e soltos, uma seção de poemas inéditos. A edição ainda conta com texto de posfácio escrito pela professora Viviana Bosi e um farto apêndice. A curadoria editorial e a apresentação couberam ao também poeta, grande amigo e depositário da obra de Ana Cristina, Armando Freitas Filho.

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Crítica Literária

Rubens Rodrigues Torres Filho .parte I.

17 maio, 2013 | Por Isabela Gaglianone

poema semipronto*

Dante fez o que quis.
–  –  –  Beatriz.

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*) Adicionar água e levar a fogo brando.

A arqueologia da palavra é tarefa compartilhada pelo filósofo e pelo poeta. “As palavras são símbolos que postulam uma memória compartilhada”, segundo Borges. Trabalho minucioso, do espírito e da letra. E se acontece-lhe ser feito na poesia escrita por um filósofo, como o é Rubens Rodrigues Torres Filho, ganha um polimento ambivalente porém exato, um humor fino que permite-se chegar a vocábulos eruditos ou expressões coloquiais com a mesma facilidade – e com a mesma ironia.

Poeta solitário, alheio a escolas, grupos ou modismos, mesmo porque a poesia foi-lhe tarefa secundária – quase um capricho, segundo o poeta Cacaso (Antônio Carlos de Brito) – em relação à filosofia, seu objeto de estudo e interesse primeiro. Rubens foi professor de filosofia moderna na Universidade de São Paulo, especialista na filosofia de Fichte – a respeito da qual escreveu uma notória tese, O espírito e a letra: a crítica da imaginação pura em Fichte –, comentador da filosofia alemã, sobretudo dos períodos conhecidos como o Idealismo e o Romantismo, profícuo tradutor de obras de autores como Nietzsche, Novalis, Benjamin, Adorno, Schelling, Kant e Fichte. Nos trabalhos filosóficos vemos sua poesia – a sua articulação de uma brincadeira com a hermenêutica das palavras – em germe. Suas traduções já possuem o cuidado preciso com as palavras, equilibradas como numa escultura; seus comentários de filosofia, o humor irônico que lhe é peculiar.
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