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lançamentos

Os fuzis e as flechas

17 março, 2017 | Por Isabela Gaglianone

Abertura da Transamazônica em 1970

Os fuzis e as flechas, do jornalista Rubens Valente, é uma investigação jornalística acerca de centenas de mortes de indígenas durante a ditadura militar no Brasil (1964-1985). Para compor os dados e histórias apresentados, o autor entrevistou oitenta pessoas, entre índios, sertanistas, missionários e indigenistas, percorreu 14 mil quilômetros de carro, esteve em dez estados e dez aldeias indígenas do Amazonas, Mato Grosso do Sul e Minas Gerais; também recorreu a milhares de páginas coletadas em arquivos de Brasília, São Paulo e Rio de Janeiro. Como resultado da vasta pesquisa, que durou dez anos, o livro, que acaba se ser publicado pela Companhia das Letras, traz à tona registros inéditos de erros e omissões que levaram a tragédias e extermínio de tribos inteiras.

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Literatura

Não falei

19 maio, 2015 | Por Isabela Gaglianone

“Se fosse possível um pensamento sem palavras ou imagens, inteiro sem tempo ou espaço, mas por mim criado, uma revelação do que em mim e de mim se esconde e pronto está, se fosse possível que nascesse assim evidente e sem origem aos olhos de todos e então, sem esforço do meu sopro – tom de voz, ritmo e hesitação, meus olhos –, surgisse como pensamento de cada um, ou ainda, uma coisa, mais que um pensamento, uma coisa assim fosse possível existir, eu gostaria de contar uma história”. 

gravura de Evandro Carlos Jardim

gravura de Evandro Carlos Jardim

Não falei, romance de Beatriz Bracher publicado em 2004, é um livro denso, humana e politicamente. Nele, acompanhamos a narrativa em primeira pessoa de um professor universitário, em vias de mudar-se de São Paulo para São Carlos. A voz masculina dá corpo a uma reflexão, a um só tempo histórica e familiar, sobre a ditadura militar no Brasil, sobre as rodas de chorinho em que o pai tocava flauta, o café no balcão da padaria, os jogadores da seleção de Pelé; perpassando um sentimento de esvaziamento paulatino de utopias.

A mudança de cidade desencadeia no narrador uma série de reflexões, sobre a história, seu passado, as impossibilidades, despertadas pela retumbante memória de quando tinha 24 anos, em 1964: “Vejam então. Fui torturado, dizem que denunciei um companheiro que morreu logo depois nas balas dos militares. Não denunciei, quase morri na sala em que teria denunciado, mas não falei. Falaram que falei e Armando morreu. Fui solto dois dias após sua morte e deixaram-me continuar diretor da escola”.

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