Arquivos da categoria: lançamentos

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Unidos, venceremos

19 outubro, 2016 | Por Isabela Gaglianone

Amilcar de Castro

São inúmeros os casos de conflitos, conspirações sórdidas, traições sujas e confrontos armados entre marxistas e anarquistas. Porém, em Afinidades revolucionárias: nossas estrelas vermelhas e negras – Por uma solidariedade entre marxistas e libertários, Olivier Besancenot e Michael Löwy buscam, justamente, salientar a solidariedade histórica entre militantes anticapitalistas de todas as vertentes.

O livro foi publicado pela Editora Unesp, com tradução de João Alexandre Peschanski e Nair Fonseca, e será lançado pelos autores no próximo dia 24. O lançamento, promovido pela Editora Unesp em parceria com a Fundação Rosa Luxemburgo, promoverá um debate, que além de Löwy e Besancenot, contará com pensadores de esquerda como Isabel Loureiro, Fabio Mascaro Querido, Francisco Foot Hardman. O evento acontecerá na segunda-feira, às 19h, no auditório da Editora Unesp [Praça da Sé, 108]. Continue lendo

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Consciência social da morte

29 setembro, 2016 | Por Isabela Gaglianone

gravura de Frederik Ruysch, 1744 [National Library]

Originalmente publicado em 2007, Uma história social do morrer, do médico e sociólogo Allan Kellehear, foi recentemente lançado no Brasil, com tradução de Luiz Antônio Oliveira de Araújo, pela editora Unesp. O livro insere-se em uma zona híbrida de encontro entre ciências médicas e biológicas com história cultural e sociologia. Trata-se da maior revisão das ciências clínicas e humanas sobre a conduta humana da morte.

A abordagem histórica do livro perspectiva nossas recentes percepções de mortes por câncer ou doenças terminais em um contexto ampliado, histórica, epidemiologica e globalmente. Seu exame começa com o início da consciência da mortalidade, na Idade da Pedra. Passa pela preparação para a morte nas aldeias rurais das culturas de assentamento e pela gestão do processo da morte por profissionais terceirizados nas cidades. Por fim chega à Era Cosmopolita, nossa era globalizada, em que o morrer se configura cada vez mais como um ato vergonhoso, trágico e antissocial. Assim, para o autor, o comportamento que conhecemos e temos diante da morte atualmente vem sendo construído ao longo de milhares de anos.

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O homem sem doença

28 setembro, 2016 | Por Isabela Gaglianone

“Após o banho, senta-se no chão de pernas cruzadas, diante da janela, para olhar a vista da cidade. Já não sabe se deve estar satisfeito ou insatisfeito, se deve estar feliz ou se abandonar ao pressentimento de tristeza que se situa em algum ponto de seu íntimo. Como quando se sente uma forte vontade de fazer xixi, mas não sai nada: tal é a sua tristeza.”

gravura de Paul Klee [água-tinta]

O aclamado escritor holandês Arnon Grunberg encerrou neste domingo o ciclo de encontros e conversas com o público que realizou em São Paulo e Santos para o lançamento de O homem sem doença, agora publicado no Brasil pela editora Rádio Londres, com tradução de Mariângela Guimarães.

O romance é um impiedoso ato de acusação contra o idealismo e a hipocrisia do Ocidente. Característica comum nos romances de Arnon Grunberg, a um só tempo diverte e choca o leitor.

Como bem disse o escritor e crítico Carlos Schroeder, em sua coluna de literatura no jornal Diário Catarinense: O homem sem doença é uma crítica ao mesmo tempo trágica e cômica à época em que vivemos, com profundas reflexões sobre justiça, humilhação, falso senso de segurança e os excessos da arquitetura moderna. Mais um grande livro deste autor contundente e indispensável”.

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Guia de Leitura

Os sertões – as raízes continuam vivas

26 setembro, 2016 | Por Isabela Gaglianone

Na primeira metade do século XX foi produzido um conjunto de obras fundamentais, formadoras da ideia de Brasil e do que é ser brasileiro, que até hoje reverberam na atualidade nosso pensamento contemporâneo.

Os sertões, publicado originalmente em 1902, Casa-grande & senzala, cuja primeira edição é de 1933, e Raízes do Brasil, publicado em 1936, permanecem como livros clássicos sobre a formação da sociedade brasileira – como “explicadores” do Brasil.

As edições comemorativas, que as três obras ganharam, nos fazem pensar a respeito de sua atualidade e perguntar qual a dimensão de sua influência e força retórica, a despeito das críticas e dos estereótipos por estas críticas criados. As três obras são retrato de lógicas sociais brasileiras, cujas profundas raízes alimentam frutos até hoje.

 

Euclides da Cunha, “O sertões -Edição crítica comemorativa”

Euclides da Cunha escreveu o clássico Os sertões a partir de um trabalho jornalístico sobre a rebelião de Canudos, liderada por Antonio Conselheiro e duramente reprimida pelo governo. Enviado ao sertão da Bahia pelo jornal O Estado de São Paulo, o autor defrontou-se com a realidade de famílias reunidas em torno de um líder messiânico, cujo movimento – vítima e crítico especialmente da precariedade da região – seria, eminentemente, massacrado. Parte da riqueza do livro reside na percepção da mudança de opinião do escritor que, a princípio, movido por um espírito patriótico e republicano, via com repulsa a revolta dos “fanáticos” defensores da monarquia – opinião compartilhada pelo restante da elite letrada, que não tolerava a insurgência do grupo, considerando-a uma ameaça ao projeto civilizatório do Brasil cujo ideal positivista de “ordem e progresso” era o lema. A experiência foi, para Euclides da Cunha, transformadora e teve como fruto um romance social que se tornou uma das maiores obras da literatura brasileira. Baseada em teorias deterministas em voga na época, a obra aborda cientificamente a influência do meio sobre o homem, como mostra a própria estrutura dos capítulos: “A terra”, “O homem”, “A luta”.

A recém criada editora Ubu acaba de publicar uma edição crítica: além do texto estabelecido pela edição crítica de Walnice Nogueira Galvão, o volume traz a reprodução de páginas das cadernetas de campo de Euclides da Cunha e um conjunto de imagens de Flávio de Barros, único registro fotográfico conhecido do conflito. Esta edição comemorativa foi publicada por ocasião dos 150 anos de nascimento de Euclides da Cunha e conta com uma extensa fortuna ensaística sobre a obra euclidiana, trazendo textos de Walnice Nogueira Galvão, José Veríssimo, Araripe Junior, Sílvio Romero, Gilberto Freyre, Antonio Candido, Olímpio de Souza Andrade, Maria Isaura Pereira de Queiroz, Duglas Teixeira Monteiro, Franklin de Oliveira, José Calasans, Antônio Houaiss, Luiz Costa Lima, Roberto Ventura. Continue lendo

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O ateísmo não é tão fácil como parece

22 setembro, 2016 | Por Isabela Gaglianone

“[…] a religião segue a trajetória da arte e da sexualidade, dois outros principais elementos do que poderíamos chamar esfera simbólica. Também tendem a passar da propriedade pública para mãos privadas à medida que avança a Idade Moderna. A arte que outrora louvava Deus, lisonjeava um senhor, entretinha um monarca ou celebrava as proezas militares da tribo passa a ser basicamente uma questão de autoexpressão individual”.

Salvador Dalí, da série de gravuras feitas para ilustração de “A Divina Comédia”, de Dante [c. 1960]

Acaba de ser publicado no Brasil o livro A morte de Deus na cultura, de Terry Eagleton, com tradução de Clóvis Marques, pela editora Record. Eagleton investiga as contradições, dificuldades e significados do desaparecimento de Deus na era moderna; de acordo com sua apresentação ao volume: “Este livro fala menos de Deus que da crise gerada por seu aparente desaparecimento. Com isso em mente, parto do iluminismo para no fim chegar à ascensão do Islã radical e à chamada guerra ao terror. Começo mostrando de que maneira Deus sobreviveu ao racionalismo do século XVIII e concluo com seu dramático ressurgimento em nossa época supostamente sem fé. Entre outras coisas, esta narrativa tem a ver com o fato de que o ateísmo de modo algum é tão fácil quanto parece”.

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Conversações com Goethe

19 setembro, 2016 | Por Isabela Gaglianone

– Só nos causa espanto – replicou Goethe – porque nosso ponto de vista é demasiado estreito para nos permitir compreendê-lo. Se ele nos fosse ampliado, talvez constatássemos que também esse aparente desvio provavelmente se encontra no âmbito da lei. Mas continue, conte-me mais. Sabe-se, por acaso, quantos ovos o cuco pode pôr?

Leonardo da Vinci, Estudo preliminar para a pintura “Battaglia di Anghiari” (1503-1504)

Conversações com Goethe nos últimos anos de sua vida – 1823-1832, de Johann Peter Eckermann (1792-1835), acaba de ganhar uma edição primorosa no Brasil pela Editora Unesp, com tradução de Mario Luiz Frungillo, professor de Teoria Literária na Unicamp. Trata-se, como disse Otto Maria Carpeaux, de um testemunho da universalidade de interesses, da lucidez de julgamento e da sabedoria octagenária do grande poeta. Para Benjamin, as Conversações tornaram-se “um dos melhores livros em prosa do século XIX”.
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Entre letras e números

8 setembro, 2016 | Por Isabela Gaglianone

“A matemática, como utilizada na ficção por Borges e Perec, permite ampliar potencialmente essa multiplicidade de mundos possíveis”.

Geraldo de Barros

Jacques Fux arrebatou a crítica literária com seu premiado Antiterapias. Com o lançamento de Literatura e matemática, pela editora Perspectiva, mostra que sua prosa ensaística é tão intensa e arguta quanto a literária.

Questionando, como indica desde o título, que relações a literatura pode estabelecer com a matemática, Fux analisa o papel do conhecimento matemático nas obras de Jorge Luis Borges e Georges Perec e, entre elas, estabelece diálogos e relações nunca desta forma equacionadas, relações em que a disposição dos elementos os reverbera uns nos outros, de forma reciprocamente potencial. Para embasar algumas destas relações, Fux investiga de maneira minuciosa o grupo literário francês OuLiPo, do qual Borges, diz, é espécie de “plagiário por antecipação”.

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Sátiras e subversões

24 agosto, 2016 | Por Isabela Gaglianone

Morro Agudo

Noticiam os jornais que os moradores de ‘morro Agudo’, localidade situada à margem da Estrada de Ferro Auxiliar à Central, protestaram contra a mudança de nome da respectiva estação, mudança imposta pela diretoria da Estrada que precedeu à atual.

Vem a pelo lembrar de que forma horrorosa os mesmos engenheiros vão denominando as estações das estradas que constroem.

Podemos ver mesmo nos nossos subúrbios o espírito que preside tal nomenclatura.

É ele em geral da mais baixa adulação ou senão denuncia um tolo esforço para adquirir imortalidade à custa de uma placa de gare”.

Xilogravura de Lívio Abramo

Célebre por grandes obras como Recordações do escrivão Isaías Caminha ou Triste fim de Policarpo Quaresma, Lima Barreto é, no entanto, autor praticamente desconhecido pelo público brasileiro, se levarmos em conta os 164 textos, inéditos em livro, reunidos neste formidável Sátiras e subversões, organizado por Felipe Botelho Corrêa, lançado no início do mês pela Companhia das Letras.

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O interregno em que vivemos

15 agosto, 2016 | Por Isabela Gaglianone

“[…] No fim das contas, entre a Babilônia imaginada por Borges e o mundo que a modernidade outrora nos prometeu – que JeanPaul Sartre captou na frase sublime ‘le choix que je suis’ (‘a escolha que eu sou’) – jaz o interregno no qual estamos vivendo agora: um espaço e um tempo estendidos, móveis, imateriais, sobre os quais reina o princípio da heterogenia de fins, talvez como nunca antes. Uma desordem que é nova, mas ainda assim babélica”.

gravura de Evandro Carlos Jardim

Babel – Entre a incerteza e a esperança, novo livro do grande sociólogo polonês Zygmunt Bauman, escrito em co-autoria com o jornalista italiano Ezio Mauro, acaba de ser lançado no Brasil pela Zahar, com tradução de Renato Aguiar.

Sob a forma de um amplo diálogo, os autores discutem os impasses do capitalismo globalizado, os perigos do enfraquecimento da democracia e o papel da esperança que resiste, ainda que no meio movediço que abarca as relações incertas de nosso tempo.  Continue lendo

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Pallacorda

9 junho, 2016 | Por Isabela Gaglianone

O romance histórico-ensaístico Morte súbita, do mexicano Álvaro Enrigue, acaba de ser laçado no Brasil pela Companhia das Letras, com tradução, sempre muito cuidadosa, de Sérgio Molina.

O esplêndido romance foi vencedor do espanhol Prêmio Herralde em 2013 e, sua publicação no Brasil, impulsionada pela confirmação da presença do autor na FLIP – a famosa Festa Literária de Paraty.

A história inicia-se em 04 de outubro de 1599, ao meio-dia, em torno de um duelo inusitado, a ser disputado na Piazza Navona, em Roma. Os duelistas, um jovem italiano que transformava a arte pictórica e um poeta espanhol absolutamente genial: trata-se, nada menos, que a disputa de uma partida de pallacorda entre Caravaggio e Quevedo – “pallacorda” era o nome dado ao jogo de tênis na época, em que a bola [em italiano, palla] era feita de pelos e cabelos humanos.  Continue lendo

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O poeta entre crônicas e críticas

9 maio, 2016 | Por Isabela Gaglianone

cena de “O Encouraçado Potemkin”

Guilherme de Almeida (1890-1969), além de poeta modernista, ensaísta, tradutor e jornalista, foi um dos mais destacados críticos de cinema no Brasil.

A editora Unesp acaba de lançar a reunião deste trabalho crítico, no volume Cinematographos – Antologia da crítica cinematográfica, cuidadosa edição organizada por Donny Correia e Marcelo Tápia.

A crítica cinematográfica é uma vertente hoje quase desconhecida da produção do poeta. Neste volume, ela é representada por 218 textos, publicados entre 1926 e 1942 no jornal O Estado de S. Paulo. Através deles, revive-ase o período de transição entre o cinema mudo e a “arte do movimento silencioso” e o filme falado. Também perpassa-se a fecunda presença dos cinemas em São Paulo nas primeiras décadas do século XX e sua introdução enquanto relevante elemento do cotidiano cultural da cidade.

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Korolenko

2 maio, 2016 | Por Isabela Gaglianone

composição de Ekaterina Panikanova

O autor Vladimir Korolenko (1853-1921) é pouco familiar aos leitores brasileiros. O russo não era publicado por aqui há mais de cinquenta anos. Porém, é considerado autor fundamental, reconhecido por ninguém menos que Liev Tolstói como “um dos principais contistas da literatura russa”. O crítico literário Otto Maria Carpeaux dedicou uma análise ao escritor, que comparou ao inglês Charles Dickens [História da literatura ocidental. Edições O Cruzeiro, 1963. vol. 5], incluindo-o numa linhagem da “literatura de acusação”. Korolenko, nas palavras de Carpeaux: “Foi um realista moderado, de simpatias algo sentimentais para com os sofrimentos humanos, mas sem exacerbar a tendência, até atenuando-a pelo humorismo delicado do estilo. Nenhum outro russo parece-se tanto com Dickens. Todas essas qualidades revelaram-se de maneira magnífica no seu conto ‘O Sonho de Makar’, que o tornou logo famosísismo na Rússia e no estrangeiro”. O crítico pontua ainda que Korolenko “tinha ficado, durante anos, no exílio, na Sibéria; e os seus Contos Siberianos reuniram muito agradavelmente o encanto da paisagem exótica, o interesse geográfico-antropológico pelos povos estranhos daquelas regiões longínquas, a compaixão para com os exilados políticos e o horror do regime tirânico que os exilara. Entre os leitores europeus, Korolenko foi durante muitos anos mencionado ao lado de Tolstoi e Dostoievski”.

A editora Carambaia acaba de lançar uma edição em formato de caixa, que reúne dois formidáveis trabalhos do autor: Em Má Companhia é um romance sobre um menino, proveniente de uma família rica, que se envolve com uma turma de crianças pobres; O Músico Cego, obra mais famosa do autor, narra a história de Piótr Popélski, um garoto que nasce cego e desenvolve grande sensibilidade para a música. A delicada novela, nas palavras do crítico russo Alexandre Skabitchevsky, “é a última palavra da perfeição, uma das obras mais admiráveis com as quais o mundo literário já pôde contar. Impossível pensar em um tema tão simples, com menos artifícios, e ao mesmo tempo uma análise psicológica mais profunda”.

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Sexta-feira

29 abril, 2016 | Por Isabela Gaglianone

A ilha de Robinson Crusoé

Publicado originalmente em 1986, Foe é uma das obras de construção mais complexa do escritor sul africano J.M. Coetzee, ganhador do prêmio Nobel. A Companhia das Letras acaba de lançá-lo no Brasil, sob tradução de José Rubens Siqueira.

No romance, já um clássico da literatura contemporânea, Coetzee reinventa a história de Robinson Crusoé. A grandiosa novela apresenta Susan Barton, que, no início do século XVIII, encontra-se um uma pequena embracação de apoio à deriva, após o navio em que viajava ter sido palco de um motim de marinheiros. Ela acaba por chegar a uma ilha deserta e encontra com um dos únicos habitantes do local, que lhe oferece abrigo. Trata-se de um homem chamado Cruso, acompanhado por seu seu escravo Sexta-feira.

Cruso é um sujeito irascível, preguiçoso e autoritário: perdeu interesse em fugir da ilha ou mesmo em rememorar os eventos que marcaram sua chegada àquele lugar. Sexta-feira, por sua vez, não pode falar: teve a língua cortada, não se sabe se por proprietários de escravos ou pelo próprio Cruso. Depois de um ano, eles são resgatados por um navio que rumava para a Inglaterra, mas apenas Susan e Sexta-feira sobrevivem à viagem a Bristol. Determinada a contar sua história, ela busca um famoso escritor de seu tempo, Daniel Foe, na esperança de que ele escreva um livro sobre sua experiência na ilha. Continue lendo

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história

Revolucionário e humanista

25 abril, 2016 | Por Isabela Gaglianone

Índios da Amazônia escravizados durante o ciclo da borracha na região de Putumayo, Peru

Acaba de ser lançado, pela Edusp, o Diário da Amazônia de Roger Casement, organizado por Mariana Bolfarine e Laura P. Z. Izarra. Esta é a primeira edição em português da obra, muito interessante, que é resultado de uma pesquisa, sobre a investigação que Roger Casement fez: no final da época do boom da borracha no Brasil, chegaram a Londres notícias sobre os abusos de violência e escravidão, não só em relação aos indígenas e nativos, mas também envolvendo súditos da coroa; Casement foi nomeado para fazer parte de uma comissão de inquérito e avaliar até que ponto esses súditos da coroa estavam de fato sofrendo abusos e se faziam, por outro lado, parte do esquema da violência cometida contra os indígenas da região.

O diário é resultado dessa investigação. Foi escrito durante as duas vezes em que Casement esteve na Amazônia, respectivamente em 1910 e 1911. Seus manuscritos estavam armazenados no Itamaraty, pois Casement foi cônsul no Brasil em três ocasiões, em Santos, em Belém do Pará e, por último, foi cônsul geral no Rio de Janeiro.

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Inexoráveis lembranças

14 abril, 2016 | Por Isabela Gaglianone

gravura de Evandro Carlos Jardim

O premiado escritor Luiz Ruffato acredita que cada romance é uma tentativa de reconstruir a história. É o que ele faz no recentemente reeditado De mim já nem se lembra. O livro foi publicado originalmente em 2007, como literatura infanto-juvenil, para um programa de educação de jovens, e, posteriormente, em 2011, reformulado e transformado em literatura adulta. É o livro em que o autor diz ter mais se exposto, e no qual tentou fazer uma confluência do real e do imaginário.

Elaborado a partir de uma correspondência fictícia entre sua mãe e seu irmão torneiro-mecânico na cidade de Diadema situada na região do ABC paulista, De mim já nem se lembra relata as principais mudanças pelas quais a sociedade brasileira atravessou durante a décade de 1970.

O romance trata de assuntos caros ao autor: a família, o tempo, a memória. Ao abrir uma pequena caixa encontrada no quarto da mãe falecida, a caixa na qual ela “abrigara seu coração esfrangalhado”, o narrador se depara com um maço de cartas cuidadosamente atadas por um cordel. Escritas pelo irmão, vitimado por um acidente automobilístico, e dirigidas à mãe, essas cinquenta cartas reconstituem um passado: ao mesmo tempo que ilustram as mudanças políticas, econômicas e culturais durante a ditadura militar brasileira, convidam o leitor a espreitar a memória de uma família com “olhos derramando saudades”.

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