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Uma menina está perdida no seu século à procura do pai

19 novembro, 2015 | Por Isabela Gaglianone

gravura de Samico [“João, Maria e o pavão azul”, 1960]

Acaba de ser publicado no Brasil o livro Uma menina está perdida no seu século à procura do pai, do português Gonçalo M. Tavares.

O romance se passa na Europa pós Segunda Guerra, em meio a uma paisagem de escombros, figuras esqueléticas e quase absoluto desamparo social e psicológico. Naquele cenário, uma menina e um homem perambulam por entre as ruínas. A menina é Hanna, tem catorze anos, é portadora de uma doença congênita e está em busca do pai; o homem é Marius, sujeito enigmático que parece se esconder do próprio passado. A menina, desprotegida e com dificuldades de comunicação, carrega consigo uma caixa repleta de fichas escritas que formam uma espécie de curso, com atividades e perguntas, e, a partir delas, dá-se um questionamento sobre o que é o ser humano. Juntas, as duas personagens chegam a um estranho hotel em Berlim, no qual os quartos não têm números, mas carregam os nomes dos campos de concentração que, pouco tempo antes, foram o palco do inferno para milhões de pessoas. Quando Marius pergunta por que fazem aquilo, a dona do hotel responde: “Porque podemos. Somos judeus”.

Trata-se de uma narrativa fantasmagórica e irônica, características típicas do autor português, que neste livro cria um retrato tocante da guerra e de suas vítimas.  Continue lendo

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Gerd Bornheim

12 novembro, 2015 | Por Isabela Gaglianone

O aspecto mais fascinante de uma pesquisa filosófica reside talvez no fato de que ela se faz refratária a uma palavra final e definitiva. Não porque repouse no jogo infindável da conotação lógica das palavras, e sim porque há uma “prosa do mundo” – prosa que se inventa a si mesma, aderida a um mundo sempre em transformação. Todo o escopo do pensamento consiste em decifrar essa prosa, já que nela se esgota a inteireza da própria legitimidade do ato de pensar. – Gerd Bornheim.

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Gerd Bornheim (1929 – 2002) é considerado um dos poucos grandes filósofos brasileiros.

Dedicou boa parte de sua obra ao teatro, porém dizia considerar secundária sua produção sobre dramaturgia, em relação à importância que atribuía à sua atividade filosófica. Foi um dos grandes divulgadores da filosofia de Sartre, porém lia seu pensamento enquanto “enraizado, sobretudo, em Heiddeger, em Hegel e em Marx”.

A Edusp acaba de publicar uma cuidadosa e representativa reunião de ensaios de Gerd Bornheim, organizados por Gaspar Paz, sob o título Temas de filosofia.

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Contra os gramáticos

29 outubro, 2015 | Por Isabela Gaglianone

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O filósofo antigo Sexto Empírico foi um cético grego da escola pirrônica, cujos escritos dirigem-se contra a defesa dogmática que pretende conhecer uma verdade absoluta. Uma de suas mais importantes reflexões céticas desenvolve-se na obra “Contra os Matemáticos” (Adversus Mathematicos), também conhecida como “Contra os Professores”, dividida em seis livros: Contra os Gramáticos (Livro I), Contra os Retóricos (Livro II), Contra os Geômetras (Livro III), Contra os Aritméticos (Livro IV), Contra os Astrólogos (Livro V) e Contra os Músicos (Livro VI).

A editora Unesp acaba de publicar uma cuidadosa edição bilíngue de Contra os gramáticos, em que Sexto discute o papel crucial do uso comum das palavras para a compreensão da linguagem e para o bom filosofar. Atento aos sentidos técnicos e problemáticos com que os dogmáticos usavam as palavras, ele critica a tentativa de uma gramática geral, de princípios universais, e defende uma concepção convencionalista da linguagem.  Continue lendo

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Federigo Tozzi

26 outubro, 2015 | Por Isabela Gaglianone

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A interessante e jovem editora Carambaia teve uma sagaz ideia: para montar seu planejamento de publicações, adicionou, a uma longa lista de autores e títulos selecionados pelos editores, as sugestões dos tradutores que contratou – pediu-lhes que indicassem textos que gostariam de traduzir, mas para o quê o mercado editorial nunca dera espaço. Foi assim que a editora chegou, através do tradutor Maurício Santana Dias, no italiano Federigo Tozzi (1883-1920) e lançou, há pouco, seu romance Memórias de um empregado.

O romance é escrito em forma de pequenas entradas de diário. Acompanha a história, um jovem de uma família operária que, pressionado pelo pai, parte de sua cidade natal, Pontedera, para trabalhar em uma estação ferroviária. Enquanto está longe, o protagonista mantém um diário e corresponde-se com a namorada, deixada na pequena cidade. O fato é autobiográfico.

Tozzi, que durante muito tempo foi um autor desconhecido, é hoje considerado um dos maiores escritores italianos, um dos mais importantes narradores do século passado, objeto de um crescente interesse, por parte da crítica literária. É comparado, por críticos, a Luigi Pirandello e Italo Svevo, apesar de que sua obra permanece, contudo, pouco conhecida pelo público leitor brasileiro. Mesmo na Itália, os livros de Tozzi só começaram a se popularizar nos anos sessenta, quando a crítica passou a atentar para o pioneirismo de sua ficção, dotada de um realismo psicológico cuja veia lírica é notável e profundamente instigante.

Sua prosa utiliza a forma tradicional do realismo apenas para exprimir uma visão particular da realidade e gira em torno da inadequação do indivíduo. Encontra-se, em seus textos, uma espécie de representação lírica do homem frente ao mundo e às coisas. O texto de Tozzi é também conhecido por ser inovador na forma. O romance tem pontuação, ritmo e estilo que marcam sua modernidade.

O romance mostra o solitário limbo de quem vive uma vida, em si, insignificante, como se vivesse “de olhos fechados” (alusão ao título de outro de seus romances e metáfora que atravessa sua obra, de maneira geral).

Memórias de um empregado foi publicado em 1920, ano da morte de Tozzi – morreu aos 37 anos, vítima da gripe espanhola.A edição brasileira, além da tradução do professor da USP, Maurício Santana Dias, conta com apresentação de Maria Betânia Amoroso.

 

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“Se certas pessoas soubessem dos traços indeléveis que deixaram em mim, ficariam espantadas. Quando penso que sou feito de tantas linhas correspondentes a outros tantos dias, me pergunto se quem existe sou eu ou as coisas que agora tenho diante dos olhos. E me pergunto o que significa viver”.

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MEMÓRIAS DE UM EMPREGADO

Autor: Federigo Tozzi
Editora: Carambaia
Preço: R$ 55,01 (144 págs.)

 

 

 

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história

Forma de protesto

22 outubro, 2015 | Por Isabela Gaglianone
gravura de Lasar Segall

gravura de Lasar Segall

Acaba de ser publicado o livro Mocambos e quilombos – Uma história do campesinato negro no Brasil, do historiador Flávio dos Santos Gomes, pela Companhia das Letras.

Trata-se de um estudo sobre a existência, por todo o Brasil, de comunidades negras rurais que são remanescentes de quilombos – concretude da continuidade social e histórica de um processo mais longo da escravidão e das primeiras décadas da pós-emancipação do que se costuma supor. As comunidades de fugitivos da escravidão não representam, nas palavras do autor, um passado imóvel, “aquilo que sobrou (posto nunca transformado) de um passado remoto. As comunidades de fugitivos da escravidão produziram histórias complexas de ocupação agrária, criação de territórios, cultura material e imaterial próprias baseadas no parentesco e no uso e manejo coletivo da terra. O desenvolvimento das comunidades negras contemporâneas é bastante complexo, com seus processos de identidade e luta por cidadania”. O livro repassa a história dos quilombos, e seus desdobramentos, do passado e do presente.

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Contos de Kolimá

15 outubro, 2015 | Por Isabela Gaglianone

“Estou convencido de que os campos de prisioneiros, todos eles, são uma escola negativa; passar neles uma hora que seja é uma defloração. O campo de prisioneiros não dá, nem pode dar, nada de positivo a ninguém. Sobre todos, encarcerados e trabalhadores contratados, o campo age de modo deflorador”.

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Na desolada região no extremo leste da Sibéria conhecida como Kolimá, onde as temperaturas chegam a 60 graus negativos, existiram alguns dos campos de trabalhos forçados mais temíveis e desumanos da era stalinista. É sobre eles que o escritor russo Varlam Chalámov (1907-1982) fala em Contos de Kolimá, recentemente lançado pela Editora 34, em uma edição cuidadosa, com tradução de Denise Sales e Elena Vasilevich, apresentação de Boris Schnaiderman e prefácio de Irina P. Sirotínskaia, companheira do escritor em seus últimos anos e profunda conhecedora de sua obra.

Chalámov, poeta e jornalista, conheceu profundamente Kolimá, pois alí cumpriu a maior parte de sua pena de quase vinte anos: preso político, trabalhou até 16 horas por dia em minas de ouro e carvão, constantemente doente e subnutrido.

Ao final da pena, o escritor retornou a Moscou e, no ano seguinte, começou a dedicar-se à composição de sua obra monumental, trabalho que lhe tomou mais novos vinte anos: Contos de Kolimá, mais de duas mil páginas divididas em seis volumes, que retomam de maneira profunda a memória do autor, uma vasta coleção de histórias da vida cotidiana nos campos de prisioneiros que forma um relato autobiográfico agudo, pois acompanhado por uma reflexão profunda sobre os limites do humano frente à brutalidade sem limites.  Continue lendo

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O circuito dos afetos

8 outubro, 2015 | Por Isabela Gaglianone
Gravura de Marco Buti

Gravura de Marco Buti

O circuito dos afetos, novo livro do filósofo Vladimir Safatle, acaba de ser lançado, pela editora Cosacnafy.

Trata-se de uma interessante análise sobre o conceito moderno de indivíduo enquanto, sobretudo, um sistema de afetos. A investigação de Safatle, professor de filosofia da USP, parte da articulação entre psicanálise, filosofia e teoria social.

“Sujeitos políticos não constituem um povo, esta será a última lição de Freud. Eles desconstituem o povo como categoria política, sem para isso cair na ilusão de uma sociedade como mera associação de indivíduos”, diz o autor.

Sua indagação matriz é: “Qual o sentido da política no mundo contemporâneo?” – questão que suscita o levantamento de novos paradigmas políticos, justo em um momento histórico em que tanto as utopias de esquerda quanto o próprio capitalismo encontram-se em descrédito. Para desenvolver sua reflexão, o autor sugere uma linha interpretativa que passa por Aristóteles, Espinosa, Hobbes, Giorgio Agamben, Michel Foucault e chega à discussão com expoentes atuais da Escola de Frankfurt.  Continue lendo

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Metafísicas canibais

1 outubro, 2015 | Por Isabela Gaglianone
fotografia de Eduardo Viveiros de Castro

fotografia de Eduardo Viveiros de Castro

O antropólogo Eduardo Viveiros de Castro acaba de lançar o livro Metafísicas canibais, escrito à guisa de resenha  do livro imaginário que ele porém julga que jamais será capaz de terminar: O Anti-Narciso. Este, por sua vez, teria como objetivo provar a seguinte tese: a antropologia é uma versão das práticas de conhecimento indígenas que lhe serviram de estudo.

O perspectivismo ameríndio, conceito desenvolvido por Viveiros de Castro e que afirmou a sua celebridade intelectual enquanto estudioso original e relevante, é um exemplo de como o estilo de pensamento nativo afeta a imaginação antropológica. A reflexão do autor é guiada por duas obras fundamentais da filosofia e da antropologia: O Anti-Édipo, de Deleuze e Guattari, e as Mitológicas, de Claude Lévi-Strauss. A aproximação entre filosofia e antropologia visa a investigação da seguinte pergunta, “o que deve conceitualmente a antropologia aos povos que estuda?”. As culturas e sociedades estudadas antropologicamente “influenciam, ou, para dizer de modo mais claro, coproduzem” as teses formuladas.

Estas Metafísicas canibais reúnem parte significativa das reflexões que Viveiros de Castro vem desenvolvendo desde a publicação de A inconstância da alma selvagem, inclusive a reformulação da teoria perspectivista.  Continue lendo

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Testemunho transiente  

24 setembro, 2015 | Por Isabela Gaglianone

“Ao testemunhar tua aparição, descobri que a proximidade, a mais intensa, se dá junto da distância mais distante.”

Gravura da série "Ir" [2007], de Marco Buti

Gravura da série “Ir” [2007], de Marco Buti

Sabedoria do nunca [1999], Ignorância do sempre [2000], Certeza do agora [2002], são livros que traçam a temática que atravessa toda a obra de Juliano Garcia Pessanha: uma reflexão sobre a precariedade do ser, preso nos cárceres da linguagem, subjugado às violências inerentes à necessária apropriação do existente pelo olhar utilitarista da técnica. Uma investigação poético-filosófica à qual dá prosseguimento Instabilidade perpétua [2009], em que o autor dialoga com filósofos, tais como Heidegger, Cioran e Sloterdijk, e com escritores, como Kafka e Gombrowicz.

A Cosacnaify acaba de lançar esta tetralogia em um volume único, intitulado Testemunho transiente. A edição conta com texto de orelha de Roberto Machado e texto de quarta capa de Jean-Claude Bernadet.  Continue lendo

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Ao som do tamborim e das castanholas

21 setembro, 2015 | Por Isabela Gaglianone
Vânia Mignone

Vânia Mignone

As Novelas exemplares de Miguel de Cervantes Saavedra (1547 – 1616) foram originalmente publicadas em 1613, entre as publicações das duas partes de D. Quixote. Um volume completo das novelas acaba de ser lançado no Brasil pela Cosacnaify, edição cuidadosa com tradução de Ernani Ssó e textos críticos de Maria Augusta da Costa Vieira, Silvia Massimini Félix e Ernani Ssó. O livro é ilustrado por Vânia Mignone.

São “exemplares”, pois, como gênero literário, a novela já existia, mas, então, nunca fora escrita na Espanha nada que se assemelhasse a esta forma narrativa. Cervantes experimenta o gênero em todas as direções possíveis, com relatos bizantinos, cortesãos ou picarescos. Busca em sua prosa o estabelecimento de um padrão realista, tratando do cotidiano das pessoas, de uma Espanha palpável, vivida. Os 12 textos, escritos entre 1590 e 1612 e publicados originalmente juntos sob o título Novelas Exemplares de Honestíssimo Entretenimento, são o primeiro exemplo em castelhano de novelas, que, à época, possuíam um caráter moral e didático, ao qual Cervantes uniu seu humor gracioso, suas metáforas agudas e suas personagens, tão reais, tão humanas.  Continue lendo

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O pensamento yanomami

3 setembro, 2015 | Por Isabela Gaglianone
fotografia de Cláudia Andujar, publicada no livro "Yanomami"

fotografia de Cláudia Andujar, publicada no livro “Yanomami”

A queda do céu finalmente ganha tradução para o português. Publicado originalmente em francês em 2010, na prestigiosa coleção Terre Humaine, o volume traz o relato profundamente político e espiritual do grande xamã e porta-voz dos Yanomami, Davi Kopenawa, registrado pelo etnólogo-escritor Bruce Albert após trinta anos de convivência. O livro chega ao Brasil pela Companhia das Letras, traduzido por Beatriz Perrone-Moisés e conta com prefácio de Eduardo Viveiros de Castro. É uma obra de impacto na história da etnografia, um diálogo rico e único entre dois universos culturais.

Albert registrou as meditações do xamã a respeito do contato predador com o homem branco, ameaça constante para seu povo desde os anos 1960. Trata-se de um relato extraordinário, confluência de testemunho autobiográfico, manifesto xamânico e libelo contra a destruição da floresta Amazônica. O discurso de Kopenawa introduz os sistemas cosmopolíticos e intelectuais dos yanomami para os brancos.  Continue lendo

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Maldicidade

27 agosto, 2015 | Por Isabela Gaglianone
fotografia de "Maldicidade"

fotografia de “Maldicidade”

Conhecido por um olhar lírico e crítico, o fotógrafo e múltiplo artista Miguel Rio Branco, em Maldicidade, reúne fotografias realizadas entre 1970 e 2010, que retratam cenas urbanas de metrópoles ao redor do mundo, no Japão, nos EUA, no Brasil, em Cuba, no Peru.

Não há textos ou ensaios incluídos no livro. As imagens formam seu próprio discurso, poderoso, expressivo, sensorial.

São retratos sobre a vida urbana, mas, também, enquadramentos de uma sub-história das cidades, suas entranhas. Miguel Rio Branco aponta sua câmera para baixo, não para os grandes monumentos históricos ou arquitetônicos das cidades, mas para os marginais oprimidos, para a vida arenosa onde encontram-se as rotas de busca de comida de cachorros de rua e os ônibus urbanos superlotados, onde mendigos dormem e vendedores ambulantes oferecem doces caseiros. Seu foco são os marginalizados, prostitutas, vira-latas e pessoas de baixa classe social. Através de fotos com cores vibrantes, e com montagens e recortes paralelos, o resultado evidencia o paradoxo urbano, o mal de toda cidade.  Continue lendo

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“Pesquiso a forma no caos”

20 agosto, 2015 | Por Isabela Gaglianone

“Nossa medida de humanos

-Medida desmesurada-

Em Selinunte se exprime:

Para a catástrofe, em busca

Da sobrevivência, nascemos”

– Murilo Mendes, “As Ruínas de Selinunte”.

escadaSiciliana e Tempo espanhol foram publicados separadamente por Murilo Mendes em 1959. A editora Cosac Naify acaba de reeditá-los num volume único, com posfácio de Eduardo Sterzi. A publicação acompanha a tendência editorial a apostar em autores consagrados.

Os dois livros foram escritos pelo poeta ao longo das quase duas décadas em que viveu na Europa. Em ambos, sua poesia faz alusão a obras, monumentos e cidades do velho mundo. Por sua forma, tem em comum a concisão e um tom mais seco, distanciando-se do surrealismo que vinha inspirando sua poesia.  Continue lendo

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Biocapitalismo

13 agosto, 2015 | Por Isabela Gaglianone
gravura de Iberê Camargo

gravura de Iberê Camargo

O filósofo italiano Antonio Negri, em Biocapitalismo, analisa a crescente onda de ocupações do espaço público, fruto do que chama, com Espinosa, manifestações da “multidão” – tida como fonte de articulação de desejos represados e díspares, unidos na ocupação e construção de um espaço de resistência e de emancipação, balizando os termos da biopolítica.

O livro, com tradução de Maria Paula Gurgel Ribeiro, acaba de ser lançada no Brasil pela editora Iluminuras.

Segundo o professor Márcio Seligmann-Silva, o pensamento de Negri dialoga com a história política da América Latina e, portanto, faz-se imprescindível para pensarmos nosso presente:“Antonio Negri tem tentado reinventar a política, sobretudo a prática das esquerdas, introduzindo e repaginando uma série de conceitos. Não por acaso, este livro, editado por Adrián Cangi e Ariel Pennisi, vem de uma obra compilada na Argentina: a escuta que Negri encontra na América Latina é particularmente grande. Temos muito a dialogar com sua obra”.

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Prosa precisa

6 agosto, 2015 | Por Isabela Gaglianone

Odilon Redon

O vento que arrasa, da argentina Selva Almada, vem sendo aclamado como a última grande revelação literária da América Latina.

O romance é ambientado no Chaco argentino e transcorre-se ao longo de somente um dia e meio na vida de Leni, uma moça de dezesseis anos, e de seu pai, um pastor que vive a percorrer o país em busca de sinais de Deus. Com problemas no carro, eles fazem uma parada na oficina mecânica do Gringo, onde conhecem o jovem Tapioca, rapaz que o pastor vê como uma alma iluminada e a quem, por isso, quer levar consigo na peregrinação.

Com tradução de Samuel Titan Jr., o livro acaba de ser lançado no Brasil pela CosacNaify. O volume conta com quarta capa de Beatriz Sarlo, para quem Selva Almada destaca-se no mapa da ficção por ser, não literatura urbana, nem sobre jovens, nem sobre marginais, mas uma literatura de província, regional frente às culturas globais, mas não uma literatura de costumes – ao contrário da literatura urbana que, diz Sarlo, tantas vezes é literatura de costumes sem ser regional.  Continue lendo

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