Arquivos da categoria: matraca

Breves resenhas diárias.

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O valor crítico do erro

22 novembro, 2013 | Por Isabela Gaglianone

Erro, ilusão, loucura, publicado pela Editora 34, reúne cinco conferências realizadas pelo filósofo Bento Prado Jr. entre 1994 e 1996; o livro apresenta também uma entrevista da mesma época, além de um artigo mais recente, no qual ele retoma sua conhecida reflexão sobre a obra de Bergson. Esta é uma das mais relevantes publicações do filósofo brasileiro, ao lado de Presença e campo transcendental: consciência e negatividade na filosofia de Bergson – traduzido para o francês em 2002 e considerado obra de referência para os estudiosos do tema no mundo todo.

A partir de comentários em torno de uma gravura dos “Desastres da guerra”, de Goya, o livro desenvolve-se tendo, como ponto de encontro dos textos reunidos, a investigação sobre o lugar do sujeito; Continue lendo

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O humor filosófico de Laerte

21 novembro, 2013 | Por Isabela Gaglianone

Famoso pelo humor sarcástico, pelos personagens marcantes e pelo traço característico, Laerte vem causando uma polêmica um tanto constrangida nos últimos anos, não tanto por seu trabalho, mas porque, progressivamente, vem vestindo-se de mulher.

Justamente por isso, a oitava edição da Balada Literária, iniciada ontem em São Paulo, pretendendo discutir a questão do gênero – do literário ao sexual –, homenageia o cartunista. Segundo o escritor Marcelino Freire, curador e criador do evento, “Engana-se quem acha que a literatura está apenas nos livros. Ou encastelada em seus redutos. A Balada Literária é exatamente o tipo de acontecimento que coloca todo mundo na mesma mesa e celebração. Todos os gêneros. Todos os parágrafos. Todas as vertentes. Tendências e tribos”. Não só homenageado, Laerte é o norte da programação do evento, em que e o transgênero torna-se interessante e frutífero tema de debate moral, político e artístico.

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Literatura

Pessimismo satírico

19 novembro, 2013 | Por Isabela Gaglianone

Luigi Bartolini

O diabo mesquinho [Мелький Бес], publicação cuidadosa da editora Kalinka, trouxe pela primeira vez ao conhecimento do público brasileiro a escrita pessimista de Fiódor Sologub (1863-1927), um dos expoentes do simbolismo russo. O texto integral (originalmente, fora publicado em capítulos em uma revista russa, que suprimiu as partes finais da narrativa) foi traduzido por Moissei Mountian, com colaboração de Daniela Mountian e revisão de estilo feita por Aurora Fornoni Bernardini. O livro conta também com desenhos de Fabio Flaks.

O texto é psicologicamente rico, trata do progressivo enlouquecimento do protagonista Peredónov, um professor de ginásio maldoso e mesquinho, que pouco a pouco desenvolve uma paranoia. Assaltado por estranhas alucinações, desconfiado de tudo e de todos, começa a praticar atos de insanidade. A mente confusa e inquietante do anti-herói é desvelada por meio de uma narrativa satírica, que cria um mundo carnavalesco, de um pessimismo delirante. O paulatino processo de loucura retumba, no simbolismo de Fiódor Sologub, o mundo dos sonhos de Freud.  Continue lendo

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Literatura

Aos navegantes

18 novembro, 2013 | Por Isabela Gaglianone

Com apenas dezessete anos, em meio a uma de suas características bebedeiras, o jovem Jack London caiu na água e por pouco não morreu, salvo graças ao feliz acaso de ter sido rapidamente visto e resgatado por um pescador. Pouco tempo depois, embarcou no Sophia Sutherland, barco destinado à caça de focas no Pacífico. Juntas, ambas as experiências tornaram-se o mote criativo para o desenvolvimento do romance O lobo do mar. No romance, o protagonista Humphrey van Weyden é um náufrago, resgatado pela escuna Ghost. Seu resgate, porém, não é feliz como o de London: o capitão que o salva, Wolf Larsen, em vez de deixá-lo no porto mais próximo, obriga-o, com brutalidade, a integrar a tripulação de seu navio.  Continue lendo

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Poesia e política

14 novembro, 2013 | Por Isabela Gaglianone

Escritos sobre mito e linguagem reúne sete ensaios escritos por Walter Benjamin entre os anos 1915 a 1921, pertencentes, portanto, à sua fase de juventude, em geral pouco estudada no Brasil. A tradução dos textos foi feita por Susana Kampff e Ernani Chaves. O livro, publicado pela editora 34 e organizado pela especialista Jeanne Marie Gagnebin – também responsável pelo texto de apresentação e pelas notas –, é composto por trabalhos propriamente literários, textos de natureza estética ou que se encontram na fronteira entre literatura e filosofia e ensaios que manifestam o princípio do núcleo do pensamento filosófico benjaminiano: resguarda um momento fundamental do percurso intelectual de Walter Benjamin, em que a dialética dialoga diretamente com a metafísica, etapa filosófica responsável pela configuração original de seu pensamento – a despeito da fragmentação teórica – para iluminar a arte, a linguagem, a religião, a história, a violência. Na apresentação, Jeanne Marie Gagnebin analisa que “a preocupação de Benjamin com a problemática do mito, tão evidente nestes escritos de juventude, parece ser justamente a outra vertente de sua preocupação com a história – preocupação que só tenderá a crescer, adotando feições mais nítidas e materialistas a partir do fim dos anos vinte”. Segundo ela, “sem uma reflexão sobre Sprache, ‘língua’ e ‘linguagem’, […] não há a possibilidade […] de pensar a razão e a racionalidade humanas“, a razão e a história devem ser pensadas em conjunto, pois a apreensão de ambas depende do intermédio da linguagem.

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Verdade, crítica e censura

13 novembro, 2013 | Por Isabela Gaglianone

O livro Filosofia clandestina: Cinco tratados franceses do Século XVIII é uma antologia de pequenos tratados, publicados de maneira clandestina e anônima, por seu conteúdo crítico – anticlericais, críticas políticas e defesas de novas concepções de mundo. A seleção, apresentação e tradução dos textos foi feita por Regina Schöpke, doutora em filosofia e medievalista, e por Mauro Baladi, graduado em filosofia pela UERJ. O livro foi publicado pela editora Martins Fontes.

O primeiro texto, “O verdadeiro filósofo“, de César Chesneau du Marsais (França, 1676-1756), defende um novo papel desempenhado pela filosofia no Iluminismo, incentivando o fornecimento, através dela, de intervenções favoráveis na formação crítica da população, rejeitando o caráter puramente metafísico da reflexão. Continue lendo

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Literatura

A cantiga silenciosa das inquietudes da mente

12 novembro, 2013 | Por Isabela Gaglianone

Um dos romances finalistas do Prêmio Jabuti, O mendigo que sabia de cor os adágios de Erasmo de Rotterdam, de Evandro Affonso Ferreira, narra a comovente história de um homem erudito, que é abandonado repentinamente por sua amada mulher e que perde, então, a razão de viver e torna-se morador de rua – “Dia anterior àquele em que ela deixou bilhete elíptico ACABOU-SE; ADEUS sobre o criado-mudo, disse-me, olhos nos olhos: Vou amá-lo vida toda. Silhueta da lâmina da despedida estava por trás daquele olhar umedecido”. O livro vem causando polêmica pelo estilo do autor, considerado demasiadamente hermético.

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Literatura

o voo do albatroz

11 novembro, 2013 | Por Isabela Gaglianone

O livro O albatroz e o chinês reúne cinco ensaios inéditos de Antonio Cândido. São escritos dispersos, divididos em três partes: as duas primeiras, compostas por ensaios mais longos, e a terceira, por escritos breves. Esta publicação, da editora Ouro sobre azul, é uma reedição aumentada do heterogêneo conjunto de textos, lançado originalmente em 2004.

O ensaio que dá título ao livro aborda a oposição entre poemas que representam a natureza e poemas mais intimistas, que a recriam a partir de um ponto de vista subjetivo. O ensaio analisa, a partir daí, tensões da criação, tecendo sua argumentação sobre a interpretação de um poema de Mal­larmé. Os ensaios seguintes Continue lendo

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Artes Plásticas

Goeldi, Lasar Segall e Iberê Camargo.

8 novembro, 2013 | Por Isabela Gaglianone

– Goeldi

Registro impresso da mostra homônima, o livro Cálculo da expressão aproxima as gravuras de Goeldi, Lasar Segall e Iberê Camargo a partir do reconhecimento da matriz expressionista em comum. Na exposição e consequentemente no livro, a pesquisadora e curadora Vera Beatriz Siqueira propôs um rico confronto entre os três artistas, mestres da xilogravura, através da contraposição de suas produções e também de suas diferentes visões do expressionismo. Segundo Vera, o intuito da exposição foi exibir “tanto as proximidades da expressividade na arte, quanto os caminhos individuais de cada um dos artistas. Os três trabalham com mesmo universo temático, o individuo no mundo, a solidão, a morte. Cada um lida com essas influências de maneira muito diferente”. Continue lendo

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Arqueologias poético-filosóficas

7 novembro, 2013 | Por Isabela Gaglianone

 

Ninguém melhor que um filósofo para explorar os jogos de sentido entremeados às palavras. Extravasando essa premissa singela, com a sua característica amplitude reflexiva, abstrata e crítica, a erudição interpretativa de Benedito Nunes traz uma nova luz aos assuntos que aborda em O dorso do tigre. O livro de ensaios reúne reflexões e comentários de filosofia e de crítica literária.

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A arte genuína de Julio Ramón Ribeyro

6 novembro, 2013 | Por Isabela Gaglianone

Julio_Ramon_RibeyroSem ter sido um fumante precoce, a partir de certo momento minha história se confunde com a história de meus cigarros”.

Nas palavras de Julio Ramón Ribeyro, no fundo de suas histórias estão “a velhice, a deterioração, a frustração e o perecimento”. Considerado um dos maiores contistas de língua espanhola, sobretudo pelos conterrâneos Mario Vargas Llosa e Alfredo Bryce Echenique, Ribeyro dedicou-se também a escrita de ensaios, biografias e aforismos, mas foi principalmente nos contos que desenvolveu sua arte. No Brasil, a edição cuidadosa da Cosacnaify, Só para fumantes, traz uma breve mas significativa antologia composta por treze de seus contos, selecionados e traduzidos por Laura Janina Hosiasson. Selecionado como prólogo, o texto crítico escrito por Alfredo Bryce Echenique – “A arte genuína de Julio Ramón Ribeyro” – analisa: “Por uma espécie de duplo interno da fábula, em vários desses contos de fato ocorre uma segunda instância da significação. O indivíduo socialmente desamparado encontra um novo amparo no discurso que o substitui. Dir-se-ia então que o sujeito do drama do subdesenvolvimento ou da modernização desigual pode perder tudo, exceto essa capacidade piedosa de recuperar sua humanidade na imaginação. Isso torna mais aguda a crítica, evidentemente, mas também a fábula, que na verdade implícita da ficção sustém a frágil verdade do sujeito iludido”. Continue lendo

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Um sentido espiralado de existência

5 novembro, 2013 | Por Isabela Gaglianone

naufragiosEscrevo. Não faço outra coisa que descrever, este sucedâneo literário que encobre minha carência, minha incapacidade. Desespero”.

Naufrágios, da conhecida artista plástica e escritora Giselda Leirner, é um livro de fragmentos e destroços de história. Nesta coletânea de contos, fragmentos de vida escritos na primeira pessoa, autora, narradora e protagonistas muitas vezes se confundem, amalgamam-se ao mesmo tempo que são estranhas a si mesmas, sombras de sombras: simbolizam o esquecido e recalcado e encaminham ficção e realidade a mostrarem-se inextricáveis. A escritura e a vida duplicam-se mutuamente, e somos lembrados disso ao longo do livro, uma metaliteratura, a movimentar sentidos de existência. A escrita é uma roupa mortuária, que conserva a existência; de uma vida que naufraga, restam as palavras, concretudes de nostalgias. Continue lendo

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O povo tupi-guarani do norte da Amazônia

4 novembro, 2013 | Por Isabela Gaglianone

parakanasInimigos fiéis: história, guerra e xamanismo na Amazônia é fruto de mais de dez anos de pesquisa entre os parakanãs, o povo tupi-guarani do norte da Amazônia – suas terras localizam-se nas bacias do Xingu e do Tocantins, no Estado do Pará –, que preservou sua autonomia até o início dos anos de 1970. Inimigos fiéis reconstrói a história oral de um século de existência desse povo, acompanhando as transformações estruturais, políticas e econômicas nos padrões de subsistência e nas formas sociopolíticas, a partir de uma análise microssociológica e comparativa.

O livro é baseado na premiada tese de doutorado de Carlos Fausto, reconhecida como uma importante contribuição para a teoria antropológica, principalmente pelo que diz respeito à análise das relações entre história e ação social. Continue lendo

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Vário som – Editora Patuá

1 novembro, 2013 | Por Isabela Gaglianone

Publicado no ano passado pela editora Patuá, Vário som, de Elisa Andrade Buzzo, foi um dos livros finalistas do prêmio Jabuti de 2013 na categoria de poesia. O livro foi elaborado pela poeta em uma temporada passada em Lisboa, em sua maior parte na Rua Nova do Almada, próxima ao Cais do Sodré. Eliza já havia publicado três outros livros: Noticias de ninguna parte (Limón Partido, em 2009), Kanto retráctil/ Canción retráctil (Yiyi Jambo/ La Cartonera, em 2010) e  Se lá no sol (pela editora 7 Letras, em 2005). Além disso, também já havia participado de diversas antologias. Segundo Andréa Catropa, em resenha à revista literária Cisma, há, ao longo do livro, o desenvolvimento de um recurso formal responsável pela própria arquitetura de sua construção, representativo de um amadurecimento na obra da poeta: “a princípio, assemelha-se a uma desconstrução do verso, que quase se dissolve na prosa. Mas quando o observamos mais detidamente, percebemos o quanto ele funciona como um recurso construtivo e coesivo, que impele à leitura certo ritmo, cada verso levando adiante como os trilhos que conduzem os elétricos da capital lusitana”. Continue lendo

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Drummond

31 outubro, 2013 | Por Isabela Gaglianone

Carlos Drummond de AndradeNo dia 31 de outubro de 1902 nasceu um dos maiores poetas brasileiros, Carlos Drummond de Andrade. O Instituto Moreira Salles desde 2011 comemora o aniversário do poeta, com o evento “Dia D”, cujo intuito é fazer com que a data passe a integrar o calendário cultural brasileiro. Neste ano, o evento criou um roteiro de leitura, “Vida e verso de Carlos Drummond de Andrade”, elaborado por Eucanaã Ferraz: o roteiro pode ser lido e interpretado em qualquer lugar e requer quatro leitores, a saber, um narrador e outros três, que representarão diferentes fases na vida do poeta. No IMS do Rio de Janeiro, a leitura do roteiro será realizada hoje à noite, por Antonio Cicero, Alberto Martins, Afonso Henriques Neto e Joca Reiners Terron. Aqui em São Paulo, a Livraria 30porcento apoia a homenagem, dedicando o texto da coluna matraca ao livro A vida passada a limpo, recentemente relançado pela Companhia das Letras. Continue lendo

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