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Arqueologia da política

18 março, 2016 | Por Isabela Gaglianone

gravura de Arthur Briscoe, “O orador”, 1926

Arqueologia da política, de Paulo Butti de Lima, acaba de ser lançado no Brasil pela editora Perspectiva. O livro é uma leitura profundamente interessante da República platônica. Foi originalmente escrito em italiano, sob o título Archeologia della politica: letture della “Repubblica” di Platone, em 2012, pois Butti é professor da Univerisdade de Bari e responsável científico da Scuola Superiore di Studi Storici da Univerisdade de San Marino.

Butti indica, no início de sua introdução, que o argumento deste estudo “é a ‘natureza’ da política”, conforme compreendida por Platão. Sua reflexão desenvolve-se sobre a análise do poder e do conhecimento que a ele se dedica.

O discurso político é, neste argumento, central e, junto com sua teoria, “devem ser considerados segundo um processo que é, ao mesmo tempo, formal e temporal”: é nesse sentido que o autor pode falar de uma “arqueologia” da política, enquanto viés investigativo tanto das formas revestidas pelo discurso político, quanto do reconhecimento do momento inicial deste discurso como fundador de toda a tradição política vindoura.

Butti mostra o problema que surge quando Platão recorre ao vocabulário da cidade [pólis], pois, diz o professor, entre ela e o cidadão [polítes], “o termo politikós não se explica facilmente, quer atribuindo-o a formas de conhecimento (arte ou ciência política), quer a alguns cidadãos (homem ‘político’)”.   Continue lendo

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Uma filosofia da cultura humana

30 novembro, 2015 | Por Isabela Gaglianone

Edvard Munch, 1895

Ernst Cassirer [1874 – 1945] foi um dos maiores filósofos do século XX.

Seu Ensaio sobre o homem – traduzido no Brasil primeiramente como “Antropologia filosófica”[i] – apresenta os resultados de uma vida de estudos sobre as realizações culturais da humanidade. É uma síntese original do conhecimento contemporâneo, uma interpretação notável da crise intelectual de nosso tempo e uma brilhante defesa da capacidade da razão do homem.

Diz Cassirer que “no mundo humano encontramos uma característica nova que parece ser a marca distintiva da vida humana. O círculo funcional do homem não é apenas quantitativamente maior; passou também por uma mudança qualitativa. O homem descobriu, por assim dizer, um novo método para adaptar-se ao seu ambiente. Entre o sistema receptor e o efetuador, que são encontrados em todas as espécies animais, observamos no homem um terceiro elo que podemos descrever como o sistema simbólico. Esta nova aquisição transforma o conjunto da vida humana. Comparado com os outros animais, o homem não vive apenas em uma realidade mais ampla; vive, pode-se dizer, em uma nova dimensão da realidade. Existe uma diferença inconfundível entre as reações orgânicas e as respostas humanas. No primeiro caso, uma resposta direta e imediata é dada a um estímulo externo; no segundo, a resposta é diferida. É interrompido e retardado por um lento e complicado processo de pensamento”.

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Gerd Bornheim

12 novembro, 2015 | Por Isabela Gaglianone

O aspecto mais fascinante de uma pesquisa filosófica reside talvez no fato de que ela se faz refratária a uma palavra final e definitiva. Não porque repouse no jogo infindável da conotação lógica das palavras, e sim porque há uma “prosa do mundo” – prosa que se inventa a si mesma, aderida a um mundo sempre em transformação. Todo o escopo do pensamento consiste em decifrar essa prosa, já que nela se esgota a inteireza da própria legitimidade do ato de pensar. – Gerd Bornheim.

brecht

Gerd Bornheim (1929 – 2002) é considerado um dos poucos grandes filósofos brasileiros.

Dedicou boa parte de sua obra ao teatro, porém dizia considerar secundária sua produção sobre dramaturgia, em relação à importância que atribuía à sua atividade filosófica. Foi um dos grandes divulgadores da filosofia de Sartre, porém lia seu pensamento enquanto “enraizado, sobretudo, em Heiddeger, em Hegel e em Marx”.

A Edusp acaba de publicar uma cuidadosa e representativa reunião de ensaios de Gerd Bornheim, organizados por Gaspar Paz, sob o título Temas de filosofia.

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O pouco de realidade das coisas

31 agosto, 2015 | Por Isabela Gaglianone
Gravura de Norman Ackroyd

Gravura de Norman Ackroyd

A reunião de ensaios As ilhas, de Jean Grenier (1898 – 1971), foi originalmente publicada em 1933. O volume, para Albert Camus, amigo e aluno de Grenier na Argélia antes da guerra, foi a leitura arrebatadora que lhe despertou o ímpeto de tornar-se escritor.

Cabe, para apresentar este livro e sua filosofia literária, a análise que dele fez o escritor Gilles Lapouge, em resenha publicada no jornal O Estado de São Paulo, na qual discorre sobre a relação entre o autor e o pupilo: “Claro que Jean Grenier e Albert Camus são filósofos, mas a sua grandeza é que o filósofo, nos dois casos, foi engolido, como se digerido, pelo escritor. O que não significa que a carga filosófica de As ilhas ou O estrangeiro seja ínfima. Não. Mas ela é comunicada por imagens, alegrias intensas ou soluços, o movimento branco de uma nuvem, a pele das mulheres”.

No prefácio que Camus escreveu para a reedição de 1959 de As ilhas, pontua que o livro representou para sua geração uma iniciação ao desencanto do mundo.  Continue lendo

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Guia de Leitura

Reflexões filosóficas sobre o riso, o humor, o cômico ou o ridículo

7 agosto, 2015 | Por Isabela Gaglianone

Após o lançamento de Graça Infinita, de David Foster Wallace, e as discussões a respeito da ironia de seu título, bem como da dificuldade de sua tradução para o português – Infinite Jest –, reunimos alguns textos interessantes sobre a galhofa, a bufonaria, a risada, a piada, a ironia.

 

Shaftesbury, “Characteristics os men, manners, opinions and times”

Shaftesbury – Anthony Ashley Cooper, III Conde de Shaftesbury – é um daqueles filósofos cujas ideias tornaram-se freáticas; pouco comentado atualmente, desenvolveu reflexões que foram base para o desenvolvimento da filosofia moderna. O seu muito irônico Sensus communis, or na Essay on the freedom of wit and humor ainda não tem tradução para o português, porém, é fundamental para pensar as dimensões políticas, morais e estéticas do riso, do ridículo, da zombaria, do humor fino e engenhoso.

O texto é escrito em forma de carta, a um suposto amigo que ficara atônito e perturbado com a defesa, expressa por parte do autor, da zombaria. Shaftesbury explica que a zombaria pode ser justa, pois apenas pode ser considerado verdadeiro aquilo que suporta todas as luzes da verdade, inclusive o crivo do ridículo. Seguindo a tradução de Márcio Suzuki, no artigo “Quem ri por último, ri melhor”: “de acordo com a noção que tenho de razão, nem os tratados escritos do erudito, nem os discursos do orador são capazes, por si sós, de ensinar o uso dela. Somente o hábito de raciocinar pode fazer o arrazoador. E não se pode convidar melhor os homens a esse hábito do que quando têm prazer nele. Uma liberdade de zombaria, uma liberdade de questionar tudo em linguagem conveniente e uma permissão de desembaraçar e refutar cada argumento sem ofender o argüidor, são os únicos termos que de algum modo podem tornar agradáveis as conversas especulativas”. Somente uma conversa desimpedida pode proporcionar o uso pleno da razão. E o “wit”, palavra e difícil tradução para o português que significa algo como um dito espirituoso, um chiste, junto com o humor, permite uma conversa agradável e polida, na qual, Shaftesbury diz: “Em matéria de razão, mais se dá em um minuto ou dois, por meio de questão e resposta, do que por um discurso corrido de horas inteiras”. Inclusive, para o filósofo, “sem wit e humour, a razão dificilmente pode pôr-se à prova [take its proof] ou ser distinguida”Continue lendo

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Resenhas

Reflexões sobre o abuso estético

1 agosto, 2015 | Por Isabela Gaglianone

Jean Galard, Beleza Exorbitante

[Editora Fap-Unifesp, 2012. Tradução de Iraci D. Poleti]

fotografia de Sebastião Salgado, de "Êxodos"

fotografia de Sebastião Salgado, de “Êxodos”

A partir da crítica que a exposição Êxodos, do renomado fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado, suscitou na França, o filósofo Jean Galard perpassa a história da arte para encontrar o cerne estético dos desdobramentos morais da obra de arte em geral, do ensaio-documentário fotográfico, em particular.

Trata-se de uma breve pontuação crítica ao juízo de gosto contemporâneo, que ainda encontra no belo seu fundamento. Que se insere na problemática da “estetização” da vida, do mundo – noção discutida no cenário filosófico francês contemporâneo por autores como Gilles Lipovetsky, Jean Serroy[1], Yves Michaud, Baudrillard.

O texto parte de um levantamento empírico – “Diante da realidade brutal” – e então retoma exemplos da história e da teoria da arte para introduzir a questão propriamente estética, e primeira, sobre a própria representação. Ao pensar sobre a estetização da dor, Galard põe em questão o papel da arte e de sua relação com a sociedade e seus valores. A reflexão que seu texto tece extrapola a questão fotográfica e a utiliza como base para abordar de maneira crítica a relação estética entre realidade e representação, mas tomada enquanto princípio de uma dinâmica sociológica da arte. A apreensão “sensacionalista” de uma “estética da fome”[2] caminha junto com a espetacularização da sociedade.

A própria intencionalidade do olhar é analisada de maneira crítica. O estatuto da imagem no mundo contemporâneo, negativo de um questionamento sobre o belo, embate-se necessariamente com uma discussão moral e ética.  Continue lendo

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História, literatura, filosofia

13 julho, 2015 | Por Isabela Gaglianone

montaigne_II

Antoine Compagnon é conhecido por realizar uma crítica literária cujo viés histórico a torna particularmente sensível às ideias filosóficas, artísticas e sociológicas . Nascido em Bruxelas, o autor é professor da Universidade de Columbia e do Collège de France.

Ao longo dos quarenta capítulos que compõem Uma temporada com Montaigne, ele retoma os Ensaios do filósofo em toda sua exuberância intelectual e profundidade histórica.

Com uma prosa tão clara quanto erudita, o livro é composto à maneira dos ensaios: como conversas – mesmo porque o livro originou-se de um programa radiofônico diário, em que as leituras foram apresentadas durante um verão. Compagnon vivifica a atualidade dos ensaios, enquanto formas ao mesmo tempo literárias e filosóficas, passando por temas como a mortalidade, os limites do conhecimento, a amizade, a construção da identidade.  Continue lendo

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Guia de Leitura

Filósofos e literatos que pontuam Mallarmé como o principal marco de ruptura com a poesia pregressa

26 junho, 2015 | Por Isabela Gaglianone

Mallarmé como fundamental instaurador de questões contemporâneas que ultrapassam a forma poética.

 

Stéphane Mallarmé (1842-1898) inaugurou questões e possibilidades para a poesia, tão profundas, que ainda não plenamente decifradas pela crítica literária contemporânea. Precursor da poesia concreta, influência decisiva para os poetas futuristas e dadaístas, Mallarmé é, sobretudo, conhecido como um escritor cuja prosa e poesia primam pela musicalidade e experimentação gramatical.

 

Sartre, “Mallarmé”

Sartre, no livro Mallarmé – sem tradução para o português –, analisa que o poeta, em sua obra, nega o homem, pois que transforma “o eterno em temporalidade e o infinito em acaso”.

Antes de Camus, Mallarmé teria percebido, segundo o filósofo, que o suicídio é uma questão humana premente, trabalhada, em sua poesia, através do poema crítico, em que a elocução do poeta desaparece em favor da autonomia das palavras.

Mallarmé cria uma articulação sintática inovadora a partir de uma desconexão, um distanciamento, que faz com que as palavras orbitem em torno umas das outras não por uma necessidade semântica, mas por relações analógicas.

De acordo com Sartre, Mallarmé cria uma linguagem em que a palavra se torna coisa. Segundo o filósofo, “le poème est la seule bombe” [“o poema é a única bomba”], frase provinda de uma metáfora-ideia política de Mallarmé. Poemas podem ser bombas, pois exploram e esgotam as relações dos significantes que abarcam.

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A ambiguidade como valor

27 maio, 2015 | Por Isabela Gaglianone
botticelli

Botticelli

Obra Aberta – Forma e Indeterminação nas Poéticas Contemporâneas, estudo clássico de Umberto Eco, acaba de ser reeditado pela Perspectiva.

A tese do filólogo italiano, grosso modo, baseia-se na ideia da obra de arte como inacabada, de modo a exigir de seus receptores, portanto, uma participação ativa, uma percepção peculiar entre inúmeras possibilidades interpretativas. Eco investiga o prazer estético proveniente do embate com uma obra ambígua, que concede a seu receptor a livre ressignificação contínua.  Continue lendo

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Romantismo e revolução

22 maio, 2015 | Por Isabela Gaglianone
Goya, gravura da série "Os desastres da guerra"

Goya, gravura da série “Os desastres da guerra”

O livro Revolta e melancolia: O romantismo na contracorrente da modernidade, de Michael Löwy e Robert Sayre, estava esgotado no Brasil há alguns anos e acaba de ser reeditado pela Boitempo. Os sociólogos analisam a vertente revolucionária da tradição romântica.

Segundo eles, o romântico é uma visão de mundo complexa que persiste até nossos dias, enquanto resposta ao modo de vida da sociedade capitalista.

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Nossa matriz romântica

14 maio, 2015 | Por Isabela Gaglianone
Isaiah Berlin

Isaiah Berlin

Isaiah Berlin é um dos grandes nomes da intelectualidade ocidental, conhecido, entre outros, por seus Quatro Ensaios sobre a Liberdade [UnB, 1981, esgotado].

Acaba de ser lançada no Brasil uma tradução de As raízes do Romantismo, um estudo instigante, erudito e profudamente interessante sobre a revolução, na filosofia e nas artes, que causou, a partir do final do século XVIII, o surgimento do movimento romântico.

Para realizar a investigação sobre as origens filosóficas do movimento, Berlin analisa a obra de alguns dos principais pensadores do Romantismo, entre eles, Fichte, Schelling, Herder, Blake e Byron, tecendo uma densa reflexão sobre sua herança intelectual, estética e política, sobretudo levantando a contribuição de cada autor e respectiva obra enquanto fundação para valores fundamentais à democracia, como a liberdade, o pluralismo e a tolerância.

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Ensaio filosófico

13 maio, 2015 | Por Isabela Gaglianone

gravura de Marcelo Grassmann

O mito de Sísifo, é um livro de terrível beleza. Camus, com a sua peculiar aguda compreensão do mundo, aqui apreende o horror sutil das armadilhas do cotidiano, intransigente inconformismo em constante luta com a lucidez.

Trata-se de um dos mais instigantes ensaios de Albert Camus. O texto foi publicado originalmente em 1942, tematizando o absurdo e o suicídio justamente durante a Segunda Guerra Mundial, momento em o mundo vivia com plenitude a absurdidade. A oposição da brutalidade à racionalidade, encontra, sob a pena de Camus, na figura mitológica de Sísifo e de sua condenação eterna a empurrar uma grande pedra ao alto da montanha de onde ela torna a cair, trabalho inútil e sem esperança, uma representação da situação contemporânea.  Continue lendo

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Capitalismo artista

7 maio, 2015 | Por Isabela Gaglianone

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Cada dia mais, o estilo, o design e a beleza se impõem como imperativos estratégicos das marcas. O apelo ao imaginário e a habilidade em despertar a emoção dos consumidores impulsionam a criação massiva de mecanismos de sedução, no design, na moda, no cinema, nos produtos. Arte e mercado nunca antes se misturaram tanto, exagerando, na experiência contemporânea, o alcance do desdobramento das dimensões do valor estético. Gilles Lipovetsky e o crítico de arte Jean Serroy, investigam essas relações, A estetização do mundo e o aparentemente paradoxal conceito do capitalismo artista.

Desvendando a superficialidade de um mundo em “tudo segue a lógica da moda: é efêmero e sedutor”, os autores investigam as transformações do capitalismo e do consumo, bem como seus alcances na individualidade dos sujeitos.

Sua análise mostra que a cultura e sua expressão artística se converteram em simples negócio de mercado. Assim, a arte hoje impregna o mundo comum.  Continue lendo

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Escatológico e histórico

5 maio, 2015 | Por Isabela Gaglianone

Gustave Doré

Novo lançamento de Giorgio Agamben no Brasil, O mistério do mal reflete sobre a renúncia do papa Bento XVI, interpretando-a através de uma articulação teológica e política, ao mesmo tempo que escatológica e histórica. O filósofo italiano encontra, sob sua análise, a problematização da crise da sociedade e das instituições contemporâneas, na qual é ponto crucial uma confusão entre legalidade e legitimidade. Sua reflexão também recai sobre o atual papel da Igreja.  Continue lendo

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Desumanização

2 abril, 2015 | Por Isabela Gaglianone
Matisse

Matisse

“A ‘realidade’ assedia constantemente o artista visando impedir a sua evasão. Que astúcia não supor a fuga genial! Terá de ser a de um Ulisses às avessas, que se liberta da sua Penélope quotidiana e navega, entre escolhos, rumo ao bruxedo de Circe. Quando consegue escapar por um momento à perpétua cilada, não levemos a mal ao artista um gesto de soberba, um breve gesto à maneira de São Jorge, com o dragão jugulado aos seus pés”. 

 

No ensaio A desumanização da arte o filósofo espanhol Ortega y Gasset traça uma análise crítica sobre a estética e a história da arte desde o período romântico até às vanguardas do século XX, buscando as razões para a impopularidade das novas artes.

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