Arquivos da categoria: lançamentos

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Esqueça a palavra

27 janeiro, 2015 | Por Isabela Gaglianone
evandro carlos jardim

Evandro Carlos Jardim, gravura em metal

Adriana Lisboa é reconhecida por seu trabalho literário em prosa, pelo qual já venceu prêmios como o Prêmio José Saramago, por Sinfonia em branco.

Parte da paisagem, sua mais recente publicação, porém, apresenta um outro lado, menos conhecido, de seu trabalho: sua produção poética. Trata-se de uma compilação de cinqüenta poemas, notáveis sobretudo pela musicalidade. Por entre temas variados, sua poética perpassa referências cinematográficas, esmiúça a vida por trás das letras – bem como seu caráter indicial de morte –, atravessa minúcias do cotidiano.

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Racionalidade instrumentalizada

21 janeiro, 2015 | Por Isabela Gaglianone

Técnica e ciência como “ideologia”, de Jürgen Habermas, é uma coletânea de cinco ensaios, publicada originalmente em 1968. O ensaio cujo título dá nome ao volume originou o livro que seria publicado treze anos mais tarde, Teoria da ação comunicativa, considerado o ponto nevrálgico de toda a produção filosófica de Habermas.

Em suas considerações iniciais à obra, o filósofo aponta os ensaios “Técnica e ciência como ideologia” e “Conhecimento e interesse” – transcrição de uma aula inaugural, por ele proferida na Universidade de Frankfurt – como diferentes dos demais da coletânea, por não serem meros “trabalhos de ocasião”.

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Rapsódias do andarilho

16 janeiro, 2015 | Por Isabela Gaglianone

Robert Walser

Robert Walser nasceu em Biel, na Suíça, em 1878; foi encontrado morto, em 1956, na neve, em Herisau, pouco longe do instituto psiquiátrico que habitava havia vinte e três anos. Ao longo de sua vida, não obteve reconhecimento e, quando após sua morte, enfim passou a ser lido e admirado, o foi por autores como Kafka, Musil, Hesse, Canetti, Benjamin.

Walser, que escreveu poemas e quatro romances, conseguiu, também em suas prosas curtas, manifestar seu gênio. Este volume, Absolutamente nada e outros contos, reúne mais de quarenta minicontos, além de esquetes, solilóquios e improvisos escritos entre 1907 e 1929. Traduzidos por Sérgio Telleroli, estes textos apresentam um vasto panorama da prosa walseriana.

Versam sobre temas variados, como uma caminhada pelo campo, uma viagem de balão, um quarto alugado, calças compridas, um macaco num café, flores, Kleist ou Cézanne. Mesmo “absolutamente nada” pode lhes ser matéria-prima.

Walser é conhecido por uma prosa delicada e precisa. Segundo Walter Benjamin, “as figuras humanas de Robert Walser partilham sua nobreza infantil com as personagens dos contos de fadas”. Continue lendo

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Vita da l’aspro tormento

15 janeiro, 2015 | Por Isabela Gaglianone

Simone Martini Siena, cerca de 1284 – Avignon, 1344), detalhe de “Annunciazione” – Galleria degli Uffizi, Firenze

Em co-edição, a Ateliê Editorial e a Editora da Unicamp acabam de lançar Cancioneiro, de Petrarca, poema que, concluído por volta de 1370, foi, desde então, o principal modelo no Ocidente para o desenvolvimento de toda a arte poética lírica vindoura. Ainda que a tradição laureie os poemas esculturais dantescos, em Petrarca a solenidade torna-se metafísica e suas marcas calam fundo na poesia até os dias de hoje.

Com tradução de José Clemente Pozenato, o volume traz os 366 poemas, sendo 317 sonetos, 29 canções, 9 sextinas, 7 baladas e 4 madrigais. O tema em torno do qual desenvolvem-se os poemas é o amor, em vida e depois da morte de Laura. Entremeados a estes, há poemas que contextualizam ao leitor o cotidiano do poeta, com marcações como o rodar de um tear, por uma mulher velha, de manhã bem cedo.

O resgate da Antiguidade empreendido por Petrarca foi de importância fundamental para o início do Renascimento italiano. Continue lendo

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A prosa precisa de Bábel

14 janeiro, 2015 | Por Isabela Gaglianone

Kandisnky, “Der Blaue Reiter”

A Editora 34 acaba de lançar No campo da honra e outros contos, do russo Isaac Bábel, com tradução de Nivaldo dos Santos e prefácio de Boris Schnaiderman.

O volume reúne 32 contos, a maior parte em sua primeira tradução direta para o português. São textos produzidos ao longo de toda a carreira literária de Bábel, provas de seu estilo sintético, essencial, inigualável. Aqui o leitor pode ter acesso tanto ao seu primeiro conto, publicado em 1913, quanto ao último, “O julgamento”, publicado em 1938. A seleção contempla todos os temas caros à produção literária de Bábel, os relatos da infância vivida na Moldavanka, o bairro judeu de Odessa, as histórias de sua juventude aventureira, os contos surpreendentes sobre a guerra.

O chamado ciclo “No campo de honra” foi inciado por Bábel no início de 1920, quando publicou, na revista político-literária Lava, um conjunto de quatro contos, inspirados na obra de Gaston Vidal sobre a 1ª Guerra Mundial.

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história

História filosófica

18 dezembro, 2014 | Por Isabela Gaglianone

“Se nem todo filósofo deve ser historiador, seria ao menos desejável que todo historiador se tornasse filósofo” – Edward Gibbon.

Afresco de Pompeia

Ensaios de história, de Edward Gibbon, acaba de ser publicado pela editora Iluminuras, sob a tradução cuidadosa de Pedro Paulo Pimenta. O livro reúne textos da juventude do historiador, conhecido sobretudo pelo estudo clássico Declínio e queda do Império Romano. Alguns dos ensaios reunidos no volume são “Ensaio sobre o futuro da história”, “Dos triunfos romanos”, “Situação da Germânia antes da invasão pelos bárbaros” e “Maneiras das nações pastoris”. Gibbon é exemplar representante de uma concepção e um método da história filosófica, como praticada por seus predecessores, Tácito, Montesquieu, Hume.

Pedro Pimenta, também responsável pelo texto de apresentação, pontua a relevância dos textos como complementos à edição condensada brasileira de Declínio e queda (cuja tradução, segundo ele, é “um clássico de José Paulo Paes”, mas exclui duas dissertações de interesse para essa tese geral, uma delas sobre os germânicos, a outra sobre os citas, ou hunos, ambas incluídas neste volume). Pimenta pontua: “O volume que o leitor tem em mãos traz pela primeira vez em língua portuguesa esse escrito de juventude, cujo caráter polêmico e estilo vigoroso caem bem a um jovem autor cheio de ambição e confiança”.

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A arte pela arte

11 dezembro, 2014 | Por Isabela Gaglianone

“Toda arte aspira constantemente à condição de música”.

Leonardo da Vinci

Para Walter Pater (1839-94), a Renascença foi um movimento motivado pelo “amor pelas coisas do intelecto e da imaginação por elas mesmas”. Seu estudo, O Renascimento, mostra que durante o período em questão buscou-se meios de “fruição intelectual ou imaginativa”, nas fontes antigas, os textos clássicos e medievais.

Pater foi professor de Oxford, especialista em arte e história do Renascimento, e notório sobretudo por seu estilo refinado. Seus ensaios visam, sobretudo, compreender os efeitos caudados pela recepção da pintura, da escultura e das obras literárias renascentistas. Seu esforço ensaístico principal parece ser olhar os objetos como se vistos pela primeira vez: para tanto, ele usa suas próprias impressões pessoais, para que, a partir delas, possa encontrar a gênese das sensações e emoções estéticas, que procura traduzir. O resultado é uma linguagem que, para falar da criação artística, acaba tornando-se uma por si só. Pater toma seu objeto de análise não como matéria inerte, mas preservando sua autonomia, enquanto ideia, antes do que realidade efetiva.

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lançamentos

Trágico e irônico, cheio de subentendidos

4 dezembro, 2014 | Por Isabela Gaglianone

Filho e neto de pianistas apaixonados por música clássica, Jean Echenoz leva das partituras para a literatura o rigor preciosista. Seu último romance, 14, publicado pela editora 34 com tradução feita por Samuel Titan Jr., é um artefato de concisão perfeita, a apresentar um panorama da Primeira Guerra Mundial. Echenoz disse, em entrevista, escrever com imagens, dentro de um método visual que mistura imaginação e linguagem; a precisão dessas imagens, bem como dos ângulos pelos quais são apresentadas e desenvolvidas, é, neste livro, notável. O escritor, vencedor do Prêmio Goncourt de 1999 e um dos mais respeitados nomes da literatura francesa contemporânea, em 14 retrata, ao longo de quinze breves capítulos, a guerra a partir das histórias individuais de cinco amigos e uma mulher, que partem para o front sem imaginar o que poderiam esperar. A perspectiva da gente comum, que se viu entregue à própria sorte, sem saber se sobreviveriam à longa matança e se viriam a recomeçar suas vidas, um dia, é delineada por Echenoz em um estilo apurado, avesso a toda ênfase sentimental ou épica. A narrativa mostra a separação entre a euforia dos primeiros dias, em meio à qual acreditava-se que seria uma questão de dias até que a guerra acabasse, e o longo horror das trincheiras. O livro conquistou a crítica, foi um sucesso de vendas e é considerado uma obra-prima.

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Artes Plásticas

Cem anos de Iberê

2 dezembro, 2014 | Por Isabela Gaglianone

Iberê Camrgo, pintura da série “Carretéis”

Em homenagem ao centenário do nascimento do artista plástico Iberê Camargo (1914 – 1993), acaba de ser lançado, pela CosacNaify, o livro Cem anos de Iberê, organizado pelo crítico de arte e curador Luiz Camillo Osorio, responsável pelo texto de apresentação e pela seleção das mais de duzentas imagens que compõem o volume. Osorio traça um panorama retrospectivo da obra de Iberê, reunindo gravuras, desenhos e sobretudo pinturas. O livro conta também uma rica sugestão bibliográfica e com a reunião de treze textos curatoriais, escritos para exposições do artista realizadas pela Fundação Iberê Camargo.

Iberê é certamente um dos maiores nomes da arte brasileira do século XX. Sua obra é pungente, é material e formalmente dramática. Estruturada por uma poética complexa, cuja resistência confere um caráter dialógico a cada movimento plasmado no papel, na chapa, na tela, sua obra estabelece uma relação profunda entre a construção e a expressividade. Suas soluções formais transformam a matéria bruta em afirmações profundas.

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lançamentos

O bonito do feio, do desviante, do errado

27 novembro, 2014 | Por Isabela Gaglianone

Grotesco, irônico, filosófico, jocoso: complexo; Graça infinita, de David Foster Wallace (1962 – 2008), é um dos acontecimentos literários mais aguardados e comentados do ano. Publicado originalmente em 1996, o aclamado Infinite Jest finalmente ganha uma – ótima – edição no Brasil, pela cuidadosa tradução de Caetano Galindo.

O autor debruçou-se sobre esta, que é considerada sua obra-testamento, por mais de uma década. Foi seu segundo e último romance, cultuado por sua bem-humorada e satírica densidade e profundidade.

gravura de Delacroix

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lançamentos

Investigação, metafórica

26 novembro, 2014 | Por Isabela Gaglianone

Xilogravura japonesa [Ukiyo-e] erótica [shunga] de Katsuhika Hokusai

Certa noite, Shizuka Kanai relembra em retrospecto a tomada de consciência da própria sexualidade. Vita sexualis, de Ogai Mori, acompanha essa linha de pensamento íntimo sob a forma de diário, ao longo de uma narrativa que é considerada patrimônio cultural pela Unesco, pois traça um panorama vasto da maneira como a vida íntima era tratada no Japão na década de 1910. Autobiográfica, a história acompanha o desenvolvimento sexual do protagonista, desde as mais tenras e inocentes experiências, aos seis anos, até seu encontro com uma cortesã profissional, aos vinte e um anos, quando sai do Japão para estudar na Alemanha. Toda a narrativa, porém, ocorre sob o signo da discrição tipicamente japonesa da época. A obra não tem o erotismo que seu título sugere, antes explora o conteúdo psicológico de observações e reflexões do protagonista.

O livro é mais do que uma lasciva novela erótica, sua riqueza, sobretudo enquanto história social, de valores e costumes, é notável. Continue lendo

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O problema está em saber quem é que manda.

21 novembro, 2014 | Por Isabela Gaglianone

fotografia de Martin Parr

Gilberto Dupas identificou O mito do progresso: constantemente renovado por um aparato ideológico capaz de fundamentar a ideia de que a história teria um destino certo e glorioso; o cientista social, neste ensaio, analisa a quem o progresso serve e quais são seus riscos e custos de ordem social, ambiental e em termos de sobrevivência da espécie. Dupas busca, assim, levantar elementos que desconstruam o discurso hegemônico sobre a globalização associada à ideia de progresso necessário. Seu texto aponta os problemas deste progresso, mostra-o como discurso dominante das elites globais, que traz consigo exclusão, concentração de renda, subdesenvolvimento, danos ambientais, restrição dos direitos humanos essenciais, riscos decorrentes da microbiologia e da genética, bem como graves dilemas éticos e morais. O tão falado “progresso” é um mito. Uma construção ideológica, que valida interesses econômicos e políticos restritos.

Lançado originalmente em 2006, o livro acaba de ser republicado pela Editora Unesp.

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lançamentos

Aqui é a fronteira

19 novembro, 2014 | Por Isabela Gaglianone

O beijo de Judas

O novo livro de Amós Oz, Judas, tematiza com profundidade e lirismo a traição, sobretudo ideológica, e seus versos e reversos. O escritor é conhecido por defender uma solução menos belicista ao conflito judaico-palestino: a dissolução do território em dois países, Israel e Palestina; por isso, é visto como um “traidor” da causa israelense. O título alude a isso, de maneira irônica e precisa. Seu romance tece uma reflexão lúcida sobre o destino do povo judeu, as cicatrizes históricas e individuais na infindável guerra, que remonta a tempos imemoriais.

A traição conforme colocada por Amós Oz, porém, traz uma ideia diferente da usual, alguém considerado em traidor pode ser o mais leal dos indivíduos, alguém à frente de seu tempo que deve tomar decisões impopulares, ainda que necessárias.

Judas é um exemplo notável da densidade da literatura de Oz. Continue lendo

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lançamentos

O poeta em que o verbo fez-se carne

18 novembro, 2014 | Por Isabela Gaglianone

Quantas vezes as carapinhas hão de embranquecer
Para que os canaviais possam dar mais doçura à alma Humana?

Lasar Segall

Acaba de ser republicado o livro Poemas negros de Jorge de Lima, em edição que recupera a primeira, publicada em 1947, com ilustrações de Lasar Segall e prefácio de Gilberto Freyre. São poemas marcados por uma envolvente musicalidade e apelo aos sentidos. Localizados entre o engenho e o navio negreiro, formam uma história poética do negro no Brasil, da influência do escravo na cultura brasileira, também da crueldade do tratamento servil a que foram submetidos. Jorge de Lima ultrapassa o folclórico pitoresco e recria a paisagem nordestina, canta as lavadeiras na lida, descreve o ar “duro, gordo, oleoso” da madorna, o chamado da “Negra Fulô” pela sinhá, para a abanar, pelo sinhô, para a açoitar.

Segundo Vagner Camilo, professor de Letras Clássicas e Vernáculas na USP, responsável pelo texto acrescido como posfácio à edição, conforme diz no artigo “Jorge de Lima no contexto da poesia negra americana”, os poemas falam “dos seres que povoam seu universo afro-poético em termos de personagens (e situações) típicas, equiparáveis ao universo pictórico de Segall (não só os óleos sobre tela, mas também os grafites sobre papel), embora no caso de Poemas negros várias delas oscilem entre o tipo e a individualidade, incluindo-se aquelas que são evocadas pela memória da infância do poeta, como Celidônia, Zefa Lavadeira, Maria Diamba e Benedito Calunga”. Continue lendo

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Artes Plásticas

Natureza ambígua

17 novembro, 2014 | Por Isabela Gaglianone

escultura de Cícero Alves dos Santos, o “Véio”

A arte contemporânea tornou menos nítidas as fronteiras entre o mundo e o museu. Instalações nas ruas, grafites nas galerias, artes de deriva são exemplos. Também o é uma arte considerada por muitos ingênua, composta por esculturas feitas com madeira encontrada na mata por um artista popular sergipano, exibida em São Paulo até dezembro, que provoca o ressurgimento da questão sobre a validade artística: o delicado trabalho de Cícero Alves dos Santos, o Véio, rompe preconceitos e apaga a suposta linha divisória entre arte popular e erudita.

Feitas sobretudo com galhos, troncos e raízes, suas esculturas ganham exposição na Galeria Estação, com curadoria do crítico Rodrigo Naves, e também uma bela análise, no livro Véio – Esculturas, publicado pela WMF, com textos do crítico. Tanto a exposição quanto a publicação do livro visam proporcionar uma ampliação da recepção da potência significativa da obra deste artista. O livro sugere que diante dos trabalhos de Véio, artista visionário que, vivendo em uma região em que são rígidos os limites entre campo e cidade os extrapola, estabelecem-se questões amplas sobre a conceituação do que seja arte.

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