Luta por reconhecimento – A gramática moral dos conflitos sociais, de Axel Honneth, desenvolve uma teoria social normativa baseada na ideia de que o florescimento humano e a plena realização pessoal dependem da existência de relações éticas bem estabelecidas. Honneth, filósofo e sociólogo alemão, é diretor do célebre Instituto de Pesquisa Social de Frankfurt e, herdeiro da Teoria Crítica fundada por Horkheimer e Adorno, seguiu a proposta de Habermas ao sugerir uma teoria como solução aos impasses de seus antecessores; é considerado, atualmente, o representante da terceira geração da “Escola de Frankfurt”.
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Consciência da terra e do oceano, tal é a ilha deserta
O livro A ilha deserta é composto por uma sequência heterogênea de textos de Gilles Deleuze. São vários textos esparsos, publicados entre 1953 e 1974; pequenas pérolas, entre resenhas, entrevistas, textos circunstanciais, depoimentos e conferências, há artigos luminosos sobre Bergson, Kant, Nietzsche, Hume, uma comovente homenagem a Sartre – “Ele foi meu mestre” –, uma conversa ensandecida sobre pintura –“Faces e Superfícies” – e o enigmático texto que dá título ao volume, que foi inusitadamente preparado para uma revista de turismo – único texto realmente inédito desta coletânea.
Sondagens, exploração, sobrevôos
Lançamento de hoje, o livro O que é o cinema?, de André Bazin, traz uma coletânea de ensaios fundamentais, não só sobre questões do cinema em si e de sua história, mas articulando-as a suas relações com a filosofia, com a própria ideia de representação, com fotografia, teatro e literatura. Bazin tece uma crítica versátil, clara e instigante. Seus ensaios são reflexões estimulantes, que transitam da escola italiana e soviética ao universo do western e das pin-ups. Mas o autor adverte, o título “não é bem a promessa de resposta, mas antes o enunciado de um problema que o autor se colocará ao longo das páginas”.
O caos como regra
“Se a esquerda intelectual brasileira pretende mesmo algum dia despertar do coma profundo em que se encontra, creio que a primeira providencia seria repassar os grandes lugares-comuns de nossa tradição crítica por um prisma teórico e político à altura da ruptura de época que estamos atravessando as cegas.”
Novo lançamento, o livro de Paulo Eduardo Arantes O novo tempo do mundo: e outros estudos sobre a era da emergência, analisa o nosso, como um tempo em contínua guerra civil, marcado por uma generalizada ausência de perspectivas, por um estado de exceção permanente, pela alastrada catástrofe ambiental, pelo colapso urbano que culmina na militarização do cotidiano: uma era de perpétua emergência, em que esquerda e direita confluem na gestão de programas de urgência. Os ensaios que compõem o livro analisam e refletem sobre as manifestações ocorridas em junho de 2013, o extermínio colonial, a economia de guerra, a indústria dos presídios, as UPPs, o trabalho nos campos de concentração, as revoltas nos guetos, o golpe militar de 64 e o desafio de pensar a experiência da história em uma era de expectativas decrescentes. Continue lendo
Poder e saber
Aulas sobre a vontade de saber traz a transcrição do primeiro curso ministrado por Michel Foucault no Collège de France. Antecipa temas que foram posteriormente desenvolvidos em Vigiar e Punir e no primeiro volume da História da sexualidade, sobretudo. Sua publicação visa evidenciar uma profunda unidade em sua obra, um projeto que vai de Vigiar e punir (1975) e seu desenvolvimento dos temas do poder e da norma, a O uso dos prazeres e O cuidado de si (1984), voltados para a ética da subjetividade.
Foucault, destrinchando as estruturas do poder, pensa a relação entre a verdade e o poder, estabelecendo uma tese de mútua implicação entre o saber e o poder, articulada na produção do sujeito.
Metatradução
Alain Badiou é considerado um dos principais filósofos franceses da atualidade e um dos mais importantes intelectuais vivos. Atualmente, é professor emérito da École Normale Supérieure de Paris, onde criou o Centre International d’Étude de la Philosophie Française Contemporaine. Sua trajetória intelectual é marcada pelo ativismo político. Não é à toa, portanto, que neste volume ele se volte a um dos textos mais importantes da história da filosofia e da humanidade, o famoso diálogo de Platão A República – texto que discute uma cidade ideal em que a cidadania seria fruto da bom exercício da práxis política. Badiou, ao retraduzir a obra e adaptá-la aos nossos tempos reafirma a universalidade do texto, removendo todas as alusões específicas à sociedade grega antiga e inlcuindo as referências culturais contemporâneas. Continue lendo
Aos espíritos livres
Mais que uma coletânea panorâmica do pensamento de Friedrich Nietzsche, este volume abarca uma compreensão da obra do filósofo. Os textos, selecionados por Gérard Lebrun, saudoso professor do Departamento de Filosofia da USP, respondem a duas questões: por que e como ler Nietzsche. Há, afinal, uma maneira “lebruniana” de trabalhar a filosofia de Nietzsche, como bem analisou o professor Ivo da Silva Júnior em artigo publicado nos Cadernos Nietzsche: para Lebrun, “não se tratava de pensar a partir de Nietzsche ou com ele as questões da contemporaneidade. Tratava-se de avaliar os tempos atuais por meio da História da filosofia. Nada mais indicado então que a filosofia de Nietzsche para fornecer os “instrumentos” para esse trabalho avaliativo”. Este volume das Obras incompletas, além da cuidadosa seleção de textos, conta com a precisa tradução de Rubens Rodrigues Torres Filho, prefácio e revisão técnica de Márcio Suzuki, além de posfácio de Antonio Candido. Um time de peso intelectual incomparável faz, desta edição, portanto, uma pequena joia editorial.
Os paradoxos da corrupção
“O homem nasce livre, e por toda a parte encontra-se a ferros. O que se crê senhor dos demais, não deixa de ser mais escravo do que eles. Como adveio tal mudança? Ignoro-o. Que poderá legitimá-la? Creio poder resolver esta questão”.
(Rousseau, na tradução brasileira de Lourival Gomes Machado).
O pensamento de Rousseau abre um abismo entre o ser e o dever ser, onde o dever ser aparece como uma exigência de realização. É assim que Olgária Matos define o Segundo Discurso – Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens – como uma “arqueologia da desigualdade”, termo também utilizado por Bento Prado Jr., em “Rousseau: filosofia política e revolução”.
Presença de uma ausência
Como sugere o título, neste livro são analisadas três categorias centrais do pensamento benjaminiano – rastro, aura e história. O livro é fruto de um trabalho produzido coletivamente pelo Núcleo Walter Benjamin, coordenado por Georg Otte e Élcio Cornelsen, entre outros, e que, desde 2006, vem dedicando-se a pesquisar e divulgar os trabalhos do pensador alemão. Em forma de ensaios são reunidos, nesse volume, as principais comunicações proferidas durante o segundo Colóquio Internacional do núcleo, realizado em 2010 na Universidade Federal de Minas Gerais e intitulado “Spuren: rastros, traços, vestígios”. O livro conta ainda com preciosas contribuições de convidados, o que o torna amplo e diversificado. Há reflexões teóricas exclusivamente benjaminianas, tais como as de Rolf-Peter Janz e de Jeanne Marie Gagnebin, que, num viés filosófico, procuram delimitar os conceitos de aura e de rastro. Há trabalhos comparativos que estabelecem relações entre Benjamin e outros pensadores. Há ainda trabalhos que relacionam conceitos e formulações de Benjamin usados na abordagem de diferentes realidades, como Márcio Seligmann-Silva, que usa o conceito de rastro para abordar a obra da artista plástica Regina Silveira, ou Willi Bolle, que procura ler a cidade de Belém a partir dos mesmos protocolos que Benjamin mobiliza para ler Paris, na obra das Passagens.
O valor crítico do erro
Erro, ilusão, loucura, publicado pela Editora 34, reúne cinco conferências realizadas pelo filósofo Bento Prado Jr. entre 1994 e 1996; o livro apresenta também uma entrevista da mesma época, além de um artigo mais recente, no qual ele retoma sua conhecida reflexão sobre a obra de Bergson. Esta é uma das mais relevantes publicações do filósofo brasileiro, ao lado de Presença e campo transcendental: consciência e negatividade na filosofia de Bergson – traduzido para o francês em 2002 e considerado obra de referência para os estudiosos do tema no mundo todo.
A partir de comentários em torno de uma gravura dos “Desastres da guerra”, de Goya, o livro desenvolve-se tendo, como ponto de encontro dos textos reunidos, a investigação sobre o lugar do sujeito; Continue lendo
Poesia e política
Escritos sobre mito e linguagem reúne sete ensaios escritos por Walter Benjamin entre os anos 1915 a 1921, pertencentes, portanto, à sua fase de juventude, em geral pouco estudada no Brasil. A tradução dos textos foi feita por Susana Kampff e Ernani Chaves. O livro, publicado pela editora 34 e organizado pela especialista Jeanne Marie Gagnebin – também responsável pelo texto de apresentação e pelas notas –, é composto por trabalhos propriamente literários, textos de natureza estética ou que se encontram na fronteira entre literatura e filosofia e ensaios que manifestam o princípio do núcleo do pensamento filosófico benjaminiano: resguarda um momento fundamental do percurso intelectual de Walter Benjamin, em que a dialética dialoga diretamente com a metafísica, etapa filosófica responsável pela configuração original de seu pensamento – a despeito da fragmentação teórica – para iluminar a arte, a linguagem, a religião, a história, a violência. Na apresentação, Jeanne Marie Gagnebin analisa que “a preocupação de Benjamin com a problemática do mito, tão evidente nestes escritos de juventude, parece ser justamente a outra vertente de sua preocupação com a história – preocupação que só tenderá a crescer, adotando feições mais nítidas e materialistas a partir do fim dos anos vinte”. Segundo ela, “sem uma reflexão sobre Sprache, ‘língua’ e ‘linguagem’, […] não há a possibilidade […] de pensar a razão e a racionalidade humanas“, a razão e a história devem ser pensadas em conjunto, pois a apreensão de ambas depende do intermédio da linguagem.
Verdade, crítica e censura
O livro Filosofia clandestina: Cinco tratados franceses do Século XVIII é uma antologia de pequenos tratados, publicados de maneira clandestina e anônima, por seu conteúdo crítico – anticlericais, críticas políticas e defesas de novas concepções de mundo. A seleção, apresentação e tradução dos textos foi feita por Regina Schöpke, doutora em filosofia e medievalista, e por Mauro Baladi, graduado em filosofia pela UERJ. O livro foi publicado pela editora Martins Fontes.
O primeiro texto, “O verdadeiro filósofo“, de César Chesneau du Marsais (França, 1676-1756), defende um novo papel desempenhado pela filosofia no Iluminismo, incentivando o fornecimento, através dela, de intervenções favoráveis na formação crítica da população, rejeitando o caráter puramente metafísico da reflexão. Continue lendo
Arqueologias poético-filosóficas
Ninguém melhor que um filósofo para explorar os jogos de sentido entremeados às palavras. Extravasando essa premissa singela, com a sua característica amplitude reflexiva, abstrata e crítica, a erudição interpretativa de Benedito Nunes traz uma nova luz aos assuntos que aborda em O dorso do tigre. O livro de ensaios reúne reflexões e comentários de filosofia e de crítica literária.
Escritos sobre ciência e religião – Thomas Henry Huxley
Quinto volume da coleção Pequenos Frascos da editora Unesp, Escritos sobre ciência e religião é uma compilação de ensaios de Thomas Henry Huxley, naturalista e intelectual inglês do século XIX, conhecido por sua atuação como defensor da teoria da evolução das espécies de Darwin.
Dividido em três ensaios, Escritos sobre ciência e religião trata de temas como a educação, crenças religiosas e seu contraste com o pensamento científico. Os ensaios são: “Sobre a conveniência de se aperfeiçoar o conhecimento natural”, “O natural e o sobrenatural” e “Ciência e cultura”, precedidos por um prefácio intitulado “Thomas Huxley, o debate entre ciência e religião, e a educação”.
A coleção Pequenos Frascos foi planejada para apresentar textos curtos menos conhecidos de autores consagrados, primando pelo diferenciado tratamento editorial e gráfico. Foi o caso do primeiro volume da coleção, Modesta Proposta e outros textos satíricos, do escritor irlandês Jonathan Swift.
Coleção Adorno – Editora Unesp
A Editora Unesp lançou este mês o primeiro volume de sua nova coleção sobre a filosofia de Theodor W. Adorno. Segundo o boletim da editora:
“Empreendimento editorial que visa fornecer ao leitor brasileiro, de maneira padronizada, os principais textos publicados por Adorno. Serão editados os trabalhos mais importantes ainda não publicados em português, assim como novas traduções, em quatro coletâneas: Escritos sobre música, Escritos sobre sociologia, Indústria cultural e Escritos de psicologia
social e psicanálise. Todos seus volumes são acompanhados por uma Introdução que contextualiza a obra no interior da experiência intelectual adorniana, atualiza os debates
dos quais ela fazia parte e expõe os desdobramentos e influências da referida obra no cenário intelectual do século XX.”
Livro inaugural da Coleção Adorno, As estrelas descem à Terra aborda temas tradiconal- mente ligados ao “núcleo duro” do pensamento do filósofo, como a interpenetração entre o racional e o irracional, o processo de dominação característico do capitalismo tardio e a cultura de massas. Analisando o conteúdo da coluna astrológica de Carroll Righter, consultor de vários atores e atrizes de Hollywood, no Los Angeles Times dos anos 50, Adorno busca entender o que este tipo de publicação significa em termos da reação dos leitores, tanto em um nível aparente e evidente como em um nível mais profundo.
O livro sai por R$22.40 no site da 30PorCento. Clique aqui para comprar.