Arquivo do autor:Isabela Gaglianone

Literatura

O tempo, a loucura: entrelaçamentos

10 fevereiro, 2014 | Por Isabela Gaglianone

 “Foi um grande desvio que me levou até esse ponto. E o que aconteceu depois é difícil de relatar numa linguagem mais ordenada. Espero que me entendam”.

 

O escritor pernambucano José Luiz Passos é o autor do elogiado romance O sonâmbulo amador, pelo qual venceu o Prêmio Portugal Telecom de Literatura em Língua Portuguesa de 2013. Passos é professor na Universidade da Califórnia, onde fundou o Centro de Estudos Brasileiros. No Brasil, já tinha publicado um primeiro romance, Nosso grão mais fino, além de dois livros de crítica literária: Ruínas de Linhas Puras (publicado em 1998 pela Annablume), que reúne quatro ensaios sobre Macunaíma, e, mais recente, o ensaio Machado de Assis – O romance com pessoas (publicado em 2008 pela Edusp).

O sonâmbulo amador apresenta a história de um funcionário de uma indústria têxtil pernambucana, narrada depois de seu surto psicótico. Interessante desde o título – o inusitado “amador” qualificando um “sonâmbulo” cria uma imagem engenhosa –, o livro foi inspirado em uma visita de Passos a um armeiro húngaro, no Recife. O protagonista, Jurandir, apenas alguns dias antes de se aposentar como chefe de segurança, empreende uma viagem ao Recife para resolver um processo trabalhista. Sua jornada, porém, torna-se um pesadelo: sem motivos prévios ou aparentes, ele incendeia o carro da empresa e perde o controle de suas ações.

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Intelectualidade e totalitarismo

7 fevereiro, 2014 | Por Isabela Gaglianone

Mente CativaCzesław Miłosz realiza uma análise profundamente séria sobre a situação intelectual gerada pelo domínio das grandes ideologias. Sua denúncia aponta os círculos intelectuais servis: “A principal característica desse intelectual é seu medo de pensar por si mesmo”. Inspirado no período de sua vida que viveu sob o totalitarismo comunista na Polônia, após a Segunda Guerra, Miłosz reúne no livro uma série de ensaios através dos quais mostra como alguns intelectuais, originalmente sem afinidades ideológicas com o partido governante, aos poucos foram completamente convencidos – servos voluntários de um sistema que, na realidade, simplesmente não abre o menor espaço à autonomia de consciência, quer estética ou política.

Conforme as próprias palavras de Miłosz, em Mentes Cativas, ele procurou “criar separadamente os estágios sobre os quais a mente dá passagem à compulsão do nada”. Segundo a análise de Nelson Ascher, “é um dos livros indispensáveis do século XX”, pois “disseca um tipo moderno de política – o totalitarismo – que pretende se sobrepor à vida individual, conquistando-a e ocupando-lhe todas as esferas”.

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Literatura

Antiterapias

6 fevereiro, 2014 | Por Isabela Gaglianone

O outro título vencedor do prêmio Prêmio São Paulo de Literatura na categoria “livro do ano de autor estreante”, Antiterapias, de Jacques Fux, propõe-se a criar, antes de tudo, um diálogo com a literatura.

A narrativa desenrola-se misturando as histórias de vida do protagonista a referências literárias que não são indicadas, mas incorporadas à sua fala enquanto pensa sobre si e sobre suas memórias. Entre testemunho de lembranças, elementos ficcionais, fatos históricos, bíblicos e literários, desnovela-se a biografia de um jovem judeu, que busca seu lugar no mundo, tentando pensar-se em relação à diáspora judaica e aos guetos contemporâneos.  Continue lendo

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Literatura

Labirinto de si

5 fevereiro, 2014 | Por Isabela Gaglianone

Um dia a menos. Outro dia a menos. Um dia a menos. Outro dia a menos. Tudo o que se viveu. O tempo que nos resta. Ninguém faz essa conta aos quinze anos. Será que nos abandonamos à loucura num momento de contabilidade?

 

Em novembro do ano passado o Prêmio São Paulo de Literatura pela primeira vez dividiu a categoria “livro do ano de autor estreante” em duas subcategorias, autor com menos de quarenta anos e autor com quarenta anos ou mais. A novidade veio acompanhada por outra: ambos os prêmios da categoria foram conferidos a autores publicados por editoras independentes. O matemático e escritor mineiro Jacques Fux, de 36 anos, foi premiado pelo romance Antiterapias, publicado pela editora Scriptum, de Belo Horizonte, e a paulista Paula Fábrio, de 43 anos, ganhou o prêmio por Desnorteio, lançado pela editora Patuá. Continue lendo

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cinema

Cinema político e poético

4 fevereiro, 2014 | Por Isabela Gaglianone

fotografia: Abbas Kiarostami

Reeditado no final do ano passado, o livro Abbas Kiarostami é a primeira publicação no Brasil consagrada ao diretor iraniano. O volume reúne mais de cinquenta fotos realizadas no Norte do Irã, três textos de autoria do próprio Abbas Kiarostami, além da relação completa de sua filmografia, comentada. Os textos foram separados numa seção intitulada “Duas ou três coisas que sei de mim”, que compreende: “Fotografia e natureza”, no qual o diretor fala sobre sua atividade fotográfica, sobre suas concepções sobre a arte do enquadramento e sobre a paixão pela natureza; “No trabalho”, uma autobiografia, desde a fundação do departamento cinematográfico estatal Kanun até a concepção de seus longas-metragens; “Uma boa boa cidadã”, crônica emocionante sobre a “perseguição” do cineasta a uma menina de rua na Avenida Paulista, que remexe as lixeiras à procura de comida; e, por fim, quatro poemas inéditos.

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Ali repousa o poeta

3 fevereiro, 2014 | Por Isabela Gaglianone

Poética

conciso? com siso

prolixo? pro lixo

 

O poeta José Paulo Paes foi mestre da concisão precisa, própria dos epigramas, aquele tipo de poema curto e mordaz cuja matéria-prima é uma atenta observação do mundo e do ser humano.

Modesto, discreto, estóico, irônico – em sua vida e em sua poesia. Rodrigo Naves, no prefácio à antologia, conta que “José Paulo Paes (1926-1998) era um homem avesso a ênfases – no escrever, no falar, no proceder. Detestava chamar atenção, e seu comportamento discreto era, em um homem constante, talvez a constância predominante. Em situações sociais parecia se ocupar sobretudo com sua bengala…”. Com uma fina auto-ironia, José Paulo Paes declarou, por exemplo, ser o poeta mais importante da sua rua: “Mesmo porque a minha rua/ é curta”. Ele não se colocava entre os grandes mestres da poesia brasileira: “quando penso que alguém da grandeza de Manuel Bandeira se considerava um poeta menor, que mais posso ser senão um mínimo poeta?”. O crítico Davi Arigucci Jr. pontua: “Na poesia como na vida, José Paulo Paes optou sempre pela discrição e o comedimento de quem desconfia das exaltações visionárias e das certezas inabaláveis. Ao seu primeiro livro, deu o título O Aluno. Seu último poema, escrito na véspera da morte, chama-se ‘Dúvida’. Ser poeta para ele era um modo de continuar até o fim sua busca de aprendiz”.

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Literatura

Leitura alegórica da linguagem transparente

31 janeiro, 2014 | Por Isabela Gaglianone

 

 

“A descoberta não me espantou e

tampouco me surpreendi ao retirar

do bolso o dono do restaurante”.

 

 

Murilo Rubião foi um autor que preferiu reescrever exaustivamente seus textos, a produzir uma obra extensa. Publicou 33 contos, que a Companhia das Letras reuniu nesta antologia. Sua literatura é conhecida pelo caráter absurdo que imiscui-se ao cotidiano – seus personagens lidam com o fantástico com a mais pura naturalidade. Nas palavras de Jorge Schwartz, na literatura de Rubião “acontecimentos referencialmente antagônicos e inconciliáveis conciliam-se tranqüilamente pela organização da linguagem. Dragões, coelhos e cangurus falam, mas não há mais o clássico “enigma” a ser desvendado no final”. Para Schwartz, “o fenômeno fantástico de sua escrita é justificado na medida em que há a percepção dos níveis simbólicos e alegóricos de significação”, e as simbologias despertadas em seus contos, segundo o crítico fazem com que o elemento extraordinário não seja “a presença dos dragões no meio humano, mas a condição do meio e das relações nele criadas. Aqui um paralelismo possível com as obras de Kafka. Na Metamorfose o fantástico deixa de ser Gregório, convertido em monstruosa barata e fantásticas são as reações da família diante do fato. Em Murilo e Kafka, o código social possibilita a leitura ideológica e não se trata de simples recriação na leitura do fantástico”.

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Presença de uma ausência

30 janeiro, 2014 | Por Isabela Gaglianone

Como sugere o título, neste livro são analisadas três categorias centrais do pensamento benjaminiano – rastro, aura e história. O livro é fruto de um trabalho produzido coletivamente pelo Núcleo Walter Benjamin, coordenado por Georg Otte e Élcio Cornelsen, entre outros, e que, desde 2006, vem dedicando-se a pesquisar e divulgar os trabalhos do pensador alemão. Em forma de ensaios são reunidos, nesse volume, as principais comunicações proferidas durante o segundo Colóquio Internacional do núcleo, realizado em 2010 na Universidade Federal de Minas Gerais e intitulado “Spuren: rastros, traços, vestígios”. O livro conta ainda com preciosas contribuições de convidados, o que o torna amplo e diversificado. Há reflexões teóricas exclusivamente benjaminianas, tais como as de Rolf-Peter Janz e de Jeanne Marie Gagnebin, que, num viés filosófico, procuram delimitar os conceitos de aura e de rastro. Há trabalhos comparativos que estabelecem relações entre Benjamin e outros pensadores. Há ainda trabalhos que relacionam conceitos e formulações de Benjamin usados na abordagem de diferentes realidades, como Márcio Seligmann-Silva, que usa o conceito de rastro para abordar a obra da artista plástica Regina Silveira, ou Willi Bolle, que procura ler a cidade de Belém a partir dos mesmos protocolos que Benjamin mobiliza para ler Paris, na obra das Passagens.

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Literatura

Sátira e censura

29 janeiro, 2014 | Por Isabela Gaglianone

Mikhail Bulgákov (1891-1940) foi um dos maiores autores russos do século XX e um dos intelectuais que sofreram dura perseguição da censura vigente no país durante o regime de Stalin. Em meio ao domínio, exigido pelo governo, de uma literatura realista-socialista, Bulgákov misturava o fantástico à sátira, bruxas e diabos a burocratas e espiões. Mais conhecido por seu romance O Mestre e Margarida, o autor deixou a medicina pela literatura. Graças à sua verve satírica, suas narrativas e peças de teatro tornaram-se rapidamente populares e, o autor, implacavelmente censurado.

O diabo solto em Moscou é um estudo biográfico de fôlego sobre Bulgákov, feito pelo estudioso da literatura russa e tradutor Homero Freitas de Andrade – professor no Departamento de Línguas Orientais da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP. O livro conta também com uma ótima antologia de contos e novelas, escritos entre 1919 a 1929, reunidos pela primeira vez em português, traduzidos por Andrade diretamente do russo. Continue lendo

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Anatomia da melancolia

28 janeiro, 2014 | Por Isabela Gaglianone

A anatomia da melancolia, de Robert Burton, obra de grande repercussão escrita no século XVII, define a melancolia como “um tipo de loucura sem febre, tendo como companheiros o temor e a tristeza, sem nenhuma razão aparente”. A editora da Universidade Federal do Paraná publicou, pela primeira vez no Brasil, uma cuidadosa tradução da obra integral, feita por Guilherme Gontijo Flores, professor de latim na mesma universidade. Os quatro volumes reúnem quase duas mil páginas, entre as quais, centenas dedicadas às notas da edição brasileira, nas quais se encontram citações e referências a uma verdadeira multidão de autores, desde poetas clássicos tais como Virgílio e Horácio, prosadores como Juvenal, Tucídides e Apuleio, a Bíblia e Santo Agostinho, até inúmeros tratadistas, versejadores, viajantes, comentadores, médicos e santos.

Ao longo do livro, a melancolia é apresentada como uma doença de múltiplas definições, inumeráveis efeitos e causas divididas em várias camadas. Burton, que não era médico, mas erudito, procurou organizar o conhecimento sobre a doença com a divisão da obra em quatro partes. As causas da melancolia e as curas para a doença ganham um volume cada, com muitas subdivisões, entre membros, partes e seções, que justificam o título de “anatomia”.

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Literatura

Inglório

27 janeiro, 2014 | Por Isabela Gaglianone

O livro Páginas sem glória, de Sérgio Sant’Anna, reúne dois contos e uma novela: respectivamente, “Entre as Linhas”, “O milagre de Jesus” e “Páginas sem glória”. O autor é conhecido pelo alto nível intelectual e artístico.

Após ter sido anunciado vencedor do Prêmio Jabuti no ano passado, na categoria de contos, Páginas sem glória foi desclassificado, pois um de seus contos presentes do livro já havia sido publicado. Em seu lugar, Diálogos Impossíveis, de Luis Fernando Verissimo , ficou com a primeira posição. A desclassificação foi no mínimo deselegante, pois a verificação de incompatibilidade com o regulamento do prêmio poderia ter sido feita antes do julgamento final e do anúncio dos vencedores. O jornal O Estado de S. Paulo publicou a seguinte opinião de Sant’Anna: “É uma bobagem. Uma porção de livros sai com textos que já foram publicados em outros títulos. Mas paciência”.

O escritor Breno Kümmel, em resenha publicada no Jornal Rascunho, aponta a dimensão da relevância do trabalho de Sant’Anna: “Sérgio Sant’Anna está entre os autores mais interessantes e importantes da literatura brasileira, sendo possível até deixar de complementar esta última expressão com o esperado adjetivo “contemporânea”. Continue lendo

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Livro-roteiro

24 janeiro, 2014 | Por Isabela Gaglianone

O palhaço, escrito por Selton Mello e Marcelo Vindicatto, é um dos poucos roteiros cinematográficos publicados no mercado editorial brasileiro. O roteiro do filme foi publicado pela editora Ouro sobre Azul com “a intenção de contribuir para uma mudança de expectativa tornando permanente aquilo que é efêmero, dando ao leitor recursos para compreender melhor o processo de trabalho em cinema”. Como diz o coautor Selton Mello, na publicação do roteiro o intuito foi “eternizar o roteiro como ele é, sem as alterações que aconteceram nos ensaios ou na montagem. Assim, o leitor mais atento vai perceber o que foi cortado, o que foi mudado de lugar na hora da finalização”.

O filme foi escolhido para representar o Brasil na premiação do Oscar em 2013, concorrendo na categoria de melhor filme estrangeiro. Foi vencedor em doze categorias do Grande Prêmio do Cinema Brasileiro, entre as quais, “Roteiro Original”, para Marcelo Vindicatto e Selton Mello, “Ator Coadjuvante” para Paulo José e “Ator e Diretor”, para Selton Mello. O filme também venceu os prêmios de Melhor Filme e de Fotografia do 38º Festival SESC Melhores Filmes de 2011.

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Literatura

Fictício; imaginário

23 janeiro, 2014 | Por Isabela Gaglianone

O que é o ficcional? Qual o jogo de oscilação entre imitação e simbolização numa obra literária? Qual a interação entre o fictício e o imaginário? Wolfgang Iser desenvolve a complexa questão da ficcionalidade e suas implicações antropológicas, localizando-a na imbricação entre a teoria literária – através da análise das literaturas clássica e renascentista inglesas, principalmente – e a teoria do conhecimento – pelo diálogo com a filosofia moderna e pela identificação da tematização da ficção no discurso filosófico, num panorama histórico que vai de Bacon a Vaihinger, passando por Sartre e Castoriadis. Sua investigação tem, como aplicação, um dos pontos culminantes na análise da literatura fantástica, “que converte a fantasia em realidade e a realidade em um território conquistado da fantasia”, representando portanto um nó da questão da mobilização do imaginário, no ato de leitura, uma vez que a fantasia reorganiza e inverte o real. Segundo Iser, “se há uma ‘lógica do imaginativo’, ela existe sobretudo como a suspensão de uma consciência focalizante, cujos vestígios só podem ser encontrados nas formas bizarras da fantasia que a inundam”. Sua interessante argumentação, nesse sentido, baseia-se na análise do monólogo de Beckett, Imagination Dead Imagine: “[…] no ato imaginativo inscreve-se sua autossuspensão, pois ele deve se apresentar como o ser extinto daquilo que é. O componente da consciência, portanto, não indica mais do que a mera direção e reduz-se em seus efeitos, pois se trata de imaginar a autossuspensão de um ato imaginativo”.

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Literatura

Um acesso aos lugares mais remotos

22 janeiro, 2014 | Por Isabela Gaglianone

– página do manuscrito original de “Murphy”

“O sol brilhava, sem alternativa, sobre o nada de novo”.

Murphy foi o primeiro romance de Samuel Beckett; escrito na década de 1930, antecipa aspectos que foram aprofundados ao longo de sua obra. Publicado no Brasil pela Cosacnaify, o livro conta com posfácio escrito por Nuno Ramos e foi traduzido por Fábio de Souza Andrade, também responsável pelas notas. Murphy representa, na obra de Beckett, “uma versão mais ramificada e menos concentrada de algumas de suas obsessões filosóficas e temáticas persistentes”, como analisa o tradutor – que, além de renomado estudioso da obra beckettiana, é também o tradutor das peças Fim de Partida, Dias Felizes e Esperando Godot, além do ensaio Proust, todos publicados pela Cosacnaify.

Conforme apontado em um artigo publicado no jornal O Estado de São Paulo por ocasião do lançamento da tradução, Fábio de Souza Andrade analisa que “não se pode falar de minimalismo no Beckett inicial, ao menos não em Murphy. Rigor, sim, mas aqui ainda estamos no universo das multiplicações de mundos e possibilidades, processo de fragmentação e montagem experimental característicos do modernismo heroico” Continue lendo

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Não espere nenhuma resposta

21 janeiro, 2014 | Por Isabela Gaglianone

Walter Benjamin cita, em uma passagem do texto “Que é o teatro épico?”, a seguinte análise de Bertold Brecht: “O fato de que o homem pode ser conhecido de determinado modo engendra um sentimento de triunfo, e também o fato de que ele não pode ser conhecido inteiramente, nem definitivamente, mas é algo que não é facilmente esgotável, e contém em si muitas possibilidades (daí sua capacidade de conhecimento) é um sentimento agradável”. A respeito dessa análise, Benjamin conclui: “Quando o fluxo da vida é repassado, imobilizando-se, essa interrupção é vivida como se fosse um refluxo: o assombro é esse refluxo. […] Mas, se a torrente das coisas se quebra no rochedo do assombro, não existe nenhum diferença entre uma vida humana e uma palavra”.

Brecht conseguiu conferir uma instância moral ao palco, articulá-lo às condições reais do corpo social, com assombro. Em suas poesias, menos comentadas do que suas peças, Brecht também desvela situações com a veemência de seu pensamento crítico e com sua ironia desmistificadora. Sua poesia, assim como seu teatro, é, a um só tempo, “lírica e política”, para usar novamente as palavras de Walter Benjamin.

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