Arquivo do autor:Isabela Gaglianone

Literatura

Ideologia da natureza

7 julho, 2016 | Por Isabela Gaglianone

gravura de Guillaume Azoulay, “Deux Bison”

Butcher’s Crossing, de John Williams, subverte a imagem romântica do West estadunidense.

Na década de 1870, Will Andrews, um jovem de 23 anos, desiste de Harvard e resolve sair da casa paterna, abandonando o opulento estilo de vida da classe média bostoniana. Viaja, então, para o West, em busca de uma forma mais autêntica de viver, para descobrir na natureza o seu “eu inalterado”. Acaba indo parar em Butcher’s Crossing, um pequeno povoado solitário, perdido na vastidão da pradaria do Kansas, reduto de uma pequena comunidade de negociantes de peles e rudes caçadores de búfalos. Em pouco tempo o protagonista trava amizade com um caçador e os dois, com mais outros dois homens, montam uma expedição de caça a búfalos nas Rochosas do Colorado. A caçada, marcada por desafios físicos extremos – sede, frio, calor, exaustão – e por um isolamento quase total, beira os limites da sobrevivência. Para Will Andrews, debilitado pela fadiga e absorto na contemplação da linda paisagem, a aventura representará uma experiência existencial de amadurecimento que, entretanto, é permeada por características quase oníricas.  Continue lendo

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Artes Plásticas

Mnemosyne

1 julho, 2016 | Por Isabela Gaglianone

tábua do “Atlas Mnemosyne”

 

Aby Warburg e a compreensão do diálogo entre palavra e imagem

O legado intelectual de Aby Warburg permanece um desafio constante para a história da arte e da imagem. Se o século XX foi o século da imagem, então Warburg é um de seus pesquisadores extraordinários, pois ninguém se igualou a ele na dedicação intensa e escrupulosa não só às obras de arte, mas também às imagens do cotidiano.

Selecionamos aqui, a partir do comentário sobre a edição de seus textos sob o título “A renovação da Antiguidade pagã”, alguns livros de autores que dão prosseguimento a suas reflexões.

 

Aby Warburg, “A renovação da Antiguidade pagã”

A renovação da Antiguidade pagã: contribuições científico-culturais para a história do Renascimento europeu, reúne todos os textos que Warburg publicou em vida, com respectivas notas e adendos, além de dois estudos sobre ele.

Neles, o historiador da arte mostra a tensão que marca as obras renascentistas europeias, fruto de uma contradição, uma força que mais desestabiliza do que unifica as figuras. A divindade serena, modelo ao belo ideal, transformava-se: “Essas mênades dançantes, conscientemente imitadas, surgidas pela primeira vez nas obras de Donatello e de Fra Filippo, redefinem o estilo antigo, ao exprimirem uma vida mais movimentada, a vida que anima a Judite, o anjo Rafael que acompanha Tobias, ou ainda a Salomé dançante, essas figuras aladas que alçaram voo dos estúdios de Pollaiuolo, Verrocchio, Botticelli ou Ghirlandaio”. Warburg analisa a base da relação dos artistas modernos com o passado, revelando, sob a aparência límpida das obras da Antiguidade clássica, o conflito das duas forças antagônicas, potência extática nascida no seio da concepção contemplativa do mundo – a dualidade do mundo grego, marcado pelo caráter dionisíaco e apolíneo, conforme analisada por Nietzsche.  Continue lendo

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Literatura

O enigma da obra

30 junho, 2016 | Por Isabela Gaglianone

desenho de Robert Desnos

O agudo ensaio Raymond Roussel. A chave unificada, do argentino César Aira, ganhou no Brasil uma edição muito especial.

No ensaio, Aira afirma que a figura de Roussel para estar fadada aos erros interpretativos de sua própria legião de admiradores e estudiosos:

“Explicitar mais uma vez o famoso procedimento de Roussel é tempo perdido; por mais clara que seja a explicação, sempre ficará um mal-entendido. Roussel é a torre de Babel dos seus intérpretes e estudiosos. De algum modo, ele fez com que todos falem idiomas diferentes. Todo artigo que se escreve sobre ele poderia se intitular: Os erros mais frequentes que se cometem ao falar de Roussel. O preço que se paga por acreditar tê-lo entendido é acreditar que o outro, qualquer outro, o entendeu mal”.

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Literatura

O retorno

27 junho, 2016 | Por Isabela Gaglianone

Junho e Julho de 1975, chegada a Lisboa dos retornados das antigas colônias na África [fotografia de Alfredo Cunha]

O romance O retorno é um relato emocionante, da premiada escritora Dulce Maria Cardoso, sobre um aspecto particular da descolonização portuguesa na África, em 1975: a dramática situação de cerca de meio milhão de colonos “retornados” a Portugal.

O protagonista é o adolescente Rui, que com sua família retorna à antiga metrópole, para recomeçarem a vida, a partir de uma situação financeira precária e limitada. O rico cenário da narrativa, o conturbado período de retorno de mais de meio milhão de cidadãos portugueses, durante a descolonização dos antigos territórios ultramarinos na África, faz, deste, um romance extremamente forte e, enquanto referência histórica, incontornável. Continue lendo

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matraca

Joyce

16 junho, 2016 | Por Isabela Gaglianone

desenho de Brancusi

Hoje, dia 16 de junho, é o famoso Bloomsday, celebrado ao redor de todo o mundo por amantes de James Joyce. É neste dia, em 1904, que o protagonista de seu célebre Ulysses, Leopold Bloom, perambula por Dublin, ao longo das mais de 1.000 páginas da obra.

Em Sim, eu digo sim – Uma visita guiada ao Ulysses de James Joyce, Caetano Waldrigues Galindo, premiado pela tradução de Ulysses [Companhia das Letras, 2012] e profundo conhecedor da obra do autor irlandês, acompanha os meandros dos passos dados por Bloom, Stephen e Molly naquele 16 de junho. Galindo ao mesmo tempo analisa a própria natureza do romance e de alguns dos principais assuntos que o povoam. Sua leitura, erudita e surpreendente, é um guia de leitura agradável e profícuo. E que abre muitas portas inusitadas; Continue lendo

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lançamentos

Pallacorda

9 junho, 2016 | Por Isabela Gaglianone

O romance histórico-ensaístico Morte súbita, do mexicano Álvaro Enrigue, acaba de ser laçado no Brasil pela Companhia das Letras, com tradução, sempre muito cuidadosa, de Sérgio Molina.

O esplêndido romance foi vencedor do espanhol Prêmio Herralde em 2013 e, sua publicação no Brasil, impulsionada pela confirmação da presença do autor na FLIP – a famosa Festa Literária de Paraty.

A história inicia-se em 04 de outubro de 1599, ao meio-dia, em torno de um duelo inusitado, a ser disputado na Piazza Navona, em Roma. Os duelistas, um jovem italiano que transformava a arte pictórica e um poeta espanhol absolutamente genial: trata-se, nada menos, que a disputa de uma partida de pallacorda entre Caravaggio e Quevedo – “pallacorda” era o nome dado ao jogo de tênis na época, em que a bola [em italiano, palla] era feita de pelos e cabelos humanos.  Continue lendo

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Arquitetura

Antropologia da forma urbana

3 junho, 2016 | Por Isabela Gaglianone

O historiador de arte Joseph Rykwert (Varsóvia, 1926) vem há anos dedicando-se a pensar a arquitetura e a urbanidade.

Em A ideia da cidade: antropologia da forma urbana em Roma, Itália e no mundo antigo, a partir do estudo da Roma Antiga e de seus mitos fundadores, o autor descreve a origem das estruturas simbólicas que foram prioritárias na fundação daquela cidade, sobrepujando mesmo as estratégias comerciais e militares. Atualmente, analisa, no mundo desencantado em que vivemos, a simbologia possível foi substituída por técnicas de linguagem, como símbolos esvaziados, que servem apenas ao consumo global.  Continue lendo

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Literatura

… a nova habitação do meu velho marcador de página

30 maio, 2016 | Por Isabela Gaglianone

“[…] um caçador de temas, um escritor sucessivamente rejeitado pelas editoras, que passa o tempo desenvolvendo, oralmente, a partir do que quer que visse por perto, histórias complexas para a platéia circunstancial de uma praça da capital. E, naquilo que relata ao narrador acerca de como um redator rejeitara seu texto, é fácil entreouvir o que teria sido dito, mais de uma vez, a Krjijanovski em pessoa:

‘O senhor tem uma pena. Mas uma pena precisa ser contida por uma caneta, e a caneta, pela mão. Seus contos são… bem, como vou dizer – prematuros. Esconda-os. Que esperem”.

Marc Chagall, “Passeio” [1917/18]

O Marcador de Página, de Sigismund Krzyzanowski, foi publicado no Brasil pela primeira vez em 1997, com tradução de Maria Aparecida B. Pereira Soares, pela Editora 34 e, depois de esgotado por tempos, acaba de ganhar uma bela nova edição.

Sua prosa é profunda, marcada por uma variação especial de paradoxos. Suas narrativas adentram as entranhas do absurdo de seu presente – as décadas de 1920 a 1940 -, tendo, como horizonte, um futuro longínquo e improvável. Metaliterário, satírico, por vezes alegórico, sua enorme vocação filosófica e instinto universalista são características fortes em seus contos – comparados a Borges, Kafka, Calvino, Grombrowicz, Swift.

Na orelha do livro, Nelson Ascher diz que as informações sobre este escritor desconhecido, enigmático e instigante são “escassas, imprecisas, não necessariamente confiáveis e difíceis de obter”.

Krzyzanowski nasceu numa família de origem polonesa em 1887, em Kiev, na Ucrânia, que, então, era território do Império Russo. É autor de cinco novelas e seis livros de contos – apenas, porém, duas de suas histórias foram publicadas antes de sua morte. Dentre seus livros, três foram proibidos pela censura soviética quando já estavam a ser publicados. Frente ao crescente terror político comunista, muitas histórias Krzyzanowski permaneceram guardadas. Continue lendo

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cinema

O poeta entre crônicas e críticas

9 maio, 2016 | Por Isabela Gaglianone

cena de “O Encouraçado Potemkin”

Guilherme de Almeida (1890-1969), além de poeta modernista, ensaísta, tradutor e jornalista, foi um dos mais destacados críticos de cinema no Brasil.

A editora Unesp acaba de lançar a reunião deste trabalho crítico, no volume Cinematographos – Antologia da crítica cinematográfica, cuidadosa edição organizada por Donny Correia e Marcelo Tápia.

A crítica cinematográfica é uma vertente hoje quase desconhecida da produção do poeta. Neste volume, ela é representada por 218 textos, publicados entre 1926 e 1942 no jornal O Estado de S. Paulo. Através deles, revive-ase o período de transição entre o cinema mudo e a “arte do movimento silencioso” e o filme falado. Também perpassa-se a fecunda presença dos cinemas em São Paulo nas primeiras décadas do século XX e sua introdução enquanto relevante elemento do cotidiano cultural da cidade.

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Guia de Leitura

Multidão – parte II

7 maio, 2016 | Por Isabela Gaglianone

A multidão, profícuo conceito, encontrou repercussão também quando aplicado à literatura, à psicanálise e à história.

Em todas as áreas, há um embate com a autonomia, a subjetividade e a própria potência da multidão.

 

– Multidão como conceito literário –

Walter Benjamin, “Charles Baudelaire: um lírico no auge do capitalismo”

O conceito de multidão existe também na literatura. Walter Benjamin o explorou no belo livro Charles Baudelaire: um lírico no auge do capitalismo, no qual cria um mosaico da modernidade, no final do século XIX, entre Paris, Londres e Berlim. O mais notório argumento do livro é a figura do flâneur, termo em francês que designa o andarilho que se perde pela cidade e, andando sem destino, permite-se intensamente observar seu entorno como se eterna novidade. O flâneur é alguém aberto ao que o mundo expõe a cada segundo. A ele contrapõe-se a multidão, cujo significado Benjamin compara entre três autores: Charles Baudelaire, Edgar Allan Poe e E.T.A. Hoffmann. No conto A janela de esquina do meu primo, Hoffman ressaltou à sua época as mudanças de uma nova convivência social urbana, tendo sido o pioneiro na introdução do conceito de multidão na literatura ocidental, depois absorvido por outros autores, como o próprio Poe em seu “O Homem da Multidão” e Charles Baudelaire, em seus poemas sobre Paris.

Por outro lado, o conceito figura também na teoria e crítica literária enquanto relacionado ao problema da expressão e a certo esgotamento da noção de opinião pública. Como indica Philippe Beck, no interessante “O acalanto e o clarim (Literatura, tirania, expressão) – Ensaio sobre a multidão literária”, a multidão, por não ser uma massa homogênea, mas, ao contrário, um conjunto de singularidades abertas, apesar de suscetíveis a fecharem-se, “é a possível obra aberta de cada um que aparece”. Beck no mesmo ensaio evoca o livro Gramática da multidão, de Paolo Virno, para expôr a pertinência da questão sobre multidão no impulso da linguagem, na questão, particular na aparência, da expressão, multidão como ferramenta decisiva para qualquer reflexão sobre a esfera pública contemporânea. Continue lendo

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lançamentos

Korolenko

2 maio, 2016 | Por Isabela Gaglianone

composição de Ekaterina Panikanova

O autor Vladimir Korolenko (1853-1921) é pouco familiar aos leitores brasileiros. O russo não era publicado por aqui há mais de cinquenta anos. Porém, é considerado autor fundamental, reconhecido por ninguém menos que Liev Tolstói como “um dos principais contistas da literatura russa”. O crítico literário Otto Maria Carpeaux dedicou uma análise ao escritor, que comparou ao inglês Charles Dickens [História da literatura ocidental. Edições O Cruzeiro, 1963. vol. 5], incluindo-o numa linhagem da “literatura de acusação”. Korolenko, nas palavras de Carpeaux: “Foi um realista moderado, de simpatias algo sentimentais para com os sofrimentos humanos, mas sem exacerbar a tendência, até atenuando-a pelo humorismo delicado do estilo. Nenhum outro russo parece-se tanto com Dickens. Todas essas qualidades revelaram-se de maneira magnífica no seu conto ‘O Sonho de Makar’, que o tornou logo famosísismo na Rússia e no estrangeiro”. O crítico pontua ainda que Korolenko “tinha ficado, durante anos, no exílio, na Sibéria; e os seus Contos Siberianos reuniram muito agradavelmente o encanto da paisagem exótica, o interesse geográfico-antropológico pelos povos estranhos daquelas regiões longínquas, a compaixão para com os exilados políticos e o horror do regime tirânico que os exilara. Entre os leitores europeus, Korolenko foi durante muitos anos mencionado ao lado de Tolstoi e Dostoievski”.

A editora Carambaia acaba de lançar uma edição em formato de caixa, que reúne dois formidáveis trabalhos do autor: Em Má Companhia é um romance sobre um menino, proveniente de uma família rica, que se envolve com uma turma de crianças pobres; O Músico Cego, obra mais famosa do autor, narra a história de Piótr Popélski, um garoto que nasce cego e desenvolve grande sensibilidade para a música. A delicada novela, nas palavras do crítico russo Alexandre Skabitchevsky, “é a última palavra da perfeição, uma das obras mais admiráveis com as quais o mundo literário já pôde contar. Impossível pensar em um tema tão simples, com menos artifícios, e ao mesmo tempo uma análise psicológica mais profunda”.

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lançamentos

Sexta-feira

29 abril, 2016 | Por Isabela Gaglianone

A ilha de Robinson Crusoé

Publicado originalmente em 1986, Foe é uma das obras de construção mais complexa do escritor sul africano J.M. Coetzee, ganhador do prêmio Nobel. A Companhia das Letras acaba de lançá-lo no Brasil, sob tradução de José Rubens Siqueira.

No romance, já um clássico da literatura contemporânea, Coetzee reinventa a história de Robinson Crusoé. A grandiosa novela apresenta Susan Barton, que, no início do século XVIII, encontra-se um uma pequena embracação de apoio à deriva, após o navio em que viajava ter sido palco de um motim de marinheiros. Ela acaba por chegar a uma ilha deserta e encontra com um dos únicos habitantes do local, que lhe oferece abrigo. Trata-se de um homem chamado Cruso, acompanhado por seu seu escravo Sexta-feira.

Cruso é um sujeito irascível, preguiçoso e autoritário: perdeu interesse em fugir da ilha ou mesmo em rememorar os eventos que marcaram sua chegada àquele lugar. Sexta-feira, por sua vez, não pode falar: teve a língua cortada, não se sabe se por proprietários de escravos ou pelo próprio Cruso. Depois de um ano, eles são resgatados por um navio que rumava para a Inglaterra, mas apenas Susan e Sexta-feira sobrevivem à viagem a Bristol. Determinada a contar sua história, ela busca um famoso escritor de seu tempo, Daniel Foe, na esperança de que ele escreva um livro sobre sua experiência na ilha. Continue lendo

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Guia de Leitura

Multidão – parte I

27 abril, 2016 | Por Isabela Gaglianone

Quem sai às ruas é o povo ou a multidão?

Guilherme Kraimer [nanquim].

A noção de multidão foi, de diferentes maneiras, utilizada ao longo da história do pensamento político moderno, por autores como Maquiavel, Hobbes, Espinosa, posteriormente por Marx e, recentemente, amplamente desenvolvida pelo filósofo italiano Antonio Negri.

Espinosa foi quem primeiro desenvolveu o termo em seu sentido conceitual mais forte, ou seja, a concepção do sujeito político como a multidão, que carrega em seu âmago a ideia de multiplicidade de singularidades.

Negri resgatou o conceito em 1981, na tese sobre a filosofia espinosana, intitulada A anomalia selvagem: poder e potência em Baruch de Spinoza. Desde então, passou a usá-lo de maneira mais elaborada, até embasar sua leitura do pensamento político contemporâneo com a publicação da trilogia, escrita em conjunto com o norte-americano Michael Hardt, composta por Império (2000), Multidão (2005) e Commonwealth (2009).

O professor Homero Santiago, em artigo publicado na revista Cult, explica:  “[…] em primeiro lugar, multidão nos dá o nome de um agente ou sujeito coletivo que pode agir em comum, unitariamente, com a simultânea manutenção de suas diferenças internas. Mas não só o nome de um sujeito. A novidade da nomeação explica-se por falarmos de um novo nome para um novo sujeito ou agente. Multidão é um ‘conceito de classe’ tanto por retomar a discussão de classe quanto por renová-la. Tradicionalmente, o sujeito coletivo anticapitalista foi pensado como o proletariado, a classe operária ou a classe trabalhadora. Agora, pela nova nomeação, quer-se sublinhar que o sujeito coletivo não está mais restrito a esses grupos tradicionais e que, sobretudo, não precisa buscar sua unidade a partir da pura determinação do sistema capitalista”.

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história

Revolucionário e humanista

25 abril, 2016 | Por Isabela Gaglianone

Índios da Amazônia escravizados durante o ciclo da borracha na região de Putumayo, Peru

Acaba de ser lançado, pela Edusp, o Diário da Amazônia de Roger Casement, organizado por Mariana Bolfarine e Laura P. Z. Izarra. Esta é a primeira edição em português da obra, muito interessante, que é resultado de uma pesquisa, sobre a investigação que Roger Casement fez: no final da época do boom da borracha no Brasil, chegaram a Londres notícias sobre os abusos de violência e escravidão, não só em relação aos indígenas e nativos, mas também envolvendo súditos da coroa; Casement foi nomeado para fazer parte de uma comissão de inquérito e avaliar até que ponto esses súditos da coroa estavam de fato sofrendo abusos e se faziam, por outro lado, parte do esquema da violência cometida contra os indígenas da região.

O diário é resultado dessa investigação. Foi escrito durante as duas vezes em que Casement esteve na Amazônia, respectivamente em 1910 e 1911. Seus manuscritos estavam armazenados no Itamaraty, pois Casement foi cônsul no Brasil em três ocasiões, em Santos, em Belém do Pará e, por último, foi cônsul geral no Rio de Janeiro.

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Literatura

Diário do hospício

18 abril, 2016 | Por Isabela Gaglianone

“Sem fazer monopólio, os loucos são da proveniência mais diversa, originando-se em geral das camadas mais pobres. São imigrantes italianos, portugueses e outros mais exóticos, são os negros, os roceiros, que teimam em dormir pelos desvãos das janelas sobre uma esteira esmolambada e uma manta sórdida: são copeiros, cocheiros, moços de cavalariça, trabalhadores braçais. No meio disto, muitos com educação, mas que a falta de recursos e proteção atira naquela geena social”.

fotografia de Antonio Fatorelli

Em seu Diário do hospício, Lima Barreto documentou, de maneira impressionante, sua internação, entre o natal de 1919 e fevereiro de 1920, no Hospício Nacional dos Alienados, no Rio de Janeiro.

O autor foi por duas vezes internado em instituições psiquiátricas, por delírios alcóolicos; este relato, lúcido e profundo, refere-se à sua última internação, em 1919.

Algumas vezes editado no Brasil, o texto teve sua publicação mais recente pela Cosac Naify em 2010, em volume que também reunia o romance inacabado O cemitério dos vivos, que, ambientado também no hospício, transfere para a chave ficcional a experiência da loucura.

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