O lançamento do livro de Leonardo Boff, A Terra na palma da mão – uma nova visão do planeta e da humanidade, nos fez pensar a respeito da imbricação necessária, mas sobnegada, da crítica ambientalista em relação à crítica política. Pois Boff, frente às graves crises, sobretudo social e ecológica, e respondendo às reflexões do Papa Francisco sobre “o cuidado da Casa Comum”, para o qual exige-se “uma conversão ecológica global” e mudanças profundas “nos modelos de produção e de consumo, nas estruturas consolidadas de poder”, analisa a gravidade da atual situação e pergunta-se: para onde está caminhando o planeta Terra e a humanidade?
A ecologia e a política não são dissociadas uma da outra. E sua relação perpassa o “mito do progresso”, do qual é preciso ressaltar as implicações éticas e políticas, que são encobertas por sua dimensão ilusória – o ocultamento da pobreza, a dissimulação do comércio da saúde, a grave crise ambiental que o mito do avanço histórico oculta. O discurso do progresso é apropriado por interesses sectários das elites para a legitimação de seu acúmulo irrestrito de riquezas e a previsão lógica de sua perpetuação, simplesmente catastrófica.
Isabelle Stengers, em No tempo das catástrofes, realiza uma interessante intervenção no debate atual sobre a relação entre homem e natureza. A autora sugere o rompimento do conceito de infinidade de recursos no planeta. Ela também indica a necessidade de que, diante das atuais mudanças e desastres climáticos, haja uma mudança, também, na postura da impotência humana e na negligência governamental. Sob esse viés, ressalta o papel do indivíduo e a importância do resgate da relação de cada homem com a terra, encarando-a como um ser vivente.
Em entrevista concedida à revista “ClimaCom – Cultura Científica”, Isabelle Stengers conta como surgiu a atual nova história que vivenciamos e que seu livro anuncia: “Tive a convicção de que algo importante estava se passando em 1995, quando uma sondagem anunciou que uma maioria de franceses achava que suas crianças não viveriam melhor do que eles viveram. Não confiavam mais no ‘progresso’. Depois, tivemos as repetidas crises financeiras… No tempo das catástrofes foi escrito antes dessas crises. Na época, as revoltas da fome ligadas à especulação financeira e a história do furacão Katrina já eram excelentes exemplos daquilo que poderia muito bem estar nos esperando no futuro. A explosão das desigualdades sociais, a desordem climática, a poluição… fariam sempre mais estragos, mas o rumo do crescimento e da competividade seria mantido. Escrevi esse livro para resistir ao desespero, e para aqueles e aquelas que tentam escrever uma outra história, apesar das dificuldades: foi dito que hoje em dia é mais fácil enxergar o fim do mundo e da civilização que o do capitalismo. Mas os que estão buscando, todos eles sabem que a impotência que ressentimos faz parte do problema”. Diz ela que não há razão para ser otimista; o Estado e o capitalismo são os responsáveis pela destruição do ser humano e de seus meios de sobrevivência e o único meio de reverter o quadro alarmante é a autogestão planetária. Segundo a autora: “há dez anos venho constatando que existem lutas de um estilo novo. O combate contra os organismos geneticamente modificados (OGM), por exemplo, recriou um pensamento político a respeito do tipo de agricultura e de mundo que estamos construindo. Ele soube reaproximar camponeses, para quem os OGM são uma nova expropriação; anticapitalistas em luta contra a empresa das patentes; cientistas alarmados com as consequências. Todos eles aprenderam uns com os outros, e é por isso que o movimento conseguiu causar embaraço àquilo que se propunha como um progresso incontestável. Depois, a insubmissão se enriquece, ampara-se de novas questões”. Continue lendo