Arquivo do autor:Isabela Gaglianone

cinema

Cinema de conversação

4 fevereiro, 2015 | Por Isabela Gaglianone

“Tento fazer filmes em que tenho perguntas a colocar e vou tentar saber quais são as respostas fazendo o filme. Geralmente o filme, quando dá certo, não termina com uma resposta-síntese” – Eduardo Coutinho.

cena do filme “Cabra marcado para morrer”

O livro Eduardo Coutinho, organizado Milton Ohata, reúne dois ensaios e dez entrevistas, além de dezenas de textos de crítica escritos por Eduardo Coutinho para o Jornal do Brasil entre os anos de 1973 e 74. A segunda parte do livro é dedicada a depoimentos de colaboradores que contam suas experiências de trabalho com o diretor. A terceira parte do livro é uma coletânea de resenhas de época, bem como de textos, todos inéditos, sobre a filmografia de Coutinho, escritos por cineastas e críticos de diversas gerações.

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Guia de Leitura

Livros que articulam mito e linguagem

3 fevereiro, 2015 | Por Isabela Gaglianone

A relação entre a abstração lógica que envolve tanto os mitos como as palavras tem sido, por diferentes áreas de conhecimento, abordada e explorada. Os pontos de contato dali decorrentes oferecem ricas ramificações para se pensar as lógicas, as significações conceituais e a amplitude simbólica, quer das imagens míticas, quer das formas linguísticas.

Raiz comum, ou decorrência de uma implicação recíproca e necessária, a poesia surge nesta imbricação.

 

vico

Giambattista Vico, “Ciência Nova”

O filósofo italiano Giambattista Vico, em sua Ciência Nova, sustenta que os primeiros povos da gentilidade, por uma comprovada necessidade natural, foram poetas e falaram por meio de figuras poéticas. Suas histórias tiveram princípios fabulosos. Os fundadores da humanidade, segundo ele, imaginativamente criaram os deuses, com sua lógica, criaram as línguas, com sua moral, criaram os heróis. De um só golpe, história das ideias, costumes e fatos do gênero humano.

A fábula teria nascido nos tempos mudos como linguagem mental, sendo, esta, considerada como poesia, ou verso, entendido em sua primazia histórica sobre a prosa. As fábulas, para Vico, são gêneros fantásticos em que as mitologias são suas alegorias; cada metáfora, assim, vem a ser uma pequena fábula. Na mesma lógica, os primeiros poetas devem ter dado às coisas os nomes, a partir de ideias mais particulares e sensíveis. A lógica poética, assim, é demonstrada como a origem das línguas e das letras.

 

Schelling, “Filosofia da arte”

As lições de Schelling em Filosofia da arte são uma sistematização das artes e dos gêneros poéticos, bem como da reflexão estética de modo geral até o início do século XIX. Traduzido no Brasil pelo professor Márcio Suzuki, este livro é exemplar da originalidade do pensamento de Schelling, pois, nele, o filósofo defende que o impulso da criação artística parte da mitologia; propõe, assim, um deslocamento significativo na concepção do mito em relação ao logos, considerando-os duas formas complementares de compreensão do mundo.

Para Schelling, natureza e história são em si mitológicas; a poesia é, por conseguinte, a conformação da atividade livre ideal da própria razão. A matéria da arte, a mitologia, é produzida pela arte, encontra na poesia um testemunho espiritual. O círculo é uma forma importante para a consciência mitológica. A união dos signos poéticos e mitológicos, do alegórico e do histórico, em Schelling também pode ser analisada no texto “A Divina Comédia e a filosofia”, traduzido por Rubens Rodrigues Torres Filho na coleção “Os pensadores” a partir da edição de 1981. Ali, ele mostra que a poesia, linguagem figurada, à maneira da mitologia, dá ao homem uma ideia moral e estética da humanidade.

 

cassirer

Ernst Cassirer, “Linguagem e mito”

Linguagem e mito, de Ernst Cassirer, foi publicado originalmente em 1924. Sua primeira e talvez definitiva tradução no Brasil foi feita por Anatol Rosenfeld e publicada em 1972. Pela reflexão sobre as formas simbólicas, ele visa apreender os modos de objetivação que caracterizam a arte, a religião e a ciência e, sobretudo, a linguagem e o mito; base de uma antropologia filosófica e de uma filosofia da cultura, cuja unidade é encontrada no reconhecimento de uma atividade simbolizante humana.

Cassirer pensa a linguagem e o mito como correspondentes de uma mesma maneira de pensar, grosso modo, metafórica. A partir de trabalhos filosóficos e filológicos, sua investigação questiona a identidade latente entre o nome e a coisa; ele analisa a delimitação da essência em conceitos, tomando as formas intelectuais não como representações ou símbolos, mas como geradoras de seu próprio mundo significativo. Entre a formação de conceitos linguísticos e míticos, encontra coincidências essenciais, pois atua, em ambos, o mesmo impulso de enformação simbólica: uma tendência do pensamento à compressão, à concentração em um só ponto, que determina o real acento da significação. Partilhando o mesmo impulso, ele encontra o mundo da poesia, que move-se livremente entre a palavra e a imagem mítica, apreendendo-as como órgãos.

 

Levi Strauss, “O pensamento selvagem”

As conclusões de Lévi-Strauss sobre O pensamento selvagem, especialmente ao serem regidas pela análise, comparativa e metafórica, da linguagem em relação aos modos de pensar ou conhecer as coisas no mundo, mostram que os universos mítico e linguístico entrelaçam-se, como estruturas construídas por uma qualidade arquitetônica da razão. A pesquisa antropológica aqui se desdobra em uma teoria da razão, uma reflexão epistemológica que reverbera-se em questões psicológicas e históricas, as quais revertem preconceitos etnocêntricos, identificando regras do pensamento de validade universal. As analogias entre os sistemas de significação de diferentes tribos e etnias com os das sociedades europeias são surpreendentes. Revelam o caráter geral dos sistemas classificatórios como sistemas de significação. O trabalho do antropólogo, nas mãos de Lévi-Strauss neste livro grandioso, encontra amparo na lógica do bricoleur: Ele demonstra uma bricolage intelectual no pensamento selvagem, que trabalha à maneira de um caleidoscópio, produzindo arranjos estruturais a partir de fragmentos, reunidos e espelhados, e cuja utilidade é semelhante à do signo, ao assumir o lugar da coisa significada a partir de arranjos da inteligibilidade causados por relações contingentes que atualizam possibilidades. Ainda que as classificações – de nomes, mitos, totens – formem sistemas complexos e coerentes, os termos nunca tem significação intrínseca, há diferentes cargas semânticas: “sua significação é ‘de posição’, por um lado, função histórica e do contexto cultural e, por outro, da estrutura do sistema em que são chamados a figurar”.

 

Octavio Paz, “O labirinto da solidão”

Octavio Paz>, em O labirinto da solidão, reflete sobre a história do México, a identidade do país e de seu povo, seu universo mental e realidade local, seus mitos, sua lógica: a mexicanidade. Mas não só. Além de ser uma das mais importantes tentativas de situar o homem latino-americano no contexto histórico mundial, pensando os mitos, o poeta encontra questões fundamentais da formação da lógica linguistica. Paz analisa os mitos à medida que estes expressam-se na força da linguagem e da poesia, por um lado, e na solidão, por outro – sendo a solidão, para ele, um sentimento universal, componente da cultura moderna.

O mito é fala; ambos remetem a um tempo irreversível – como Paz também demonstrou ao longo de sua análise sobre Levi-Strauss, publicada em Claude Lévi-Strauss ou o Novo Festim de Esopo. A linguagem e a mitologia são, ambas, representações da história condensada. Ao pensar a história e retornar às origens do pensamento, Paz encontra o mito e a poesia entrelaçados como linguagem primordial do homem. As conseqüências da ideia de unidade entre o mito e a língua encontra-se também desenvolvida ao longo dos ensaios de O arco e a lira.

 

 

O encontro conceitual da lógica da formação do mito e da linguagem repousa sobre um processo de abstração. Questão a um só tempo epistemológica, estética, antropológica, filológica, histórica. Na formação dos conceitos míticos e linguísticos delineiam-se noções limítrofes do pensamento e de sua capacidade de abstração.

Ambos conceitos implicam-se mutuamente, ao passo que também implicam a reflexão poética e revelam mecanismos lógicos que, como símbolos, postulam uma memória compartilhada.

 

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lançamentos

Cerrado entre o fantástico e o real

3 fevereiro, 2015 | Por Isabela Gaglianone

xilogravura de Hansen Bahia

Ontem comemorou-se cem anos do nascimento de José J. Veiga. O goiano, com ajuda do amigo Guimarães Rosa, publicou seu primeiro livro aos 44 anos: a reunião de contos O cavalinho de Platiplanto. Apenas sete anos depois ele publicou seu segundo livro, o romance A hora dos ruminantes, que, saudado pela crítica por sua prosa singular, encantou os leitores – na década de 60, esgotaram-se nove de suas edições. Fora das livrarias havia tempo, estes dois títulos são os primeiros a integrarem a cuidadosa reedição da obra completa de Veiga, agora enfim lançada pela Companhia das Letras, em homenagem a seu centenário.

A hora dos ruminantes é considerado o mais significativo romance do autor. Continue lendo

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lançamentos

A arte da palavra

2 fevereiro, 2015 | Por Isabela Gaglianone

A Cosac Naify acaba de trazer de volta às livrarias o clássico Introdução aos estudos literários, do filólogo e crítico literário Eric Auerbach.

O livro foi escrito em 1943, durante o exílio forçado do autor, como método didático para seus alunos na Universidade de Istambul. Nele, Auerbach visava esclarecer as bases de sua abordagem literária, a Filologia Românica, que dá unidade à história da literatura europeia, a partir de sua origem cristã, em latim, até a evolução que assumiu na forma das línguas modernas.

Conhecido por sua peculiar investigação dos problemas de história e de teoria literária, Auerbach, aqui, numa exposição a um só tempo clara e erudita, dá a seu leitor ferramentas para sua iniciação na pesquisa de literatura. Continue lendo

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matraca

Filosofia do bom humor

30 janeiro, 2015 | Por Isabela Gaglianone

El Greco, “Alegoria com menino acendendo vela na companhia de um macaco e de um tolo”

David Hume fala da “agradável melancolia” necessária ao estudo filosófico. O tédio, a melancolia, o bom humor são algumas das questões que embasam a chamada “arte de viver”, e que permeiam noções estéticas, morais e políticas de todo o Iluminismo. É o que o professor Márcio Suzuki, em A forma e o sentimento do mundo, lançado pela editora 34 no final do ano passado, investiga, com sua peculiar prosa ensaística, erudita e original.

Em sua análise, aborda filósofos como David Hume, Adam Smith, Francis Hutcheson, Adam Ferguson, Immanuel Kant, bem com escritores como Laurence Sterne. Suzuki mostra como suas ideias filosóficas englobam usos práticos e morais de atividades como a conversação, o jogo, a caça, e todas as formas de “distração”, de preenchimento do tempo destinado ao ócio em geral. As formas de humor, de diversão, de devaneios e de atividades que estimulam o lúdico, ainda que não tenham utilidade prática imediata, são ricas aberturas à criatividade e vias de um filosofar estimulante.

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lançamentos

Ambivalências das alucinações

29 janeiro, 2015 | Por Isabela Gaglianone

Adeus e boa noite a todos, repeti. Encostei a cabeça para trás e pus- me a olhar para a lua.

Hyeronimus Bosch

Requiem – Uma alucinação, escrito em 1991, é uma homenagem do italiano Antonio Tabucchi à cidade de Lisboa e à língua portuguesa. O romance é o único que Tabucchi escreveu em português. Nele, seu protagonista, num estado entre a realidade e o sonho, perambula pela cidade que o autor escolheu para viver e morrer: em seu caminho errático, entre lucidez e torpor, encontra-se com vivos e com mortos e segue em direção ao encontro que tem marcado, ao meio-dia, com Fernando Pessoa.  Revivendo partes de seu passado, entre encontros inusitados, ele passa por vielas do inconsciente, criando um requiem pessoal de música orgânica que abarca toda a ambiguidade humana. Requiem, explica Tabucchi na nota introdutória, executado “numa gaita de beiços, que se pode levar no bolso, ou num realejo, que se pode levar pelas ruas”.

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história

Levando água pelo peito

28 janeiro, 2015 | Por Isabela Gaglianone

A Companhia das Letras reeditou no final do ano passado Monções, estudo de Sérgio Buarque de Holanda, publicado originalmente em 1945, a respeito das expedições coloniais portuguesas pelos rios do sudeste e centro-oeste brasileiro, nos séculos XVIII e XIX.

Esta nova edição acrescentou ao livro um segundo volume, Capítulos de expansão paulista, uma coletânea, de organização inédita realizada pela historiadora Laura de Mello e Souza André Sekkel Cerqueira, de fragmentos do projeto do autor de ampliar o texto de Monções, com novas informações recolhidas ao longo de pesquisas posteriores, realizadas em Cuiabá e Lisboa. O título faz alusão a uma série de escritos inacabados de Sérgio Buarque de Holanda, como Capítulos de literatura colonial e Capítulos de história do Império.

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lançamentos

Esqueça a palavra

27 janeiro, 2015 | Por Isabela Gaglianone
evandro carlos jardim

Evandro Carlos Jardim, gravura em metal

Adriana Lisboa é reconhecida por seu trabalho literário em prosa, pelo qual já venceu prêmios como o Prêmio José Saramago, por Sinfonia em branco.

Parte da paisagem, sua mais recente publicação, porém, apresenta um outro lado, menos conhecido, de seu trabalho: sua produção poética. Trata-se de uma compilação de cinqüenta poemas, notáveis sobretudo pela musicalidade. Por entre temas variados, sua poética perpassa referências cinematográficas, esmiúça a vida por trás das letras – bem como seu caráter indicial de morte –, atravessa minúcias do cotidiano.

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matraca

Educação emancipatória

26 janeiro, 2015 | Por Isabela Gaglianone

“Todo conhecimento de si como inteligência está no domínio de um livro, de um capítulo, de uma frase, de uma palavra” – Rancière.

Jacques Rancière, em O mestre ignorante, apresenta as cinco lições sobre a emancipação intelectual decorrentes da história do francês Joseph Jacotot (1770 – 1840), professor e filósofo da educação. Jacotot, estudioso ardoroso do Século das Luzes, no ano de 1818 deparou-se com uma situação inusitada: ensinar a língua francesa a alunos holandeses que ignoravam o francês, assim como ele ignorava o holandês. O professor resolveu utilizar uma edição bilíngue, Télémaque, e deparou-se com um surpreendente resultado positivo dos alunos na execução das tarefas. Sua descoberta foi revolucionária: não há necessidade das explicações para haver aprendizagem; pelo contrário, a palavra do mestre verdadeiramente torna muda a matéria dada, pois condiciona o aprendiz ao recebimento da explicação. Para o professor Jacotot, mais do que a concepção de um novo método, tratou-se do estabelecimento de uma proposição pedagógica que tivesse a liberdade como princípio e a emancipação como método.  Continue lendo

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Literatura

Prosa poética

23 janeiro, 2015 | Por Isabela Gaglianone

“[…] movido por um instinto profundo sempre procurei sacralizar o cotidiano, desbanalizar a vida real, criar ou recriar a dimensão do feérico.” – Murilo Mendes

Murilo Mendes

Murilo Mendes publicou A idade do serrote em 1968. Livro em prosa no qual o poeta resgata sua infância e sua adolescência, passadas em sua cidade mineira natal, Juiz de Fora.

No ano passado, felizmente o leitor brasileiro ganhou uma nova edição deste belo livro. O volume, publicado pela Cosac Naify, conta com posfácio escrito por Cleusa Rio Passos, professora da USP, e traz uma crônica que Drummond escreveu sobre o livro, publicada à época pelo jornal Correio da Manhã, bem como uma carta, escrita em resposta, por Murilo.

As memórias, sob sua pena, tornam-se experiências líricas. Continue lendo

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Literatura

Lampejos literários

22 janeiro, 2015 | Por Isabela Gaglianone

camus

Ler os cadernos de juventude de um escritor que veio a ser um dos grandes pilares da literatura do século XX é de um interesse que ultrapassa a mera curiosidade intelectualmente arqueológica ou literariamente genética. É singular a liberdade do manuscrito enquanto cena de escritura – utilizando a expressão de Paul Valéry –, enquanto forma do pensamento bruto exteriorizado como sensibilidade verbal.

Albert Camus ao longo de sua vida inteira cultivou o hábito de escrever em pequenos cadernos algumas reflexões, experimentos literários, anotações dispersas e mesmo trechos que foram depois utilizados integralmente em seus primeiros livros.

A editora Hedra no ano passado publicou no Brasil a primeira tradução da reunião dos cadernos em três volumes. O primeiro deles, que cobre o período de 1935 a 37, intitulado Esperança do mundo, apresenta os apontamentos do jovem escritor em contato consigo mesmo, com suas próprias ideias e posições em relação ao mundo.  Continue lendo

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lançamentos

Racionalidade instrumentalizada

21 janeiro, 2015 | Por Isabela Gaglianone

Técnica e ciência como “ideologia”, de Jürgen Habermas, é uma coletânea de cinco ensaios, publicada originalmente em 1968. O ensaio cujo título dá nome ao volume originou o livro que seria publicado treze anos mais tarde, Teoria da ação comunicativa, considerado o ponto nevrálgico de toda a produção filosófica de Habermas.

Em suas considerações iniciais à obra, o filósofo aponta os ensaios “Técnica e ciência como ideologia” e “Conhecimento e interesse” – transcrição de uma aula inaugural, por ele proferida na Universidade de Frankfurt – como diferentes dos demais da coletânea, por não serem meros “trabalhos de ocasião”.

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matraca

Poemas circunstanciais

20 janeiro, 2015 | Por Isabela Gaglianone
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Magritte, “Ceci n’est pas une pomme” (1964)

Pouco se menciona sobre a produção poética de James Joyce. Uma reunião de seus poemas encontra-se no volume cuja tradução no Brasil é Pomas, um tostão cada [sendo, seu título original, Pomes, penyeach], título que mantem a aliteração ressonante do trocadilho entre “poems” – poemas – e “pomes” – pomos, normalmente utilizado em inglês para designar peras e maçãs. Traduzidos para o português por Alípio Correia de França Neto – que também é responsável pelas notas e pela introdução à edição brasileira –, os poemas foram reunidos e publicados pela primeira vez em 1927.

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história

A distância e a retórica

19 janeiro, 2015 | Por Isabela Gaglianone

Odilon Redon

O historiador Carlo Ginzburg, em Olhos de Madeira – Nove Reflexões Sobre a Distância, parte da premissa aceita pelo senso comum de que as fronteiras do nosso mundo parecem estar diminuindo, dadas as proporções da globalização. O convívio com diferentes culturas é uma dificuldade latente a este processo, apesar de que, historicamente, gera estranhamentos intelectualmente profícuos: há uma longa tradição, que encontra no olhar do estranho – do selvagem, do cego, do animal –, a capacidade de mostrar incoerências da sociedade. Nessas “Reflexões sobre a distância”, Carlo Ginzburg reflete sobre essa tradição e aponta a impossibilidade da narrativa da história europeia que desconsidera os seus contatos com outras civilizações.

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lançamentos

Rapsódias do andarilho

16 janeiro, 2015 | Por Isabela Gaglianone

Robert Walser

Robert Walser nasceu em Biel, na Suíça, em 1878; foi encontrado morto, em 1956, na neve, em Herisau, pouco longe do instituto psiquiátrico que habitava havia vinte e três anos. Ao longo de sua vida, não obteve reconhecimento e, quando após sua morte, enfim passou a ser lido e admirado, o foi por autores como Kafka, Musil, Hesse, Canetti, Benjamin.

Walser, que escreveu poemas e quatro romances, conseguiu, também em suas prosas curtas, manifestar seu gênio. Este volume, Absolutamente nada e outros contos, reúne mais de quarenta minicontos, além de esquetes, solilóquios e improvisos escritos entre 1907 e 1929. Traduzidos por Sérgio Telleroli, estes textos apresentam um vasto panorama da prosa walseriana.

Versam sobre temas variados, como uma caminhada pelo campo, uma viagem de balão, um quarto alugado, calças compridas, um macaco num café, flores, Kleist ou Cézanne. Mesmo “absolutamente nada” pode lhes ser matéria-prima.

Walser é conhecido por uma prosa delicada e precisa. Segundo Walter Benjamin, “as figuras humanas de Robert Walser partilham sua nobreza infantil com as personagens dos contos de fadas”. Continue lendo

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