Arquivos da categoria: matraca

Breves resenhas diárias.

Literatura

Alegorias satíricas

12 janeiro, 2015 | Por Isabela Gaglianone

“– O mundo é medíocre – Jed terminou por dizer. – E quem cometeu esse assassinato aumentou a mediocridade do mundo”.
M. Houellebecq, O mapa e o território.

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A revista satírica Charlie Hebdo, cujas ilustrações caricatas e charges críticas provocaram a ira fanática supostamente vingativa de um grupo islâmico radical na semana passada, trazia na capa de sua última edição o polêmico escritor francês Michel Houellebecq, desenhado como espécie de mago, a dizer uma frase que resume com ironia o cenário de seu último livro, Soumission, lançado agora na França: “Em 2015, eu perco meus dentes. Em 2022, eu cumpro o Radamã”. A narrativa supõe um mundo tiranizado por um governo islâmico radical. O autor, conhecido por suas posições polêmicas, muitas vezes mal-educadas, já havia sido processado por afirmações na mídia francesa como “o islamismo é a religião mais estúpida” e, prudente, interrompeu por ora o lançamento do livro. No Brasil, a editora Alfaguara declarou a intenção de sua publicação neste primeiro semestre.

Houellebecq em 2010 venceu o importante Prêmio Goncourt de melhor romance do ano, com O mapa e o território, também polêmico, porém em outro assunto: a arte contemporânea e a questão da representação, sob o viés da apropriação de informações e da cópia. No romance, o autor tece observações mordazes, contemporâneas, concernentes aos valores que regem a produção artística, a crítica e o mercado de arte. O protagonista, deste romance que é considerado de um “realismo depressivo” conforme aponta em artigo Alexandre Pilati, professor de literatura brasileira na UNB, desenvolve a teoria da existência de uma super-consciência do mundo, que renegaria ilusões, apesar de fabricá-las, construindo, com ironia e desesperança, um mundo de relações de espetáculo.

O romance perpassa a vida do artista plástico Jed Martin, como uma perturbadora fábula sobre arte, dinheiro, valores. O autor, para descrever produtos, lugares e personalidades, lançou mão da reprodução literal de notas publicadas originalmente em sites como Wikipédia, bem como em panfletos e reportagens, fato que colocou o livro como alvo e propulsão de uma intensa discussão sobre os limites entre citação e plágio.

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história

História filosófica

18 dezembro, 2014 | Por Isabela Gaglianone

“Se nem todo filósofo deve ser historiador, seria ao menos desejável que todo historiador se tornasse filósofo” – Edward Gibbon.

Afresco de Pompeia

Ensaios de história, de Edward Gibbon, acaba de ser publicado pela editora Iluminuras, sob a tradução cuidadosa de Pedro Paulo Pimenta. O livro reúne textos da juventude do historiador, conhecido sobretudo pelo estudo clássico Declínio e queda do Império Romano. Alguns dos ensaios reunidos no volume são “Ensaio sobre o futuro da história”, “Dos triunfos romanos”, “Situação da Germânia antes da invasão pelos bárbaros” e “Maneiras das nações pastoris”. Gibbon é exemplar representante de uma concepção e um método da história filosófica, como praticada por seus predecessores, Tácito, Montesquieu, Hume.

Pedro Pimenta, também responsável pelo texto de apresentação, pontua a relevância dos textos como complementos à edição condensada brasileira de Declínio e queda (cuja tradução, segundo ele, é “um clássico de José Paulo Paes”, mas exclui duas dissertações de interesse para essa tese geral, uma delas sobre os germânicos, a outra sobre os citas, ou hunos, ambas incluídas neste volume). Pimenta pontua: “O volume que o leitor tem em mãos traz pela primeira vez em língua portuguesa esse escrito de juventude, cujo caráter polêmico e estilo vigoroso caem bem a um jovem autor cheio de ambição e confiança”.

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Literatura

Ficção filosófica

17 dezembro, 2014 | Por Isabela Gaglianone

Gabriel Tarde (1843-1904)

Imbricada entre a Viagem ao centro da Terra de Júlio Verne e a Máquina do tempo de H. G. Wells, a ficção filosófica científica Fragmento de história futura, de Gabriel Tarde, propõe, a seu turno, uma visão dos séculos vindouros. A obra, publicada originalmente em 1896, é considerada uma fábula sociológica. Seu narrador vive num futuro distante, por volta do século XXXI, e conta a história de um mundo que não precisa de luz, nem de felicidade: mundo em que, extinto o sol por uma catástrofe, a humanidade decide habitar as entranhas da terra, distante de qualquer vestígio de natureza. Nossos supostos descendentes ‘trogloditas’ – não no sentido de neoprimitivos, mas como representantes de uma artificialização emancipatória da humanidade, responsável pelo florescimento de uma civilização refinada – deram início a uma utopia subterrânea, o nascimento de uma humanidade que pode tirar tudo de si mesma, para a qual a natureza ganha “o encanto profundo e íntimo de uma velha lenda, mas de uma lenda na qual acreditamos”.

O cenário atordoante que a imagem cria, serve para Tarde como desenvolvimento de um experimento ficcional para suas teorias sociológicas. Trata-se de um experimento intelectual para pensar a essência da sociedade humana, através da descrição de uma “humanidade inteiramente humana” resultante da “eliminação completa da Natureza viva, seja animal, seja vegetal, excetuado apenas o homem. Daí, por assim dizer, uma purificação da sociedade”.

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matraca

O encontro entre eternidade e história

16 dezembro, 2014 | Por Isabela Gaglianone

Ticiano

Acaba de ser lançado no Brasil o interessante ensaio Pilatos e Jesus, de Giorgio Agamben. Trata-se de uma profunda reflexão sobre o enigma do julgamento de Jesus Cristo à luz da análise da figura de Pilatos, que, segundo Agamben, é a responsável por assegurar o caráter histórico da paixão de Cristo, por ser talvez a única personagem genuinamente humana, de carne e osso, dos Evangelhos. Um homem de quem conhece-se hesitações, o medo, o ressentimento, a hipocrisia, o sarcasmo. Agamben extrai do breve encontro entre Pilatos e Jesus, para além do drama da paixão e da redenção, o encontro único entre o “mundo dos fatos” e o “mundo da verdade”, o embate entre a eternidade e a história.

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lançamentos

A arte pela arte

11 dezembro, 2014 | Por Isabela Gaglianone

“Toda arte aspira constantemente à condição de música”.

Leonardo da Vinci

Para Walter Pater (1839-94), a Renascença foi um movimento motivado pelo “amor pelas coisas do intelecto e da imaginação por elas mesmas”. Seu estudo, O Renascimento, mostra que durante o período em questão buscou-se meios de “fruição intelectual ou imaginativa”, nas fontes antigas, os textos clássicos e medievais.

Pater foi professor de Oxford, especialista em arte e história do Renascimento, e notório sobretudo por seu estilo refinado. Seus ensaios visam, sobretudo, compreender os efeitos caudados pela recepção da pintura, da escultura e das obras literárias renascentistas. Seu esforço ensaístico principal parece ser olhar os objetos como se vistos pela primeira vez: para tanto, ele usa suas próprias impressões pessoais, para que, a partir delas, possa encontrar a gênese das sensações e emoções estéticas, que procura traduzir. O resultado é uma linguagem que, para falar da criação artística, acaba tornando-se uma por si só. Pater toma seu objeto de análise não como matéria inerte, mas preservando sua autonomia, enquanto ideia, antes do que realidade efetiva.

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Literatura

Fragmentos

9 dezembro, 2014 | Por Isabela Gaglianone

“Ninguém vê ninguém como é, exceto uma idosa senhora sentada diante de um rapaz estranho num vagão de trem. As pessoas veem um todo – veem todo tipo de coisas – veem a si próprias”.

Virginia Woolf e seus irmãos, Thoby, Adrian e Vanessa.

Publicado originalmente em 1922, O quarto de Jacob é o primeiro romance em que Virginia Woolf explora o estilo experimental que se tornou tão característico em sua obra. Foi também o primeiro de seus livros publicado pela editora do casal Woolf, a Hogarth Press e, por isso, marco de sua liberdade criativa editorial.

A narrativa orbita de forma plurivalente em torno da história de vida do protagonista Jacob Flanders, apresentada através de impressões, do próprio protagonista e de outros personagens em relação a ele. A narrativa é construída como espécie de fuga rapsódica de memórias e sensações; nela, a descrição concreta é substituída por impressões cuja espontaneidade e tempo de desenvolvimento formam uma prosa delicada e profundamente humana. Seu fio condutor são os tormentos, as dúvidas, as ambições, os pensamentos, os silêncios das personagens. O narrador, como também acontece nas obras posteriores de Virginia Woolf, não é onisciente, ele mesmo sugere, tem dúvidas, mostra-se um observador.

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matraca

Por entre as cópias

8 dezembro, 2014 | Por Isabela Gaglianone

Marcel Duchamp

“A pesquisa dos textos sagrados sejam eles Marx ou Mao, Guevara ou Rosa Luxemburgo tem antes de mais nada a seguinte função: restabelecer uma base de discurso comum, um corpo de autoridades reconhecíveis sobre as quais instaurar o jogo das diferenças e das propostas em conflito. Tudo isso com uma humildade completamente medieval e exatamente oposta ao espírito moderno, burguês e renascentista; não tem mais importância a personalidade de quem propõe, e a proposta não deve passar como descoberta individual, mas como fruto de uma decisão coletiva, sempre e rigorosamente anônima. Desse modo uma reunião em assembléia se desenvolve como uma questio disputata: a qual dava ao forasteiro a impressão de um jogo monótono e bizantino, enquanto nela eram debatidos não só os grandes problemas do destino do homem, mas as questões concernentes à propriedade. à distribuição da riqueza, às relações com Príncipe, ou à natureza dos corpos terrestres em movimento e dos corpos celestes imóveis”.

 

Viagem na irrealidade cotidiana, de Umberto Eco, tece uma crítica ao falso e à cópia. A ironia da “cópia autêntica” é investigada pelo grande professor e intelectual italiano, à guisa de uma viagem pela costa Oeste dos Estados Unidos, visitando museus e mostrando o quanto há de “falsidade” no mundo contemporâneo, em geral, na cultura americana, em particular.

Eco perpassa analiticamente exemplos variados: as reproduções, em museus, de obras primas cujos originais encontram-se em outras partes do mundo; as construções de réplicas arquitetônicas, como o castelo construído na Califórnia com peças numeradas vindas da Europa e cujos cômodos foram preenchidos com cópias de pinturas e objetos; uma estátua de cobre na Grécia, que é cópia da “cópia autêntica” romana – cujo original com o tempo já se perdeu; a artificialidade da Disneylândia, cujas filas ele compara às do gado no corredor de abate; a transmissão manipulada das notícias pelo formato variado e efêmero dos telejornais.

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A interação entre produção e dispêndio

5 dezembro, 2014 | Por Isabela Gaglianone

Goya, gravura da série “Caprichos”

Bataille, em A parte maldita – Precedida de “A noção de dispêndio”, desenvolve noções-chave dentro de seu pensamento, tais como os conceitos de dispêndio, excesso, sacrifício, luxo e sagrado. Como conta o autor, o livro foi resultado de dezoito anos de pesquisa e reflexão; dividido em cinco partes, constituiu-se como um ensaio de economia geral, uma tentativa de representar o mundo em termos gerais, distanciando-se da explicitação da economia isolada que foca suas análises na relação entre produção, lucro e acumulação. O resultado é uma reflexão sobre o modo de representação do mundo em relação ao problema do destino da energia que circula na superfície terrestre, segundo Bataille, o modo dispendioso. Na noção de dispêndio, sua análise econômica encontra seu veio argumentativo principal.

“A parte maldita”, escrito em 1949, é um desenvolvimento do ensaio “A noção de dispêndio”, publicado de 1933. Em conjunto, ambos tratam, através da economia política, de estabelecer bases sólidas para que Bataille pudesse pensar, em 1957, o conceito de erotismo como chave de leitura da totalidade inacabada humana. O “dispêndio improdutivo” aparece aqui como fundamento da investigação humana. A noção de inutilidade que acarreta, gerada pelo gasto, pela perda de dinheiro ou de energia, é profundamente ligado à noção de erotismo posteriormente desenvolvida pela autor.

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lançamentos

Trágico e irônico, cheio de subentendidos

4 dezembro, 2014 | Por Isabela Gaglianone

Filho e neto de pianistas apaixonados por música clássica, Jean Echenoz leva das partituras para a literatura o rigor preciosista. Seu último romance, 14, publicado pela editora 34 com tradução feita por Samuel Titan Jr., é um artefato de concisão perfeita, a apresentar um panorama da Primeira Guerra Mundial. Echenoz disse, em entrevista, escrever com imagens, dentro de um método visual que mistura imaginação e linguagem; a precisão dessas imagens, bem como dos ângulos pelos quais são apresentadas e desenvolvidas, é, neste livro, notável. O escritor, vencedor do Prêmio Goncourt de 1999 e um dos mais respeitados nomes da literatura francesa contemporânea, em 14 retrata, ao longo de quinze breves capítulos, a guerra a partir das histórias individuais de cinco amigos e uma mulher, que partem para o front sem imaginar o que poderiam esperar. A perspectiva da gente comum, que se viu entregue à própria sorte, sem saber se sobreviveriam à longa matança e se viriam a recomeçar suas vidas, um dia, é delineada por Echenoz em um estilo apurado, avesso a toda ênfase sentimental ou épica. A narrativa mostra a separação entre a euforia dos primeiros dias, em meio à qual acreditava-se que seria uma questão de dias até que a guerra acabasse, e o longo horror das trincheiras. O livro conquistou a crítica, foi um sucesso de vendas e é considerado uma obra-prima.

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matraca

O humor como ética histórico-social

3 dezembro, 2014 | Por Isabela Gaglianone

Picasso, 1924.

Em Raízes do riso – A representação humorística na história brasileira: da Belle Époque aos primeiros tempos do rádio, o historiador Elias Thomé Saliba perpassa a história do Brasil sob o prisma do riso enquanto invenção histórica e representante de valores. Analisando como o humor criou-se no Brasil, desde o final do século XIX até a década de 1940, o livro mostra a relação entre a produção humorística brasileira e o processo de modernização do país através da participação na criação de um novo jornalismo e no desenvolvimento de novos meios de comunicação, e como, pelas inovações no uso da língua esta produção também aproximou a cultura escrita da tradição oral.

Saliba analisa o humor na imprensa diária ou semanal, nos palcos dos teatros de revista, nas gravações de discos, filmes e programas de rádio. O período que sua pesquisa cobre, aponta o destaque que a produção humorística teve na vida nacional, ainda que jamais tenha feito parte do cânone de consagração da chamada alta cultura. Ainda que não reconhecidos como tal, as críticas irreverentes dos humoristas, suas brincadeiras com a linguagem e com os costumes, formaram a crônica de um período de profundas transformações históricas no Brasil e inclusive contribuíram para moldar uma identidade brasileira.

O texto de Saliba é todo intermeado por divertidas anedotas e caricaturas, oferecendo um ponto de vista original sobre a visão de mundo dos brasileiros através de seu senso de humor.  Continue lendo

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Artes Plásticas

Cem anos de Iberê

2 dezembro, 2014 | Por Isabela Gaglianone

Iberê Camrgo, pintura da série “Carretéis”

Em homenagem ao centenário do nascimento do artista plástico Iberê Camargo (1914 – 1993), acaba de ser lançado, pela CosacNaify, o livro Cem anos de Iberê, organizado pelo crítico de arte e curador Luiz Camillo Osorio, responsável pelo texto de apresentação e pela seleção das mais de duzentas imagens que compõem o volume. Osorio traça um panorama retrospectivo da obra de Iberê, reunindo gravuras, desenhos e sobretudo pinturas. O livro conta também uma rica sugestão bibliográfica e com a reunião de treze textos curatoriais, escritos para exposições do artista realizadas pela Fundação Iberê Camargo.

Iberê é certamente um dos maiores nomes da arte brasileira do século XX. Sua obra é pungente, é material e formalmente dramática. Estruturada por uma poética complexa, cuja resistência confere um caráter dialógico a cada movimento plasmado no papel, na chapa, na tela, sua obra estabelece uma relação profunda entre a construção e a expressividade. Suas soluções formais transformam a matéria bruta em afirmações profundas.

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Literatura

Romance histórico do Goiás

1 dezembro, 2014 | Por Isabela Gaglianone

“Zé do Carmo não conciliava o sono. Cismava dentro da escuridão. Davam cambalhotas pela sua cabeça os mais desencontrados pensamentos. Lembrava-se de tempos longinquos, quando era bem jovem. Como tinha sido bom o seu tempo de barqueiro! Forte, peito largo, bom no remo e no varejão, batuta numa cúia de jacuba!”

Almeida Junior, “Caipira picando fumo”, 1893

Pium, romance de Eli Brasiliense (1915 – 1998), foi publicado pela primeira vez em 1949. Premiado com a Bolsa de Publicações Hugo de Carvalho Ramos, é atualmente um livro pouco comentado. Sua relevância literária e histórica, contudo, desenha-se pela análise de seu papel na formação de uma literatura goiana regional. A obra, voltada aos problemas do garimpo, ao ambiente degradado de suas áreas, é considerado o primeiro verdadeiro romance surgido nas terras de Goiás. Segundo José Godoy Garcia – em Aprendiz de feiticeiros: estudos críticos [1997] – trata-se de “uma obra que pode ombrear-se com as melhores de muitos romancistas de renome (e estou me lembrando da obra de Zé Lins do Rego)”.

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matraca

O pensamento metafórico

28 novembro, 2014 | Por Isabela Gaglianone

Wesley Duke Lee

Linguagem e mito, de Ernst Cassirer (1874 – 1945), foi publicado originalmente em 1924. Sua primeira e talvez definitiva tradução no Brasil foi feita por Anatol Rosenfeld e publicada em 1972.

Cassirer pensa a linguagem e o mito como correspondentes de uma mesma maneira de pensar, grosso modo, metafórica.

Argumentando a partir de trabalhos filosóficos e filológicos, ele começa sua investigação questionando a possibilidade de leitura da essência de cada configuração mítica enquanto intimamente relacionada ao nome, colocando sob análise a identidade latente entre o nome e a coisa. Reflete sobre a delimitação da essência em conceitos, baseando-se em noções kantianas, das quais decorre-se que as formas intelectuais devem ser tomadas não como representações ou símbolos, mas como geradoras de seu próprio mundo significativo.

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lançamentos

O bonito do feio, do desviante, do errado

27 novembro, 2014 | Por Isabela Gaglianone

Grotesco, irônico, filosófico, jocoso: complexo; Graça infinita, de David Foster Wallace (1962 – 2008), é um dos acontecimentos literários mais aguardados e comentados do ano. Publicado originalmente em 1996, o aclamado Infinite Jest finalmente ganha uma – ótima – edição no Brasil, pela cuidadosa tradução de Caetano Galindo.

O autor debruçou-se sobre esta, que é considerada sua obra-testamento, por mais de uma década. Foi seu segundo e último romance, cultuado por sua bem-humorada e satírica densidade e profundidade.

gravura de Delacroix

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lançamentos

Investigação, metafórica

26 novembro, 2014 | Por Isabela Gaglianone

Xilogravura japonesa [Ukiyo-e] erótica [shunga] de Katsuhika Hokusai

Certa noite, Shizuka Kanai relembra em retrospecto a tomada de consciência da própria sexualidade. Vita sexualis, de Ogai Mori, acompanha essa linha de pensamento íntimo sob a forma de diário, ao longo de uma narrativa que é considerada patrimônio cultural pela Unesco, pois traça um panorama vasto da maneira como a vida íntima era tratada no Japão na década de 1910. Autobiográfica, a história acompanha o desenvolvimento sexual do protagonista, desde as mais tenras e inocentes experiências, aos seis anos, até seu encontro com uma cortesã profissional, aos vinte e um anos, quando sai do Japão para estudar na Alemanha. Toda a narrativa, porém, ocorre sob o signo da discrição tipicamente japonesa da época. A obra não tem o erotismo que seu título sugere, antes explora o conteúdo psicológico de observações e reflexões do protagonista.

O livro é mais do que uma lasciva novela erótica, sua riqueza, sobretudo enquanto história social, de valores e costumes, é notável. Continue lendo

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