Arquivo da tag: história

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A arte da palavra

2 fevereiro, 2015 | Por Isabela Gaglianone

A Cosac Naify acaba de trazer de volta às livrarias o clássico Introdução aos estudos literários, do filólogo e crítico literário Eric Auerbach.

O livro foi escrito em 1943, durante o exílio forçado do autor, como método didático para seus alunos na Universidade de Istambul. Nele, Auerbach visava esclarecer as bases de sua abordagem literária, a Filologia Românica, que dá unidade à história da literatura europeia, a partir de sua origem cristã, em latim, até a evolução que assumiu na forma das línguas modernas.

Conhecido por sua peculiar investigação dos problemas de história e de teoria literária, Auerbach, aqui, numa exposição a um só tempo clara e erudita, dá a seu leitor ferramentas para sua iniciação na pesquisa de literatura. Continue lendo

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história

História filosófica

18 dezembro, 2014 | Por Isabela Gaglianone

“Se nem todo filósofo deve ser historiador, seria ao menos desejável que todo historiador se tornasse filósofo” – Edward Gibbon.

Afresco de Pompeia

Ensaios de história, de Edward Gibbon, acaba de ser publicado pela editora Iluminuras, sob a tradução cuidadosa de Pedro Paulo Pimenta. O livro reúne textos da juventude do historiador, conhecido sobretudo pelo estudo clássico Declínio e queda do Império Romano. Alguns dos ensaios reunidos no volume são “Ensaio sobre o futuro da história”, “Dos triunfos romanos”, “Situação da Germânia antes da invasão pelos bárbaros” e “Maneiras das nações pastoris”. Gibbon é exemplar representante de uma concepção e um método da história filosófica, como praticada por seus predecessores, Tácito, Montesquieu, Hume.

Pedro Pimenta, também responsável pelo texto de apresentação, pontua a relevância dos textos como complementos à edição condensada brasileira de Declínio e queda (cuja tradução, segundo ele, é “um clássico de José Paulo Paes”, mas exclui duas dissertações de interesse para essa tese geral, uma delas sobre os germânicos, a outra sobre os citas, ou hunos, ambas incluídas neste volume). Pimenta pontua: “O volume que o leitor tem em mãos traz pela primeira vez em língua portuguesa esse escrito de juventude, cujo caráter polêmico e estilo vigoroso caem bem a um jovem autor cheio de ambição e confiança”.

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matraca

O encontro entre eternidade e história

16 dezembro, 2014 | Por Isabela Gaglianone

Ticiano

Acaba de ser lançado no Brasil o interessante ensaio Pilatos e Jesus, de Giorgio Agamben. Trata-se de uma profunda reflexão sobre o enigma do julgamento de Jesus Cristo à luz da análise da figura de Pilatos, que, segundo Agamben, é a responsável por assegurar o caráter histórico da paixão de Cristo, por ser talvez a única personagem genuinamente humana, de carne e osso, dos Evangelhos. Um homem de quem conhece-se hesitações, o medo, o ressentimento, a hipocrisia, o sarcasmo. Agamben extrai do breve encontro entre Pilatos e Jesus, para além do drama da paixão e da redenção, o encontro único entre o “mundo dos fatos” e o “mundo da verdade”, o embate entre a eternidade e a história.

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Ensaios

Signos em rotação ou: por que artista?  

15 dezembro, 2014 | Por Isabela Gaglianone

Marcel Duchamp

A IMAGEM DO MUNDO E A POESIA

A arte responde ao mundo, fala a própria história. Se o “nosso tempo é o do fim da história como futuro imaginável e previsível”, a própria sociedade, como palavra viva e palavra vivida, hoje deve descobrir a figura do mundo na dispersão de seus fragmentos. Paz anuncia daí sua mirada, o “ponto de inserção da poesia que é também um ponto de interseção, centro fixo e vibrante onde se anulam e renascem sem trégua as contradições. Coração-manancial”[i].

Seu poético questionamento debruça-se sobre as “possibilidades de encarnação da poesia”; sua pergunta, não é “sobre o poema e sim sobre a história: será uma quimera pensar em uma sociedade que reconcilie o poema e o ato, que seja palavra viva e palavra vivida, criação da comunidade e comunidade criadora?”. Paz identifica a questão primordial, que une ao presente o passado: a origem poética da língua ao balbuciamento do signo puro do “contínuo transcender-se, desse permanente imaginar-se” que é o poema enquanto tradução do homem, da sua essência ontológica enquanto constante busca de si, sendo o mundo sem cessar de ser ele mesmo.

“[…] o poeta escuta. No passado foi o homem da visão. Hoje aguça o ouvido e percebe que o próprio silêncio é voz, murmúrio que busca a palavra de sua encarnação. O poeta escuta o que diz o tempo, ainda que ele lhe diga: nada”. 

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matraca

Forma-de-vida

15 outubro, 2014 | Por Isabela Gaglianone

“Nós jamais chegaremos a perceber o que se passa hoje em dia sem compreender o fato de que o capitalismo é na verdade uma religião” – G. Agamben.

São Francisco de Assis, por Giotto.

Altíssima pobreza, de Giorgio Agamben, dá prosseguimento e às reflexões e análises iniciadas em obras anteriores e debruça-se sobre o universo sacerdotal, reconstruindo a genealogia de uma forma-de-vida, “uma vida que se vincule tão estreitamente a sua forma a ponto de ser inseparável dela”. Sua argumentação funda-se na ampla análise do legado mais precioso do franciscanismo – ao qual a história ocidental inúmeras vezes voltou-se como sua tarefa indeferível –, a concepção de vida que não se encaixa em vínculos de propriedade, que não é sujeita à posse, somente ao uso comum. Agamben parte de uma leitura profunda do monasticismo ocidental, de Pachomius a São Francisco, reconstruindo em detalhe a vida dos monges. O filósofo defende a tese de que a verdadeira novidade do monasticismo não encontra-se na indistinção entre vida e norma, mas na descoberta desta concepção, em que “vida”, talvez pela primeira vez, foi afirmada em sua autonomia; convepção a partir da qual a alegação da “altíssima pobreza” e do “uso” desafiam e emancipam-se da lei.

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história

Pelas fronteiras coloniais

26 maio, 2014 | Por Isabela Gaglianone

Manuscrito de Francisco José de Lacerda e Almeida

O livro Francisco José de Lacerda e Almeida – Um astrônomo paulista no sertão africano é um interessante estudo sociológico, antropológico, histórico e biográfico, realizado por Magnus Roberto de Mello Pereira e André Akamine Ribas.

Lacerda e Almeida, como muitos brasileiros no século XVIII, estudou na Universidade de Coimbra, na qual estudou Matemática e Astronomia. Assim que se formou, foi contratado pela coroa para integrar a comissão de demarcação das fronteiras entre os territórios americanos de Portugal e Espanha, pelo que passou dez anos no Mato Grosso. Lacerda e Almeida posteriormente voltou a Portugal, onde se tornou professor de astronomia; em 1797 foi incumbido de atravessar a África, de Moçambique a Angola. Morreu no sertão africano, sem conseguir cumprir sua missão. A demarcação das fronteiras da América do Sul e a expedição de travessia da África estão entre as maiores aventuras científicas do século XVIII.

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Obscuridades do direito e da democracia

20 maio, 2014 | Por Isabela Gaglianone

“Diante do incessante avanço do que foi definido como uma ‘guerra civil mundial’, o estado de exceção tende sempre mais a se apresentar como o paradigma de governo dominante na política contemporânea. Esse deslocamento de uma medida provisória e excepcional para uma técnica de governo ameaça transformar radicalmente – e, de fato, já transformou de modo muito perceptível – a estrutura e o sentido da distinção tradicional entre os diversos tipos de constituição. O estado de exceção apresenta-se, nessa perspectiva, como um patamar de indeterminação entre democracia e absolutismo”.

Em Estado de Exceção, o filósofo italiano Giorgio Agamben estuda a contraditória figura dos momentos (outrora) “extraordinários” – de emergência, sítio, guerras –, nos quais o Estado manipula dispositivos legais para suprimir limites à sua atuação, a própria legalidade e os direitos dos cidadãos. Segundo o autor, “o estado de exceção apresenta-se como a forma legal daquilo que não pode ter forma legal”: um poder além de regulamentações e controle, que hoje não é mais excepcional, é o próprio padrão de atuação dos Estados.

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O homem, a História, as imagens

15 maio, 2014 | Por Isabela Gaglianone

Ninfas – que compõe a série de ensaios publicada em 1998 sob o título Image et mémoire – do italiano Giorgio Agamben, tece uma reflexão sobre o moderno esquecimento da experiência, baseada numa análise sobre o trabalho do crítico e historiador da arte alemão Aby Warburg e de seu atlas das diversas versões de representação de determinadas figuras da arte, o Altas Mnemosyne. Para Warburg, trabalhar com imagens, nesse sentido representativo diversificado, significa trabalhar no limiar, não somente entre o corpóreo e o incorpóreo, mas, sobretudo, entre o individual e o coletivo. Para Agamben, seria o cerne da problemática em torno do papel fundamental do contemporâneo.

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Idade d’Ouro

23 abril, 2014 | Por Isabela Gaglianone

O livro Um tipógrafo na Colônia, do jornalista Leão Serva, é um relato histórico e jornalístico da história de seu tataravô, Manoel Antonio da Silva Serva (1760-1819), que foi o criador do primeiro jornal não-oficial publicado e editado no Brasil, em 1811, o “Idade d’Ouro”, bem como da primeira revista nacional, “Variedades ou Ensaios de Literatura”, publicada em 1812. Fundada em Salvador, sua tipografia foi a primeira de propriedade particular no Brasil-colônia.

Apesar dos feitos editoriais, bem como de seu pioneirismo, Silva Serva é hoje mais conhecido por ter popularizado as famosas fitinhas do Senhor do Bonfim, cuja origem é também descrita no livro.  Continue lendo

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Temível pirata

11 abril, 2014 | Por Isabela Gaglianone

Khair ed-Din (1470-1546), cujo nome significa “protetor da fé”, de cabelo e barba ruivos passou a ser conhecido e temido em todo o Mediterrâneo como Babarossa, o pirata. Escrito por Ernle Bradford, este volume é um interessante estudo histórico desvendando essa figura mítica e extraordinária, a própria personificação do que viria a ser eternizado como a temível figura do pirata.

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Do assassinato de Leon Trotski

3 março, 2014 | Por Isabela Gaglianone

Ótimo lançamento da editora Boitempo, a premiada obra O homem que amava os cachorros, escrita pelo cubano Leonardo Padura é e não é uma ficção. A história retoma os últimos anos da vida de Leon Trotski, seu assassinato e a história de seu algoz, o catalão Ramón Mercader, o homem que empunhou a picareta – um personagem sem voz na história mas que recebeu, como militante comunista, esta única tarefa: eliminar Trotski, o teórico russo e comandante do Exército Vermelho durante a Revolução de Outubro, que fora exilado por Joseph Stalin. São descritas a adesão de Mercader ao Partido Comunista espanhol, o treinamento em Moscou, a mudança de identidade e os artifícios para ser aceito na intimidade do líder soviético, numa série de revelações que preenchem uma história dissimulada e mistificada.

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história

Uma leitura histórico-social do texto literário

16 janeiro, 2014 | Por Isabela Gaglianone

A leitura minuciosa de um conto, de um poema, de um romance, concentram em si sínteses históricas sob a pena erudita de Alfredo Bosi.

O livro Entre a literatura e a história, reúne cerca de quarenta textos, entre ensaios inéditos, entrevistas, prefácios e artigos de intervenção que versam sobre a literatura brasileira romântica, moderna e contemporânea, sobre as vanguardas latino-americanas, sobre Vico e também Leopardi. O volume conta ainda com uma série de textos em que Bosi revê etapas de sua própria formação, traçando o perfil de intelectuais como Otto Maria Carpeaux – sobre quem Bosi afirma ter seguido a esteira, examinando “as relações dialéticas entre ideologia e poesia e ideologia e narrativa, o que lhe abriu caminho para o seu conceito de literatura como resistência” –, Celso Furtado, entre outros, e discute questões contemporâneas, como, por exemplo, os desafios da educação no Brasil, ou a necessidade da poesia hoje: “A poesia seria hoje particularmente bem-vinda porque o mundo onde ela precisa subsistir tornou-se atravancado de objetos, atulhado de imagens, aturdido de informações, submerso em palavras, sinais e ruídos de toda parte”. A crítica literária e o pensamento sobre a literatura encaminham, assim, análises profundas, sobre a sociedade, sobre a história, enquanto trajeto e enquanto presente: uma leitura histórico-social do texto literário.

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história

O homem é nostalgia

4 dezembro, 2013 | Por Isabela Gaglianone

Octavio Paz definiu assim O labirinto da solidão: “O labirinto da solidão foi um exercício da imaginação crítica: uma visão e simultaneamente uma revisão. Uma coisa muito diferente de um ensaio de filosofia do mexicano ou da procura do nosso pretenso ser. O mexicano não é uma essência e sim uma história. Nem ontologia nem psicologia. O que me intrigava (e intriga ainda) era menos “o caráter nacional” que aquilo que este caráter esconde: o que está por trás da máscara”. Publicado pela primeira vez em 1950, com a intenção de decifrar os mitos mexicanos, ao livro foi acrescentado, após os violentos acontecimentos de 1968 no México, um pós-escrito. Paz reflete sobre a história do México, a identidade do país e de seu povo, seu universo mental e realidade local, seus mitos, sua lógica: a mexicanidade. Mas não só. Trata-se, talvez, da mais importante tentativa de situar o homem latino-americano no contexto histórico mundial.

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lançamentos

Cinematógrafo – um olhar sobre a história

11 agosto, 2009 | Por admin

Este livro deve sua existência à publicação em 1977 de Cinéma et Histoire, de Marc Ferro. Até então ignorados pelos historiadores, os filmes adquirem então status de fonte e agente da história. Foi assim que pesquisadores brasileiros e franceses puderam voltar sua atenção para o filme como modo de representação dos processos históricos, ou pensa-los como “lugar de memória e de identidade que se cruzam no discurso fílmico.”

Organizado por Jorge Nóvoa (UFBA), Soleni Biscouto Fressato (UFBA) e Kristian Feigelson (Paris III), Cinematógrafo – um olhar sobre a história, publicado pela Editora UNESP, divide-se em três partes: “O laboratório Teórico”, “Laboratório da Re-escrita da História – a segunda guerra e suas representações” e “Laboratórios Cruzados: filmes, memórias e identidades – representações do pós-II Guerra”, e termina com o epílogo “A cegueira branca pode ser a última. Olhares sobre um mundo mais que em crise>”. Um foco teórico pouco conhecido no Brasil.

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Agenda

Escrita e Culturas na Europa Moderna – Roger Chartier

15 junho, 2009 | Por admin

Do boletim eletrônico do IEA – Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo:

No dia 18, o historiador francês Roger Chartier, do Collège de France, faz a conferência Escrita e Culturas na Europa Moderna.A conferência de Chartier (no dia 18 de junho, às 10h, no Auditório Aurora Furtado do Instituto de Psicologia) é uma realização da Cátedra Claude Lévi-Strauss, sediada no IEA e resultante de convênio entre a USP e o Collège de France. O evento terá como moderador João Adolfo Hansen, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP.

Segundo Chartier, atualmente os historiadores sabem que o conhecimento que produzem é apenas uma das modalidades da relação que as sociedades mantêm com o passado: “As obras de ficção, ao menos algumas delas, e a memória, seja coletiva ou individual, também conferem uma presença ao passado, às vezes ou amiúde mais poderosa do que a que estabelecem os livros de história”.

Especialista em história da cultura escrita na Idade Moderna, Chartierr é um dos historiadores mais destacados da atualidade. É titular de escrita e culturas da Europa Moderna do Collège de France, diretor de estudos do Centro de Pesquisas Históricas da Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais (EHESS) e professor visitante da Universidade da Pensilvânia, dos EUA. Foi professor visitante e conferencista em diversas universidades nos EUA, Canadá, Reino Unido, Espanha e Argentina. Alguns dos seus livros publicados no Brasil são “Aventura do Livro — Do Leitor ao Navegador” (1999), “A Ordem dos Livros — Leitores, Autores e Bibliotecas na Europa entre os Séculos XIV e XVIII” (1999), “Cultura Escrita, Literatura e História” (2001), “Os Desafios da Escrita” (2002) e “Inscrever e Apagar — Cultura Escrita e Literatura, Séculos XI a XVIII” (2007).

Outros títulos do autor podem ser encontrados no site da Livraria 30PorCento.

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