Arquivo do autor:Isabela Gaglianone

matraca

Um quadrilátero de 105 metros de comprimento por 68 de largura

20 junho, 2014 | Por Isabela Gaglianone

Gol de Leônidas na Copa de 1938.

Originalmente publicados entre as décadas de 1960 e 1990, os cinco textos que compõem Tempo (e espaço) no futebol homenageiam com verdadeira emoção os grandes nomes da era de ouro do esporte: Decio de Almeida Prado, crítico de teatro e professor de literatura formado na brilhante geração de Antonio Candido e Paulo Emílio Salles Gomes, foi também um grande torcedor e conhecedor de futebol.

No panteão dos seus deuses boleiros, Leônidas da Silva – o genial atacante do São Paulo e artilheiro da Copa de 1938 – possui uma posição especial. Foi o goleador por excelência da geração de jovens torcedores daqueles tempos heroicos do futebol brasileiro, que ainda não havia se firmado entre as maiores potências mundiais do gramado. Depois da tragédia do Maracanazo, em 1950, o autor relembra Didi, Gilmar, Garrincha e Pelé, que vieram para consagrar definitivamente, no imaginário mundial, nosso “futebol de poesia”, conforme célebre definição do cineasta italiano Pier Paolo Pasolini (artigo clássico, publicado no Il Giorno, em janeiro de 1971, pode ser lido no site da editora Boitempo, com tradução de Maurício Santana Dias). Continue lendo

Send to Kindle
Crítica Literária

Salto para o lado do outro

19 junho, 2014 | Por Isabela Gaglianone

Fotografia de Lewis Carrol

Crítica de ouvido foi o último livro escrito pelo poeta, tradutor e ensaísta pernambucano Sebastião Uchoa Leite (1935-2003). É composto por ensaios, que abordam diversos temas que configura seu amplo universo de leitura: poesia, cinema, ensaio e fotografia. O livro possui três partes: o ensaio de abertura, “De poesia e de poetas”, privilegia a poesia moderna brasileira, elaborando questões sobre os trabalhos de Murilo Mendes, Raul Bopp e João Cabral de Melo Neto, ao passo que também trata das relações entre a cidade e poesia moderna, traçando, para tanto, um itinerário que parte de Paris no século XIX, passando por Londres, Nova York e Buenos Aires, até chegar ao Rio de Janeiro e a São Paulo. A segunda parte, “De prosa e de crítica”, funciona como um breve intervalo crítico e reflete sobre o trabalho ensaístico de Alexandre Eulálio. Na última parte, “Imagem e linguagem”, Uchoa desenvolve uma crítica do olhar, repassando um século de diferentes representações imagéticas da personagem Alice, criada por Lewis Carroll em 1863.

Continue lendo

Send to Kindle
Literatura

“É que as piores deformações são as invisíveis”

18 junho, 2014 | Por Isabela Gaglianone

A premiada jornalista Eliane Brum integrará uma das mesas da Flip deste ano, “Poesia e prosa”, em que debaterá com Gregorio Duvivier e Charles Peixoto. Brum é notória por suas reportagens literárias. Lançou neste ano o livro Meus desacontecimentos, autobiografia romanceada, mas seu trabalho mais conhecido é como repórter-cronista, desenvolvido em colunas semanais de veículos jornalísticos – durante 233 segundas-feiras, até ano passado, na revista Época, atualmente, na versão brasileira do El País.

O livro A vida que ninguém vê, lançado em 2006, reúne 21 das crônicas-reportagens publicadas na edição de sábado do jornal Zero Hora – para o qual Brum trabalhou por onze anos. Vencedor do Prêmio Jabuti Prêmio Jabuti 2007 na categoria “melhor livro de reportagem”, o conjunto dos textos é extremamente poético. Concretização da busca jornalística por acontecimentos que não viram notícia e por pessoas que não são celebridades; da busca literária pelo extraordinário contido em cada vida anônima: o resultado é o mergulho no cotidiano que prova que não existem vidas comuns. Continue lendo

Send to Kindle
matraca

Inerente violência

17 junho, 2014 | Por Isabela Gaglianone

A Boitempo acaba de lançar o livro Violência: seis reflexões laterais, do filósofo esloveno Slavoj Žižek. O texto, considerado, metalinguisticamente, explosivo, parte da premissa de que a violência que identificamos imediatamente é produto de uma violência oculta, profundamente arraigada nas bases de nosso sistema político e econômico.

O livro é composto por seis breves e provocativos artigos, nos quais Žižek sugere fundamentos reflexivos para pensar a violência, portanto, como fenômeno moderno. O volume conta com posfácio de Mauro Iasi, analisando a relevância da reflexão proposta por Žižek ao quadro brasileiro, além de um prefácio do esloveno escrito especialmente para a edição brasileira. Continue lendo

Send to Kindle
Literatura

Em verso e prosa

16 junho, 2014 | Por Isabela Gaglianone

O livro Dois sonhos reúne duas ficções de Fiódor Dostoiévski, que se articulam não tanto pelo gênero, mas pela percepção extremamente aguçada que tende a descobrir, por meio da ironia e do confronto entre diferentes pontos de vista, os ângulos mais incomuns da realidade. O volume traz O sonho do titio e Sonhos de Petersburgo em verso e prosa, traduzidos diretamente do russo por Paulo Bezerra, também responsável pelo posfácio e pelas notas.

O sonho do titio foi publicado em 1859, ano em que o escritor retornou a São Petersburgo após um longo período de exílio na Sibéria. A narrativa toma a forma da comédia de costumes e da crônica de província para promover uma crítica generalizada à sociedade russa, sobretudo em relação à sua aristocracia, alheia às importantes transformações históricas em vias de realizar-se na Rússia.

Sonhos de Petersburgo em verso e prosa, folhetim publicado em 1861, apaga deliberadamente as fronteiras entre a prosa e a poesia para construir uma visão a um só tempo crítica, cômica e fantástica da cidade construída por Pedro, o Grande. Dostoiévski utiliza um registro que oscila entre o devaneio, a epifania e a mais lúcida observação.

Continue lendo

Send to Kindle
matraca

Teoria social crítica

13 junho, 2014 | Por Isabela Gaglianone

Luta por reconhecimento – A gramática moral dos conflitos sociais, de Axel Honneth, desenvolve uma teoria social normativa baseada na ideia de que o florescimento humano e a plena realização pessoal dependem da existência de relações éticas bem estabelecidas. Honneth, filósofo e sociólogo alemão, é diretor do célebre Instituto de Pesquisa Social de Frankfurt e, herdeiro da Teoria Crítica fundada por Horkheimer e Adorno, seguiu a proposta de Habermas ao sugerir uma teoria como solução aos impasses de seus antecessores; é considerado, atualmente, o representante da terceira geração da “Escola de Frankfurt”.

Continue lendo

Send to Kindle
Literatura

Fragmentos de memórias

11 junho, 2014 | Por Isabela Gaglianone

Outro autor presente na lista da promoção da Companhia das Letras é W. G. Sebald.

Um dos títulos do autor alemão com desconto é Os emigrantes – Quatro narrativas longas, livro que lhe rendeu renome internacional.

As quatro narrativas longas que compõem a obra, são centradas, cada uma, num personagem que em algum momento cruzou a vida do narrador. Todas as trajetórias reconstituídas foram em alguma medida transtornadas pela história contemporânea da Europa, em especial pela Segunda Guerra e pelo Holocausto. Simulando um trabalho de investigação biográfica de seus personagens, o narrador revela a contrapelo suas próprias andanças e desajuste com o mundo contemporâneo. Reforçam a sensação de estranheza e melancolia as imagens que, num procedimento característico, o autor espalha ao longo do texto. Uma obra de fôlego e originalidade exemplares, que relativiza e amalgama ficção, retalhos históricos, memórias, lembranças e documentos.

Continue lendo

Send to Kindle
Literatura

Há uma pessoa que faz uma coleção de areia

10 junho, 2014 | Por Isabela Gaglianone

A Companhia das Letras está fazendo uma baita promoção, somente até dia 15 de junho: são 300 títulos com 50% de desconto. A lista completa dos livros pode ser conferida no site da editora.

Italo Calvino

Entre eles, Coleção de areia, de Italo Calvino. Trata-se de uma coletânea de textos esparsos, sobre os mais variados assuntos. Aqui, o escritor desiste deliberadamente de buscar uma síntese qualquer ou traçar um esboço de trajetória. Lançado originalmente em 1984, é considerado uma deriva contínua por temas e formas que sempre obcecaram o autor. Em textos breves, o livro apreende a periferia do olhar: a exposição aparentemente anódina, o fato bizarro, a galeria de monstruosidades, o efêmero. Segundo o autor, o livro é um inventário de “coisas vistas”, sobre o visível, sobre o próprio ato de ver e sobre “o ver da imaginação”. Os textos se acumulam segundo o puro arbítrio, como diário em público e autobiografia tímida, sendo a expressão mais acabada da amplitude de perspectivas, da discrição e da curiosidade onívora do escritor.

“… coleção de areia era a menos chamativa mas também a mais misteriosa, a que parecia ter mais coisas a dizer, mesmo através do vidro opaco das ampolas”.     

Continue lendo

Send to Kindle
matraca

Mobilidade social

9 junho, 2014 | Por Isabela Gaglianone

Fotografia de Martin Parr, da série “Common sense”

Lançamento, o livro O mito da grande classe média: capitalismo e estrutura social, de Marcio Pochmann, procura analisar a emergência de novos setores sociais no país, acompanhada por uma nova agenda de demandas e lutas. Emergência que seria resultado, em grande parte, do sucesso das políticas econômicas e sociais adotadas na última década. Esses setores sociais podem desempenhar um papel essencial no processo eleitoral deste ano, oferecendo-se como fatia a ser disputada.

A interessante análise vem publicada pela Boitempo editorial e tem, como prefácio, texto de Marilena Chauí.

Continue lendo

Send to Kindle
matraca

Da sobrevivência dos deuses

6 junho, 2014 | Por Isabela Gaglianone

deuses copy

Nos anos em que viveu em Paris, Heinrich Heine escreveu uma série de trabalhos sobre a mitologia pagã, através dos quais rastreou os vestígios da sobrevivência dos deuses antigos na história do ocidente. Um desses trabalhos é a sequência de narrativas Os Deuses no Exílio, que elucubra sobre o destino das divindades antigas depois do surgimento do cristianismo.

Heine apropriou-se de diversos materiais históricos, narrativas e mitos, lendas recolhidas pelos irmãos Grimm ou sagas populares suecas – destas, três encontram-se traduzidas neste volume e uma dão ideia do modo como a mitografia heiniana reelabora as fábulas antigas: utiliza criativamente suas fontes, reinventando-as.

Continue lendo

Send to Kindle
matraca

Onomatotêmico

5 junho, 2014 | Por Isabela Gaglianone

O poema Totem, de André Vallias, é considerado por muitos o “(contra-)hino” de nossos tempos: foi escrito a partir de 222 nomes de povos indígenas. Compostas numa tipologia criada pelo autor, as 26 estrofes do poema tem como imagem de fundo o Mapa Etno-Histórico de Curt Nimuendajú.

O poema foi concebido por André Vallias para ser reproduzido em 13 metros de comprimento, no chão do centro cultural Oi Futuro Ipanema, no Rio de Janeiro. O poeta criou uma tipologia especial para apresentá-lo, além de um totem multimídia e uma vitrine com informações sobre todas as etnias citadas.

Agora, acaba de ser publicado em forma de livro-álbum, com as folhas soltas, pela editora Cultura e Barbárie. O álbum contém o poema em 40 impressões coloridas (cera térmica), com caixa feita em serigrafia. Contém ainda uma interessante introdução trilíngue (português, inglês e guarani-kaiowá) de Eduardo Viveiros de Castro, além de mapa e gráficos com dados dos povos indígenas no Brasil. O conjunto é um grito de guerra.

Outro trabalho de Vallias na mesma direção temática, o poema “Mas que país obtuso”

Continue lendo

Send to Kindle
matraca

Do complexo fenômeno trágico na modernidade

4 junho, 2014 | Por Isabela Gaglianone

Cena da peça “La beauté del diable” com o ator Koffi Kôkô, apresentada no Brasil em 2012.

O livro Tragédia moderna, do crítico Raymond Williams, pensa a permanência do trágico após o fim da tragédia clássica. Williams, que foi um dos mais influentes pensadores e críticos da “Nova Esquerda” inglesa, pontua com os universos romanescos de Tolstói e D. H. Lawrence sua análise das obras de alguns dos grandes dramaturgos modernos e contemporâneos: Tchekhov, Pirandello, Ionesco, O’Neill, Beckett, Camus, Sartre e Brecht.

O autor amplia o conceito de tragédia, que, segundo diz, “chega a nós a partir da longa tradição da civilização européia”. Ele analisa: “Tendo separado sistemas trágicos anteriores das suas sociedades reais, levamos a cabo uma similar separação na nossa própria época, tomando como lógico que a tragédia moderna possa ser discutida sem referência à profunda crise social de guerra e revolução, no meio da qual todos nós temos vivido. Continue lendo

Send to Kindle
Literatura

Um olhar agudo

3 junho, 2014 | Por Isabela Gaglianone

A anglo-indiana Jhumpa Lahiri foi o grande nome anunciado como participante da Flip deste ano, que acontecerá entre os dias 30 de julho e 3 de agosto. A escritora foi a ganhadora do Prêmio Pulitzer de 2000 com seu livro de estreia, a coletânea de contos Intérprete de males – publicado pela Companhia das Letras e traduzido por Paulo Henriques Britto, o livro infelizmente está esgotado, disponível apenas em sebos. Seu mais recente livro, Aguapés, será lançado em pela Festa Literária, pela editora Globo.

Intérprete de Males é composto por nove contos, nos quais Lahiri fascina pela capacidade de observação que imprime sobre a realidade de suas personagens. A autora, através de uma prosa fluída, lida com a curiosidade e a observação do outro nos seus estados mais puros. Quase todas as personagens são indianos radicados nos EUA, à procura de pequenas sensações que remetam-lhes à sua cultura natal e a suas raízes históricas, quer comidas que os façam lembrar das situações domésticas e da família, quer a procura de notícias sobre seu país, na iminência de outras guerras pela tensão nuclear entre a Índia e o Paquistão.  Continue lendo

Send to Kindle
Artes Plásticas

“o trabalho vem do trabalho”

2 junho, 2014 | Por Isabela Gaglianone

Desenho de Richard Serra.

A exposição Richard Serra: desenhos na casa da Gávea, composta por 96 obras selecionadas pelo próprio artista, foi inaugurada na sexta-feira, dia 30 de maio, e permanecerá aberta ao público até dia 28 de setembro, no centro cultural do Instituto Moreira Salles no Rio de Janeiro. A mostra foi especialmente concebida para o local, a antiga residência do embaixador Walther Moreira Salles (1912-2001), patrono e criador da instituição. Richard Serra, considerado por alguns críticos como um dos mais importantes artistas contemporâneos, para instalar seus desenhos no local solicitou a remoção de algumas paredes falsas, construídas sobre as paredes de vidro do projeto original para que o espaço abrigasse exposições. Os desenhos foram escolhidos a partir da escala da casa, “um espaço doméstico”, segundo Serra, para que entrassem em diálogo direto com o projeto modernista criado pelo arquiteto Olavo Redig Campos, em 1948, caracterizado pela transparência, que permite a interação dos interiores com os jardins planejados por Burle Marx.

Concomitante à abertura da exposição, na semana passado o IMS lançou o livro Escritos e entrevistas, 1967-2013, de Richard Serra. O conjunto de textos, em sua maioria inéditos em português, apresenta um panorama das preocupações do artista e do desenvolvimento do seu trabalho ao longo dos últimos quarenta anos.  Continue lendo

Send to Kindle
matraca

Consciência da terra e do oceano, tal é a ilha deserta

30 maio, 2014 | Por Isabela Gaglianone

O livro A ilha deserta é composto por uma sequência heterogênea de textos de Gilles Deleuze. São vários textos esparsos, publicados entre 1953 e 1974; pequenas pérolas, entre resenhas, entrevistas, textos circunstanciais, depoimentos e conferências, há artigos luminosos sobre Bergson, Kant, Nietzsche, Hume, uma comovente homenagem a Sartre – “Ele foi meu mestre” –, uma conversa ensandecida sobre pintura –“Faces e Superfícies” – e o enigmático texto que dá título ao volume, que foi inusitadamente preparado para uma revista de turismo – único texto realmente inédito desta coletânea.

Continue lendo

Send to Kindle