Arquivos da categoria: Literatura

Literatura

A erudição da experiência literária

2 janeiro, 2014 | Por Isabela Gaglianone

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A erudição de Erich Auerbach traduz-se na abrangência e clareza quase artística de suas análises críticas literárias, cuja contribuição passa pela sociologia da literatura, pela escrita da história e principalmente pelos estudos filológicos, amparados, esses, pela filosofia e pela história das ideias. Auerbach é uma das mais significativas referências nos estudos de caráter hermenêutico e de exegese literária do Ocidente e indagam o âmago da experiência humana histórica. Seu legado intelectual perpetua-se intensamente presente com o passar das gerações acadêmicas.

Em Ensaios de literatura ocidental, publicado pela editora 34, com organização de Davi Arrigucci Jr. e Samuel Titan Jr. e traduzido por Samuel Titan Jr. e José Marcos Mariani de Macedo, são reunidos quinze estudos publicados entre 1927 e 1954, quase todos inéditos em português. São ensaios dedicados às perspectivas dos estudos literários e do humanismo no contexto da cultura globalizada, à ideia cristã de “estilo humilde”, às obras de Dante e Vico, à literatura francesa de Montaigne a Proust, passando por Pascal, Rousseau, Racine e Baudelaire. Continue lendo

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Literatura

Buzina modernista

17 dezembro, 2013 | Por Isabela Gaglianone

A revista modernista Klaxon acaba de ganhar uma edição comemorativa pela Cosacnaify, em homenagem aos noventa anos de sua última publicação. A revista foi publicada entre 1922 e 1923, em sequência à Semana de Arte Moderna. A edição comemorativa apresenta uma versão fac-símile das edições originais e uma a mais, cujo projeto especial foi elaborado pelos artistas plásticos Marilá Dardot e Fabio Morais. Completa a reedição um livreto com textos dos organizadores e do jornalista Marcos Augusto Gonçalves, autor do livro 1922 – A semana que não terminou, sobre o legado da Semana de Arte Moderna.

O nome Klaxon veio de uma então famosa marca norte-americana de buzinas em forma de corneta para automóveis e outros veículos. Na capa aparecia o subtítulo: Mensário de Arte Moderna. O propósito principal da revista foi servir como divulgação das ideias que permeavam o movimento modernista de maneira geral, uma concepção de que a arte não deve ser uma cópia da realidade, uma ânsia pela atualidade, por abolir o passado para viver o presente, ideias, num tom futurista, que giravam em torno de um culto ao progresso.  Continue lendo

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Literatura

Nas beiradas da existência

16 dezembro, 2013 | Por Isabela Gaglianone

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Vencedora do Prêmio Nobel de literatura neste ano, a canadense Alice Munro é considerada “mestra do conto contemporâneo”. Segundo a Academia Sueca, as histórias de Alice “se desenvolvem geralmente em cidades pequenas, onde a luta por uma existência decente gera muitas vezes relações tensas e conflitos morais, ancorados nas diferenças geracionais ou de projetos de vida contraditórios”.

É interessante a premiação ter sido concedida a uma autora dedicada aos contos, que, comumente, são considerados mera etapa literária na carreira de um escritor, a ser superada na posterior escrita de um romance, um reles estágio experimental. A própria escritora, em entrevista à revista New Yorker, afirmou: “Por anos e anos imaginei que contos eram apenas um treino até eu ter tempo de escrever um romance”.  Continue lendo

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O fato linguístico, nu

13 dezembro, 2013 | Por Isabela Gaglianone

“Naquela quinta-feira de começante abril, meu sapiente amigo, mestre Martial Canterel, covidara-me, com alguns outros de seus íntimos, a visitar o imenso parque que rodeia sua bela vila de Montmorecy.

Locus Solus – a propriedade se chama assim – é um calmo refúgio onde Canterel gosta de levar adiante, com toda tranquilidade de espírito, seus múltiplos e fecundos trabalhos. Nesse lugar solitário, ele está protegido das agitações de Paris […]”.

Duchamp, frame de “Anemic cinema”

Acaba de ser lançado o livro Locus Solus, de Raymond Roussel, pela Cultura e Barbárie Editora. Pouco divulgada no Brasil, a obra do francês foi, entretanto, ponto de convergência de filósofos e críticos do século xx como suporte e inspiração para o desenvolvimento de questões ontológicas, epistemológicas e estéticas. Na literatura, a influência de Roussel estende-se do surrealismo ao “nouveau roman“. Conhecido por transformar as palavras em imagem, através de seus textos a linguagem separa-se de sua significação comum e atinge outros sentidos. Michel Foucault, no livro consagrado a Roussel – Raymond Roussel (a tradução em português, publicada em 1999 pela Forense Universitária, está indisponível) –, define que há uma linguagem circular nos textos rousselianos, nos quais ele exibe imagens e, em seguida, revela com precisão a história de cada uma delas, bem como seu funcionamento. De modo que há um ciclo, no qual a narrativa recupera a imagem inicial, que fora construída pela linguagem, e a explica. Para Foucault, a explicação repete o processo realizado pelas máquinas e o torna mais palpável e, os textos de Roussel, assim, podem ser considerados uma espécie de demonstração do poder da linguagem, através do qual máquinas e experimentos – existentes apenas através de palavras – tornam-se possíveis.

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Exploração literária filosófica

12 dezembro, 2013 | Por Isabela Gaglianone

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Benedito Nunes, filósofo e crítico literário, dedicou ensaios escritos ao longo de cinquenta anos à obra de Guimarães Rosa. O livro A Rosa o que é de Rosa, organizado por Victor Sales Pinheiro e publicado pela editora Difel, do grupo editorial Record, reúne quinze textos que cobrem quase toda a produção do escritor mineiro vistas sob a sempre enriquecedora análise de Benedito.

O Instituto Moreira Salles, na edição dos “Cadernos de Literatura Brasileira” dedicado a Guimarães Rosa, publicou o ensaio “Guimarães Rosa quase de cor: rememorações filosóficas e literárias”, disponível para visualização. Neste ensaio, Benedito logo avisa a seu leitor dar prosseguimento a uma conversa travada com Guimarães em fevereiro de 1967 num gabinete do antigo Itamaraty, no Rio de Janeiro, ocasião em que ele lhe entregara o volume datilografado de Tutaméia e pedira-lhe opinião sobre um dos prefácios, escrito à guisa de uma exploração filosófica, intitulado “Aletria e hermenêutica”. Benedito teria respondido-lhe que este título “defendia original convergência entre o imaginário e o reflexivo, o teórico e o poético” e que seria um “empreendimento tanto literário quanto filosófico”. No ensaio, ele aprofunda sua análise: “A primeira questão com a qual nos deparamos é a legitimidade, Continue lendo

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Mecanismo de sonhos

11 dezembro, 2013 | Por Isabela Gaglianone

O livro As Miniaturas, de Andréa del Fuego, é uma mistura de devaneio e sonho ao rigor das estruturas sóbrias e funcionais dos sistemas burocráticos, bem como às fendas interrogativas que podem ser geradas por equívocos nestes sistemas. Ironia lúdica, ou labirinto em que retumba a própria dimensão do onírico: a estrutura burocrática funcional do livro gira em torno de uma máquina de sonhos. A literatura fantástica de Andréa del Fuego joga com ecos da burocracia kafkaniana numa tonalidade lírica; devolve constantemente a dúvida sobre os limites da realidade.

Andréa venceu o prêmio José Saramago em 2011 com seu livro de estreia, Os Malaquias, sobre o qual ela disponibiliza alguns detalhes de seus “bastidores” em seu blog – um texto sincero, pessoal e comovente que Andréa escreveu a pedido do “ótimo” (sua definição) suplemento cultural “Pernambuco”, do Diário Oficial do Estado.

Antes de premiada, Andréa publicou o irreverente conto Como ganhar um Jabuti e então, nem sonhava ganhar prêmios literários Continue lendo

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O testemunho de Czesław Miłosz

10 dezembro, 2013 | Por Isabela Gaglianone

Czesław Miłosz nasceu na Lituânia, em 1911, época em que o país pertencia ao Império Russo. Mudou-se de sua cidade de origem para completar seus estudos na cidade de Wilno, atual Vilnius, na Lituânia, que, então, era território polonês. Aos vinte e um anos, publicou seu primeiro livro de poemas, Poema sobre o tempo congelado (Poemat o czasie zastygłym). Não demorou a integrar o grupo de poetas conhecidos como “catastrofistas“, designação devida a previsões que as poesias faziam de iminentes desastres mundiais. Escrever, para Czesław Miłosz , deveria ser um ato político.

Durante a ocupação nazista na Polônia, ele participou ativamente do movimento de Resistência e, nesta época, editou, escreveu e traduziu textos clandestinos, dentre os quais permanece mais famoso seu poema Canção Invencível, publicado em 1942. Ao final da Segunda Guerra Mundial, uma coletânea de suas poesias intitulada Resgate, foi um dos primeiros livros publicados na Polônia comunista, em 1945. Pelos serviços prestados durante a Resistência, Czesław Miłosz  foi recompensado pelo novo governo comunista com cargos políticos, primeiro como adido cultural, em Washington e, em seguida, como primeiro-secretário para assuntos culturais, em Paris.

Desiludido com os rumos da política em seu país e com o regime comunista, em 1951 solicitou asilo na França e, nove anos mais tarde, emigrou para os Estados Unidos, tornou-se professor de literaturas eslavas na Universidade de Berkeley e continuou a escrever sobre a fragilidade, crueldade e a corruptibilidade humana. Em 1970, naturalizou-se norte-americano. Ainda vivendo na França, em 1953, publicara A mente cativa, uma coletânea de ensaios sobre a submissão dos intelectuais poloneses ao comunismo. Ao longo dos anos de exílio norte-americano, os textos de Czesław Miłosz foram traduzidos e seus poemas e ensaios atingiram sólido reconhecimento internacional. Em 1980, ganhou o prêmio Nobel de Literatura.

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Literatura

Uma barulhenta obra-prima

9 dezembro, 2013 | Por Isabela Gaglianone

A Companhia das Letras acaba de lançar, pelo selo que mantém em conjunto com a editora inglesa Penguin, os Contos da Cantuária, escritos por Geoffrey Chaucer, com tradução e notas de José Francisco Botelho, a partir da tradução, do inglês médio para o inglês moderno, feita por Nevill Coghill, também responsável pela introdução e por notas. A edição conta ainda com ensaio escrito pelo crítico Harold Bloom.

Contos da Cantuária é uma obra considerada das principais para a consolidação da língua inglesa como língua literária – em substituição ao francês e ao latim, à época ainda utilizados preferencialmente – e para a formação da literatura do Ocidente de maneira geral. Senão a principal. Ezra Pound, por exemplo, em seu livro O ABC da literatura, afirma: “Chaucer escreveu quando a Inglaterra fazia ainda parte da Europa. Havia uma só cultura de Ferrara a Paris, e ela se prolongava até a Inglaterra. Chaucer foi o maior poeta de seu tempo. Era mais conciso que Dante. […] A cultura de Chaucer era mais vasta que a de Dante; Petrarca é imensamente inferior a ambos. Não seria despropositado considerar Chaucer o pai das “litterae huamaniores” na Europa” (“apudVallias).

A obra de Chaucer consiste numa coleção de histórias de cavalaria, farsas e alegorias morais. Os contos expõem, com riqueza – através da crueza satírica do lirismo aliado ao deboche –, o universo social e cultural da Inglaterra na Idade Média. As narrativas têm como mote uma disputa entre peregrinos, para saber quem contaria as melhores histórias de cavalaria e romances, enquanto rumam em direção à Cantuária, onde pretendem visitar o túmulo de São Thomas Becket. Cada conto é narrado por um dos peregrinos do grupo. Eles abordam temas e personagens variados, representantes de todas as classes sociais, misturando, assim, entre as narrativas, anedotas, escatologias, citações clássicas, ensinamentos morais e caricaturas. Continue lendo

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Narrativa delirante

6 dezembro, 2013 | Por Isabela Gaglianone

O escritor argentino César Aira foi uma das grandes atrações literárias internacionais da Bienal do livro do Rio de Janeiro, neste ano. A editora Rocco, na nova coleção de obras latino-americanas, reuniu em um volume duas de suas novelas, Como me tornei uma freira e A costureira e o vento, traduzidas pela poeta Angélica Freitas. Escritor profícuo, Aira tem mais de setenta livros publicados, desde seus trinta anos de idade publica em média dois romances curtos todos os anos. É um escritor muito popular na Argentina, conhecido por enredos surpreendentes – ainda que inicie muitos de seus romances de uma maneira convencional, eles logo seguem um desvio impressionante; não há uma fórmula literária em seus livros, César Aira é conhecido por ter uma imaginação totalmente livre e, seus romances, por inverterem e subverterem quaisquer expectativas.

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Humor negro intelectual

2 dezembro, 2013 | Por Isabela Gaglianone

Numa das paredes exteriores do auditório a frase grafitada:

“O doutor Rojas (cuja história da literatura argentina é mais extensa do que a literatura argentina).”

Todos olharam para o senhor Borges, o grafitador do bairro. O senhor Borges sorriu. Abanou a cabeça e murmurou um pouco convincente: não fui eu.

 

 

Num jogo ambíguo com a comum idolatria aos escritores que a história da literatura já fez consagrar, o escritor Gonçalo M. Tavares, uma das figuras centrais da literatura portuguesa atual, criou um fantástico “Bairro”, cujos moradores são “o senhor Valéry”, “o senhor Brecht”, “o senhor Walser”, “o senhor Calvino”, “o senhor Swedenborg”, entre outros escritores ilustres. Um bairro que os avizinha, ao mesmo tempo os isola e humaniza. A ambiguidade desdobra-se em cada livro, de acordo com o protagonista escritor.

Em O senhor Eliot e as conferências, cada capítulo é uma conferência proferida pelo senhor Eliot , a convite do senhor Manganelli, a um público diminuto, porém intelectualmente requintado, como Borges, Breton e Swedenborg. As conferências são sobre poesia, ou mais especificamente, sobre um verso de algum poema de poetas sem relação aparente entre si: Cecília Meireles, René Char, Sylvia Plath, Marin Sorescu, W.H. Auden, Joseph Brodsky e Paul Celan. As conferências prometem explicar os versos, porém os desmontam grosseiramente até que deixem de fazer sentido e, então, propõem-lhes correções absurdas, usando de um racionalismo e de um materialismo que soariam sádicos a qualquer amante dos poetas analisados. Um humor negro intelectual, muito engenhoso. Engraçado e curioso fato: no livro O senhor Swedenborg e as investigações geométricas, o senhor Swedenborg assiste a uma conferência do senhor Eliot, exatamente sobre um verso de Sylvia Plath (verso efetivamente analisado em O senhor Eliot e as conferências) que diz: “Não sou ninguém; não tenho nada a ver com explosões”. O senhor Swedenborg se distrai logo no início da fala de Eliot e mergulha em sua obsessão sobre a geometria como um problema para a escrita e para o escritor; somente em meio aos aplausos pelo término da conferência, volta a prestar atenção.

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Literatura

Viajar e escrever, viajar para escrever

29 novembro, 2013 | Por Isabela Gaglianone

Um bom par de sapatos e um caderno de anotações é uma seleção de textos e breves considerações de Tchekhov, organizada por Piero Brunello – professor de história social na Università Ca´Foscari, Veneza, também responsável pelos textos de prefácio e apêndice. A tradução foi feita por Homero de Andrade para a editora Martins Fontes. O livro foi publicado originalmente em 1895, resultado de notas realizadas em uma viagem do escritor, entre os meses de abril e outubro de 1890, à ilha-prisão de Sakalina, situada entre o mar de Okhotsk e o mar do Japão. Apesar da organização dos textos sugerir a formação de um “guia teórico-prático de reportagem”, para viajantes, jornalistas ou, simplesmente, leitores, o livro ultrapassa esta modesta pretensão, concentrando textos interessantes sobre assuntos variados: o castigo comum das fustigações – censurado até pouco tempo mesmo em traduções estrangeiras – ou questões teóricas e práticas da narrativa, observações que acabam por esboçar os traços de sua poética.

Durante a viagem, Tchekhov percorreu em condições precárias a região siberiana – a pé, a cavalo, sobre carroças, navegando em balsas e barcos a vapor –, demorou dois meses e meio para chegar à ilha, que “pareceu-lhe um inferno”; percorreu mais de doze mil quilômetros. Ao chegar, “pôde encontrar as pessoas, ver como viviam e escutar suas histórias”.

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Entre a crítica e a prosa

27 novembro, 2013 | Por Isabela Gaglianone

A escritora e jornalista franco-mexicana Elena Poniatowska foi anunciada neste mês como a vencedora do Prêmio Cervantes, o mais importante das línguas hispânicas. O júri afirmou que o prêmio foi conferido a ela para recompensar “uma trajetória literária em diversos gêneros, de maneira particular na narrativa e por sua dedicação exemplar ao jornalismo, da crônica ao ensaio“. Elena nasceu na França, em Paris, filha de mãe mexicana e pai descendente da família real polonesa; aos dez anos, mudou-se com os pais para o México e naturalizou-se mexicana. Como jornalista no México, deixou testemunhos escritos de momentos chave da história política do país. É autora, por exemplo, de La noche de Tlatelolco, sobre a morte de estudantes manifestantes numa praça em 1968, e de Hasta no verte Jesús mío, história Jesusa Palancares, uma mulher que combateu na Revolução Mexicana, na década de 1910, texto baseado nas longas conversas com Josefina Borgues – nome real de Jesusa – em que contou à escritora o que vivenciou.

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A materialidade as palavras

26 novembro, 2013 | Por Isabela Gaglianone

Nuno Ramos não é um escritor simples. Como artista plástico, é conhecido por instalações grandiosas, que beiram o constrangimento do senso comum,  por um lado, e, por outro, atingem o extremo sensorialismo, cujo alcance é plástico e linguístico, multiplamente metafórico e simbólico.

Publicado em 2011, O pão do corvo é controverso quanto a sua classificação: majoritariamente considerado um livro de contos, houve quem o classificasse um livro de poesia em prosa ou mesmo uma obra filosófica. O artista, porém, ao escrever estas dezessete narrativas curtas, utiliza a prosa e a poesia aliadas a um terceiro meio: a plasticidade posta por escrito, num ambivalente tom fantástico nada imune à gravidade e densidade da matéria.

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Pessimismo satírico

19 novembro, 2013 | Por Isabela Gaglianone

Luigi Bartolini

O diabo mesquinho [Мелький Бес], publicação cuidadosa da editora Kalinka, trouxe pela primeira vez ao conhecimento do público brasileiro a escrita pessimista de Fiódor Sologub (1863-1927), um dos expoentes do simbolismo russo. O texto integral (originalmente, fora publicado em capítulos em uma revista russa, que suprimiu as partes finais da narrativa) foi traduzido por Moissei Mountian, com colaboração de Daniela Mountian e revisão de estilo feita por Aurora Fornoni Bernardini. O livro conta também com desenhos de Fabio Flaks.

O texto é psicologicamente rico, trata do progressivo enlouquecimento do protagonista Peredónov, um professor de ginásio maldoso e mesquinho, que pouco a pouco desenvolve uma paranoia. Assaltado por estranhas alucinações, desconfiado de tudo e de todos, começa a praticar atos de insanidade. A mente confusa e inquietante do anti-herói é desvelada por meio de uma narrativa satírica, que cria um mundo carnavalesco, de um pessimismo delirante. O paulatino processo de loucura retumba, no simbolismo de Fiódor Sologub, o mundo dos sonhos de Freud.  Continue lendo

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Aos navegantes

18 novembro, 2013 | Por Isabela Gaglianone

Com apenas dezessete anos, em meio a uma de suas características bebedeiras, o jovem Jack London caiu na água e por pouco não morreu, salvo graças ao feliz acaso de ter sido rapidamente visto e resgatado por um pescador. Pouco tempo depois, embarcou no Sophia Sutherland, barco destinado à caça de focas no Pacífico. Juntas, ambas as experiências tornaram-se o mote criativo para o desenvolvimento do romance O lobo do mar. No romance, o protagonista Humphrey van Weyden é um náufrago, resgatado pela escuna Ghost. Seu resgate, porém, não é feliz como o de London: o capitão que o salva, Wolf Larsen, em vez de deixá-lo no porto mais próximo, obriga-o, com brutalidade, a integrar a tripulação de seu navio.  Continue lendo

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