Arquivo do autor:Isabela Gaglianone

Literatura

Verbetes imagináveis

8 maio, 2014 | Por Isabela Gaglianone

A história deste livro fabuloso já é por si fantástica: uma noite três amigos conversavam sobre ficções fantásticas e decidiram criar uma antologia com seus autores preferidos. Os amigos, nada menos que os escritores Jorge Luis Borges, Adolfo Bioy Casares e Silvina Ocampo, três anos depois, em 1940, lançaram a Antologia da literatura fantástica, cuja edição definitiva foi consolidada 25 anos depois e obteve enorme sucesso. Foram reunidas 75 histórias, entre contos, fragmentos de romance e peças de teatro.

No prólogo, Bioy Casares diz que as ficções fantásticas, “antigas como o medo”, são “anteriores às letras. As assombrações povoam todas as literaturas”.

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Homem usando borboletas

7 maio, 2014 | Por Isabela Gaglianone

O poeta

Vão dizer que não existo propriamente dito.
Que sou um ente de sílabas.
Vão dizer que eu tenho vocação pra ninguém.
Meu pai costumava me alertar:
Quem acha bonito e pode passar a vida a ouvir o som
das palavras
Ou é ninguém ou zoró.
Eu teria treze anos.
De tarde fui olhar a Cordilheira dos Andes que
se perdia nos longes da Bolívia
E veio uma iluminura em mim.
Foi a primeira iluminura.
Daí botei meu primeiro verso:
Aquele morro bem que entorta a bunda da paisagem.
Mostrei a obra pra minha mãe.
A mãe falou:
Agora você vai ter que assumir as suas
irresponsabilidades.
Eu assumi: entrei no mundo das imagens.

 

Manoel de Barros é o poeta que conferiu à poesia a delicada possibilidade de ser entendida como “a mais verdadeira maneira séria de não dizer nada”. Entre versos simples e carregados de sentido, é notável seu lírico talento para imagens, acompanhado por uma concretude quase surreal, como se pode perceber em trabalhos como Gramática Expositiva do Chão (1966). Continue lendo

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Poder e saber

6 maio, 2014 | Por Isabela Gaglianone

Aulas sobre a vontade de saber traz a transcrição do primeiro curso ministrado por Michel Foucault no Collège de France. Antecipa temas que foram posteriormente desenvolvidos em Vigiar e Punir e no primeiro volume da História da sexualidade, sobretudo. Sua publicação visa evidenciar uma profunda unidade em sua obra, um projeto que vai de Vigiar e punir (1975) e seu desenvolvimento dos temas do poder e da norma, a O uso dos prazeres e O cuidado de si (1984), voltados para a ética da subjetividade.

Foucault, destrinchando as estruturas do poder, pensa a relação entre a verdade e o poder, estabelecendo uma tese de mútua implicação entre o saber e o poder, articulada na produção do sujeito.

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ilha mínima do eu

5 maio, 2014 | Por Isabela Gaglianone

Desenho de Odilon Redon

Monodrama é considerado o livro mais político, ao passo que também o mais irreverente e emocionado, de Carlito Azevedo, um dos principais poetas brasileiros da atualidade.

O livro é composto por poemas extensos, nos quais, dentre uma multiplicidade de personagens, surge com predominância a figura do imigrante, do clandestino, do outro a quem o mundo hostil fecha as portas. Há um profundo desencanto político nos poemas iniciais, que ramifica-se no solo autobiográfico da série “H.”, texto que elabora liricamente a experiência da doença e morte da mãe, com toda a ironia e a emoção de quem se depara com um “Pálido céu abissal”.

Eduardo Sterzi, que considera o livro uma “das obras literárias especialmente relevantes dos últimos anos”, analisa Continue lendo

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Literatura

Irlanda, Ilha dos Santos e Sábios

2 maio, 2014 | Por Isabela Gaglianone

De Santos e Sábios é uma reunião de textos estéticos e políticos do escritor James Joyce, organizada por Sérgio Medeiros e Dirce Waltrick do Amarante.

Segundo Medeiros, o livro busca revelar o “Joyce ‘ilícito’ do pós-modernismo” e compreender o “grande barulho estético, e político”, produzido por Ulysses e Finnegans Wake.

Para esta edição, quatro tradutores debruçaram-se sobre o livro The Critical Writings (1959), editado por Ellsworth Mason e Richard Ellman, e ainda utilizaram, como referência e apoio, o livro Occasional, Critical and Political Writing, buscando assim discutir as relações entre os ensaios de Joyce e sua obra ficcional.

Cada um dos tradutores escreveu uma pequena introdução crítica aos textos, que Joyce escreveu entre 1896 – quando tinha nada mais que 14 anos – e 1937. Os textos são dispostos no volume em ordem cronológica, o que permite o acompanhamento da evolução da prosa e do pensamento de Joyce.

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Poeta polifônico

30 abril, 2014 | Por Isabela Gaglianone

Por que a poesia tem que se confinar

às paredes de dentro da vulva do poema?

por que proibir à poesia

estourar os limites do grelo

da greta

da gruta

e se espraiar além da grade

do sol nascido quadrado?

[…]

[trecho de “Exterior”]

 

A antologia Poesia total reúne pela primeira vez a obra poética completa de Waly Salomão, desde Me segura qu’eu vou dar um troço, passando por Gigolô de bibelôs, Algaravias, LábiaTarifa de embarque, até a publicação póstuma Pescados vivos. O volume traz ainda uma seção de canções inéditas em livro, além de apêndice com alguns dos mais relevantes textos críticos sobre sua obra, escritos por Antonio Cícero, Francisco Alvim e Davi Arrigucci Jr, entre outros.

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“Teu nome é para nós, Manuel, bandeira” *

29 abril, 2014 | Por Isabela Gaglianone

No dia 19 de abril lembrou-se os 128 anos do nascimento de Manuel Bandeira. O belo artigo de Elvia Bezerra, “Manuel Bandeira: a vida inteira”, publicado no blog do Instituto Moreira Salles, começa com uma citação do poema de Drummond, que parece, como diz Bezerra, estar “desafiando o silêncio da morte”:

Oi, poeta!

Do lado de lá, na moita, hein? fazendo seus novent’anos…

E se rindo, eu aposto, dessa bobagem de contar tempo,

de colar números na veste inconsútil do tempo, o inumerável,

o vazio-repleto, o infinito onde seres e coisas

nascem, renascem, embaralham-se, trocam-se,

com intervalos de sono maior, a que, sem precisão científica, chamamos de

[ morte.

[…]

Hoje me sobe o desejo

de saber o que fazes, como,

onde:

em que verbo te exprimes, se há verbo?

em que forma de poesia, se há poesia,

versejas?

em que amor te agasalhas, se há amor?

em que deus te instalas, se há deus?

 

No penúltimo dia de abril, esta Matraca, para fazer coro à homenagem ao poeta, lembra a publicação em livro, não de suas poesias, mas da correspondência trocada entre ele e Mário de Andrade: Continue lendo

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Literatura

De delgadas raízes

28 abril, 2014 | Por Isabela Gaglianone

“Era preciso fechar a janela: a chuva estava batendo no peitoril e espirrando no soalho e nas poltronas. Com um som fresco, escorregadio, enormes espectros de prata corriam pelo jardim, através da folhagem, pela areia alaranjada. A calha tremia e engasgava. Você estava tocando Bach. A tampa laqueada do piano erguida, debaixo dela uma lira, e os martelinhos batiam nas cordas. A toalha de brocado, amassada em dobras ásperas, tinha escorregado um pouco da cauda, derrubando uma partitura aberta no chão. De quando em quando, em meio ao frenesi da fuga, seu anel batia na tecla enquanto, incessante, magnífica, a chuva de junho atacava as vidraças.  E você, sem parar de tocar, a cabeça ligeiramente inclinada, exclamava, no ritmo da música: ‘A chuva, a chuva… Eu vou afogar a chuva…’ […]”.

 

São 68 Contos reunidos, que Vladimir Nabokov escreveu entre os anos 1920 e 1950, a maioria deles traduzidos pela primeira vez para o português, por José Rubens Siqueira. Reunidos cronologicamente, esses contos revelam a engenhosidade do estilo de Nabokov, veia por onde correram sua criatividade inventiva e uma ironia sagaz, destiladas pelo passar dos anos.  Continue lendo

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Arquitetura

A arquitetura do viver poético

25 abril, 2014 | Por Isabela Gaglianone

“Quantos são os que sabem distinguir o moderno “autêntico” das remastigações?” (Lina Bo, 1951).

Lina por escrito reúne 33 artigos que a arquiteta Lina Bo Bardi publicou em revistas italianas, como Lo StileGraziaDomus e A – Cultura della Vita, e em periódicos brasileiros, como Habitat Diário de Notícias de Salvador. São textos que discutem novos conceitos aplicados a temas como habitação, mobiliário, museologia, restauro, educação, arte popular e políticas culturais. Os textos são ilustrados por desenhos originais, fotografias e obras gráficas de Lina Bo. Organizados pela antropóloga Silvana Rubino e pela arquiteta Marina Grinover, são escritos que clamam por uma liberdade estética e política que permanece surpreendente no Brasil.

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matraca

Segura ele

24 abril, 2014 | Por Isabela Gaglianone

Pixinguinha. Um dos maiores compositores da música brasileira, responsável por dar forma definitiva ao choro, um instrumentista excepcional, quer como saxofonista, ou flautista. Além de um arranjador brilhante. Buscando privilegiar precisamente este aspecto de seu trabalho musical, o Instituto Moreira Salles, a Imprensa Oficial do Estado de São Paulo e as Edições Sesc São Paulo lançam agora a caixa Pixinguinha – Outras pautas, que reúne quarenta e quatro partituras de arranjos de Pixinguinha, sendo, dezenove deles, escritos para suas próprias composições, como os clássicos “Lamentos” e “Ainda me recordo”, o arranjo sinfônico para “Carinhoso” e até uma composição inédita, a polca “Cercando frango”.

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história

Idade d’Ouro

23 abril, 2014 | Por Isabela Gaglianone

O livro Um tipógrafo na Colônia, do jornalista Leão Serva, é um relato histórico e jornalístico da história de seu tataravô, Manoel Antonio da Silva Serva (1760-1819), que foi o criador do primeiro jornal não-oficial publicado e editado no Brasil, em 1811, o “Idade d’Ouro”, bem como da primeira revista nacional, “Variedades ou Ensaios de Literatura”, publicada em 1812. Fundada em Salvador, sua tipografia foi a primeira de propriedade particular no Brasil-colônia.

Apesar dos feitos editoriais, bem como de seu pioneirismo, Silva Serva é hoje mais conhecido por ter popularizado as famosas fitinhas do Senhor do Bonfim, cuja origem é também descrita no livro.  Continue lendo

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matraca

Uma resposta eficiente

22 abril, 2014 | Por Isabela Gaglianone

“Tem-se a impressão de que a esquerda está imobilizada, no nível da teoria e por conseguinte no da prática, pela ideia de que deve ficar o tempo todo revolvendo as entranhas do presente em busca de sinais de catástrofe e salvação”.

Ekaterina Panikanova

Por uma esquerda sem futuro, do historiador e crítico de arte marxista britânico T. J. Clark, analisa a encruzilhada em que se encontra a esquerda, incapaz até agora de propor respostas à crise econômica e social deste início de século XXI. O ensaio foi originalmente publicado na “New Left Review” – periódico sobre política fundado na década de 1960 – e pensa a utopia e o pragmatismo no pensamento de esquerda, defendendo que a esquerda deve reinventar sua resistência através do combate à desigualdade e à injustiça social, não através de ideias utópicos. Segundo ele, se a esquerda quiser permanecer existindo como geradora de ideais políticos relevantes, deve realizar uma revisão dos totalitarismos do passado e renunciar, nesta era de consumo e crescimento insustentáveis, a toda noção messiânica de futuro.  Continue lendo

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matraca

De volta à terra

17 abril, 2014 | Por Isabela Gaglianone

O livro onde o céu descasca, de Lu Menezes, é tido como um dos livros mais bonitos publicados nos últimos anos no Brasil. Sua poesia desenvolve-se sobre cenários imperfeitos, transitórios, imensuráveis. Os assuntos que lhe servem como meio entroncam-se entre a solidão e o medo, a crença e a descrença, através de janelas a esmo, sotaques e paisagens distantes, palmeiras ao vento. Desvendando e decifrando enigmas naquilo que parecia evidente, seus versos exigem uma sensibilidade necessária para ultrapassar a compreensão.

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matraca

Metatradução

16 abril, 2014 | Por Isabela Gaglianone

Alain Badiou é considerado um dos principais filósofos franceses da atualidade e um dos mais importantes intelectuais vivos. Atualmente, é professor emérito da École Normale Supérieure de Paris, onde criou o Centre International d’Étude de la Philosophie Française Contemporaine. Sua trajetória intelectual é marcada pelo ativismo político. Não é à toa, portanto, que neste volume ele se volte a um dos textos mais importantes da história da filosofia e da humanidade, o famoso diálogo de Platão A República – texto que discute uma cidade ideal em que a cidadania seria fruto da bom exercício da práxis política. Badiou, ao retraduzir a obra e adaptá-la aos nossos tempos reafirma a universalidade do texto, removendo todas as alusões específicas à sociedade grega antiga e inlcuindo as referências culturais contemporâneas.  Continue lendo

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Artes Plásticas

Desenhos de Iberê

15 abril, 2014 | Por Isabela Gaglianone

iberecamargo

Este volume da coleção “Cadernos de desenho” dedicado a Iberê Camargo traz 111 desenhos, percorrendo mais de meio século da produção do artista: desde seus primeiros desenhos, feitos em Porto Alegre e no Rio de Janeiro, passando por aqueles realizados no período em que viveu em Roma e Paris, chegando até os desenhos feitos às vésperas de sua morte. Organizado por Lygia Eluf, o livro conta com uma introdução analítica escrita pelo professor Eduardo Kickhöfel. As imagens pertencem ao acervo da Fundação Iberê  Camargo e muitos são, aqui, publicados pela primeira vez.

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