Jorge Amado e José Saramago, na Bahia [Acervo Casa de Jorge Amado]
Com o mar por meio. Uma amizade em cartas, correspondência entre Jorge Amado e José Saramago, é um testemunho sincero da cumplicidade e da admiração que permeiam uma amizade. Os escritores conheceram-se em 1990, em Roma, quando foram jurados do prêmio União Latina; Jorge Amado, então, tinha 78 anos e, Saramago, 68. O vínculo foi tardio, mas no entanto forte e carinhoso, estendido às companheiras de ambos, Zélia e Pilar. O volume com a preciosa correspondência, trocada entre os anos de 1992 e 1998, foi lançado este ano pela Companhia das Letras, com projeto gráfico especial, conta com facsímiles das cartas, bilhetes, cartões e faxes, além de fotos do acervo pessoal dos autores.
José e Jorge travaram uma rica e singular troca, tanto pessoal, quanto em termos de discussão de ideias, sobretudo sobre a cena literária na conjuntura contemporânea. Com humor, discutiam sobre prêmios e associações de escritores, com especulações divertidas sobre quem seria, por exemplo, o próximo a ser contemplado com o Prêmio o Camões ou o Nobel – esta “invenção diabólica”, como escreveu em carta José Saramago. Jorge Amado, por exemplo, brinca, em uma carta de 1994: “Para dizer toda a verdade, devo convir que os 950 mil dólares do Nobel cairiam muito bem no bolso de um romancista português ou brasileiro, pobre de marré, marré”. Ao que o amigo, que foi laureado com o prêmio anos depois, em 1998, responde: “Não podemos viver como se a salvação de nossas duas pátrias dependesse de termos ou não prêmio Nobel. Mas como cairia bem esse dinheiro!…”.
Continue lendo →